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4 de maio de 2017

Compartilhando uma história de vida

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A USP – Filarmônica realizou no último dia 26 de abril, a partir das 20h30, no Teatro Municipal de São Carlos, o seu 76º Concerto integrado na série Concertos USP – Prefeitura Municipal de São Carlos, com regência do maestro Prof. Rubens Russomanno Ricciardi.

A programação incluiu a abertura da ópera O Barbeiro de Sevilha e Cujus animam do Stabat mater, compostas por Gioachino Rossini (1792-1868), a cantata A alegria do Maçom, de Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) e Fantasia Carmen, de Pablo Sarasate (1844-1908), tendo-se contado com a participação de Jean William Silva (tenor e ex-aluno da FFCLRP-USP), Luís Felipe Souza (baixo, aluno da FFCLRP-USP), Carlos Gonzaga (barítono) e Priscila Plata Rato (violino), da Orquestra Sinfônica Brasileira, do Rio de Janeiro.

Este evento cultural contou com os apoios de todos os órgãos dirigentes da Universidade de São Paulo (USP) e do Grupo Coordenador das Atividades de Cultura e Extensão Universitária do Campus de São Carlos – USP, numa organização conjunta do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP), Prefeitura Municipal de São Carlos, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP/USP) e, principalmente, do Departamento de Música da citada Faculdade.

Os solistas convidados

É sempre difícil escrever comentários sobre os inúmeros solistas que a “USP Filarmônica” tem apresentado no decurso de seus concertos realizados em São Carlos, já que, quando enaltecemos algum deles, sempre aparece outro… e outro… e ainda outro que, dentro de suas especificidades, consegue deixar o público em êxtase completo. Assim como o desempenho de um violinista não poderá ser comparado ao de um pianista ou violoncelista (por motivos óbvios), a atuação de um tenor também não pode ser comparada à de um baixo ou à de um barítono, nem a performance de um trompetista com a de um saxofonista. Tudo isto para demonstrar e confirmar o quanto a USP Filarmônica tem brindado o público de São Carlos com concertos de extrema qualidade e com músicos de altíssima categoria.

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Carlos Gonzaga e Luis Felipe Sousa

O concerto do dia 25 de abril não foi exceção nesses quesitos, acrescentando-se ao maravilhoso elenco da USP Filarmônica as exuberantes vozes do barítono Carlos Gonzaga e do baixo Luís Felipe Sousa, bem como a extraordinária interpretação da violinista Priscila Rato: quanto ao tenor Jean William, nossa abordagem acontecerá mais no final desta matéria, até porque ela será o nosso destaque.

Quanto ao barítono Carlos Gonzaga, é graduado em Música pela FFCLRP-USP, aluno da Profa. Yuka de Almeida Prado, sendo igualmente um exímio pianista. Tem atuado e participado como solista, preparador vocal e pianista colaborador em diversas montagens musicais e foi integrante da OperArt, da França. É solista do Coro de Câmara da OSRP e atua também como solista de diversas orquestras e grupos de câmara.

No que diz respeito a Luís Felipe Sousa (baixo), iniciou seus estudos de canto com Camilo Calandreli, sendo que no Departamento de Música da FFCLRP-USP é aluno de canto na classe da Profa. Yuka de Almeida, integrando ainda a Oficina Experimental, sob a regência de Sílvia Maria Pires Cabrera Berg e como bolsista da USP-Filarmônica, sob a regência de Rubens Russomanno Ricciardi.

A extraordinária violinista Priscila Rato foi aluna de Nayran Pessanha, Bernardo Bessler e Rudolf Werthen (este último na Bélgica), tendo-se graduado na EM-UFRJ, aluna de Michel Bessler. Em Genebra (Suíça), especializou-se na International Menuhin Music Academy, com Liviu Prunaru, Oleg Kaskiv e Maxim Vengerov. Ainda na Suíça, integrou a Camerata Menuhin. Participou também de turnê com a Gstaad Festival Chamber Orchestra, na Europa e já atuou como solista frente à Orquestra Sinfônica da Bahia (OSB), Orquestra Sinfônica da UFRJ, Camerata Menuhin (Victoria Hall de Genebra), Camerata Jovem do Rio de Janeiro e OSB-Jovem. Foi spalla da OSB-Jovem e integrante da Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Atualmente, é violinista da OSB e do Quarteto A Priori, no Rio de Janeiro.

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Jean William – uma história de superação e sucesso

Deixamos o tenor Jean William para o final desta matéria, já que ele é um exemplo de perseverança e de amor à arte, justificando que quando amamos algo, que quando nos entregamos de corpo e alma a um projeto de vida, sempre conseguimos alcançar os nossos objetivos, por mais difíceis que se apresentem os caminhos para chegar até lá.

Jean nasceu em Sertãozinho (SP) há 30 anos e foi criado em Barrinha (SP), bem perto de Ribeirão Preto. Atingido em cheio pela separação de seus pais, aos três anos de idade, Jean William foi carinhosamente criado por seus avós, pessoas muito humildes e simples que lutaram durante toda sua vida de forma árdua contra as agruras da vida. Embora as dificuldades fossem inúmeras, eles conseguiram prover a Jean William uma educação continuada até ao ensino médio. Uma das particularidades na infância de Jean William era ouvir seu avô tocar violão e talvez tenha sido a partir dessa pequena semente jean3-350que o futuro do jovem, que até aí era praticamente inexistente, começou a despontar.

Aos oito anos, Jean arriscou cantar no coral da igreja e sua voz começou a se lapidar de uma forma natural, sem qualquer esforço. Aos dez anos, Jean se apaixona pela música clássica, de tanto ouvir soar trechos italianos nos rádios da vizinhança. Em 2003, já com 16 anos e com o ensino médio concluído, ao interpretar, num festival escolar, na cidade de Sertãozinho, o tema Con Te Partiro, de Andrea Bocelli, o então desconhecido casal Julia Guidi dos Reis e Pedro Reis decidem quase que adotar Jean e, praticamente em uma atitude de mecenas, proveram a restante educação e formação artística musical do jovem. Eles o consideravam uma espécie de clone do cantor italiano Enrique Caruso.

Graças igualmente à sua ação integradora, de inserção social e no lastro da formação de grandes nomes brasileiros ao longo das décadas, coube à Universidade de São Paulo, através do Departamento de Música da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, prover o Bacharelado de Canto a este jovem, depositando sua formação nas mãos da Profª. Yuka de Almeida Prado. Posteriormente, Jean William fez especialização em Itália e o mundo se abriu totalmente para este jovem, que já cantou e encantou as principais salas de concerto do mundo – Itália, Portugal, Argentina, Emirados Árabes Unidos, Estados Unidos, Paraguai, Uruguai e Áustria, entre outras.

A simplicidade de um grande artista

Um pouco de antes de iniciar seu aquecimento vocal para participar neste concerto com a USP Filarmônica, Jean William não teve qualquer hesitação em conversar com a Assessoria de Comunicação do IFSC/USP sobre sua trajetória artística e sobre seu futuro imediato.

Questionado sobre quais os professores que o marcaram mais profundamente na sua ascensão artística, Jean referiu com extrema ênfase a sua primeira professora – Bernardete -, no pré-escolar e que, segundo ele, era uma pessoa que adorava cantar. 

Depois, já na 4ª Série, teve outra professora, de nome Marli, que era apaixonada por música e que o incentivou muito a seguir a carreira artística. Finalmente, Rose de Amorim, diretora de outra escola frequentada por Jean, marcou muito a sua vida escolar, já que ela era uma verdadeira caçadora de talentos, não só no âmbito musical como, também, em muitas outras áreas.

jean1-375Estudando sempre em escolas públicas, Jean William sublinhou a postura de seus professores: “Sempre encontrei professores que queriam e conseguiam enxergar muito além do que era tradicional numa escola; muito além de cumprir horários ou de dar matérias específicas e pré-estabelecidas, e, repare, sempre eram salas com quarenta alunos. E esse olhar diferenciado desses meus professores contribuiu em grande medida para que minha estrada começasse a ser traçada”. Ao chegar ao ensino superior, Jean sentiu o peso de se sentir colocado em um degrau abaixo dos seus mais diretos concorrentes, porque, a maioria, ou tinha estudado em conservatórios de música pelo menos dez anos, ou tinham já um percurso invejável em escolas particulares, o que era à partida uma desvantagem para o jovem artista: “Uma coisa é você prestar vestibular para medicina, direito, química, biologia, etc., outra coisa é você prestar vestibular para um curso tão específico quanto é o de música. Quando fui fazer a prova de aptidão na USP encontrei novamente – e para minha alegria – o mesmo olhar pedagógico de antigamente, aquele olhar que não se resumia a lecionar por lecionar, a cumprir metas estipuladas, horários e estatísticas: encontrei esse olhar no Prof. Rubens Ricciardi, no Prof. Fernando Corvisier e na Profaª Yuka de Almeida Prado. Foram essas três pessoas que tiveram a extrema sensibilidade de olhar um talento em estado bruto e de o lapidar de forma magistral, levando-o a uma formalização que proporcionou que eu fosse inserido na sociedade com segurança e respeito e que adquirisse a força e a determinação para galgar os íngremes degraus que iriam inevitavelmente aparecer na minha frente”, salienta Jean William.

Em relação ao público, o jovem tenor guarda sempre um carinho muito especial, não só em relação ao espectador brasileiro, que conhece um pouco sua história de vida e que associa muito o conceito de superação do ser humano, mas também o internacional: “Essa emoção se transmite de forma muito íntima. Semana passada, por exemplo, estava cantando na Catedral de São Marcos, em Milão (Itália), perante um público italiano, genuinamente europeu, que, portanto, não conhece minha história de vida; e a emoção estava ali presente, latente o tempo inteiro. Para se transformar num cantor lírico, você tem que possuir uma consciência técnica e corporal muito grande e, no meu caso, a linguagem da arte ter que estar altamente desenvolvida, por forma a que se apresente além da voz; ela tem que estar no brilho dos olhos, nos gestos, no diálogo perfeito que você estabelece com seu público e onde não existem palavras. E é essa sintonia que classifica o contato da minha arte com o meu público”, enfatiza Jean.

Quanto ao futuro próximo de Jean William, que acabou de regressar da Europa, os próximos dois meses estão já ocupados com diversas apresentações no Brasil, incluindo uma no Teatro Municipal de São Paulo, sendo que o jovem tenor viajará de seguida para Nova Iorque, para fazer um curso de canto. De lá partirá com destino à cidade italiana de Pesaro, seguindo-se Viena e Salzburgo (Áustria) e Moscou (Rússia), regressando depois a São Paulo.

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Em relação ao tenor italiano Enrique Caruso, cujas semelhanças com a voz de Jean William relatamos nesta matéria, o jovem artista não se conteve em lançar duas ou três gargalhadas, tendo comentado: “É claro que Enrique Caruso me marcou muito. Quando Dona Julia Guidi dos Reis me falou pela primeira vez que eu era a reencarnação de Caruso, de fato eu, em primeiro lugar, não sabia sequer o que era reencarnação e muito menos quem era Caruso. Depois, quando estudei a história desse grande tenor e sabendo que ela estava me comparando com um dos maiores ícones e mestres da cultura operística italiana, para mim passou a ser um motivo de grande orgulho e eu espero ter a sorte de fazer um pouquinho só da carreira que Caruso fez.

(Fotos: USP – Filarmônica / André Estevão – FFCL-RP/USP e Jean William / Rui Sintra)

Assessoria de Comunicação – IFSC/USP

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