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29 de junho de 2015

Momentos de emoção em mais um concerto

Sob a regência do Maestro Prof. Rubens Russomano Ricciardi, a USP – Filarmônica realizou mais um concerto USPLEADno Teatro Municipal de São Carlos, no passado dia 24 de junho, pelas 20 horas, inserido na série Concertos-USP / Prefeitura Municipal de São Carlos. Nesse concerto – que lotou por completo o Teatro Municipal -, dividido em duas partes, a USP – Filarmônica brindou o público, primeiramente com as obras Abertura da Ópera – As Bodas de Fígaro KV 492 (Viena – 1786) e Sinfonia nº4l “Júpiter – I – Allegro vivace / II – Andante cantábile / III – Menuetto – Allegretto / IV – Molto alegro”, ambas de Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), naquilo que se pode classificar como uma interpretação de altíssimo nível.

Após o intervalo, foi a vez da apresentação do Concerto para piano e orquestra nº 3 em Dó menor Op. 37 (Viena – 1803): I – Allegro con brio / II – Largo / III – Rondo – Allegro, de Ludwig van Beethoven (1770-1827), com uma suprema interpretação do solista convidado, pianista Prof. Caio Pagano.

USPFILA-1

A sensibilidade na execução, a profunda inspiração demonstrada por Caio Pagano cada vez que exigia das cordas do piano aquilo que elas não estavam habituadas a dar, fez com que, por vezes, o artista transformasse a alternância da sonoridade de seus solos, ora em verdadeiras súplicas musicais, ora em protestos lancinantes bem característicos de USPFILA-2Beethoven, todos eles amparados pelo extraordinário, sóbrio e eficiente acompanhamento da USP – Filarmônica, supremamente dirigida pelo Maestro Rubens Russomano Ricciardi. E isso provocou alguns (vários) momentos em que um clima inebriante de emoção fluísse pelo Teatro Municipal de São Carlos, contagiando um público que se rendeu a um verdadeiro monstro artístico, tendo exigido dele um justo e mais que merecido bis, que foi atendido com simpatia e humildade pelo pianista.

O Prof. Caio Pagano é o tipo de pessoa que é difícil não se gostar dela logo à primeira vista. Simpático no diálogo, aberto no sorriso e com olhar sereno e confiante, quase paterno, Caio Pagano é extraordinariamente organizado, principalmente na sua vida pessoal, preservando os seus horários de descanso, de meditação, de estudo, de diversão, de reflexão, de ensaio… De êxtase.

Caio Pagano iniciou seus estudos em piano com Lina Pires de Campos, na Escola Magda Tagliaferro, entre 1948 e 1958, tendo em 1954 iniciado sua carreira como recitalista e, logo em 1956, assumido a responsabilidade de solista frente à OSB – Rio de Janeiro, sob a regência de Eleazar de Carvalho. Completou seus estudos com Magda Tagliaferro (Paris e Salzburg) em 1958, Moises Makaroff (Buenos Aires) 1961, Sequeira Costa (Lisboa) 1964, Helena Costa (Porto) 1965, Karl Engel (Hannover) 1966-1968, e com Conrad Hansen (Hamburgo) 1968-1970. Em 1984 foi professor no Departamento de Música da ECA – USP. Em 1981, Caio Pagano se transfere para os Estados Unidos a fim de realizar seu doutorado em música, pela Universidade Católica da América, grau que obtém em 1984, no mesmo ano no qual se torna PAGANO-1professor visitante da Universidade Cristã do Texas (1984-1990) e, posteriormente, na Lübeck Hochschule (1990). Em 1996 inicia sua atuação como professor da Universidade do Estado do Arizona, cargo que ocupa até hoje. Dentre os prêmios que recebeu, destaca-se o Prêmio Eldorado de Música. Desde 1990 é um artista Steinway, além de ter sido condecorado com o título de Comendador da Ordem do Ipiranga pelo Governo do Estado de São Paulo (1981).

Mesmo antes do concerto, quando o Prof. Caio Pagano adentrou pelo Teatro Municipal de São Carlos para um curto ensaio, seus olhos de repente repousaram, com súbita alegria, no piano em que iria tocar. Um sorriso se aflorou em seus lábios, enquanto suas sobrancelhas se erguiam lentamente, acompanhando seu visível semblante de satisfação. Porquê???

O reencontro com um velho companheiro

Em 1962, o jovem Caio Pagano conquistava, no Brasil, o Prêmio Nacional Eldorado, fato que trouxe uma imensa publicidade ao pianista, já que, onde quer que ele estivesse, a imprensa estava presente. Pagano estudava num piano modesto que tinha em casa e, nessa época, seu pai, que já tinha uma idade de alguma forma avançada, frequentava com frequência PAGANO-2uma roda de amigos que costumavam se encontrar num bairro típico da cidade de São Paulo. Integrado nesse grupo havia um judeu, oriundo da Europa central, bem posicionado na vida, cuja esposa tocava piano, tendo a certa altura comentado com os restantes amigos que decidira comprar um piano de cauda longa, um Steiner de concerto, para ofertar à esposa.

Seis meses depois a esposa faleceu e o judeu, completamente destroçado pelo desgosto, decidiu desfazer-se do piano, tendo perguntado ao pai do jovem Pagano se queria adquiri-lo. Embora soubesse que seu filho necessitava de um instrumento de qualidade para seus estudos, o pai de Pagano recusou, já que não tinha recursos suficientes para comprar um piano tão valioso. O amigo judeu acabou por convencer o pai do jovem Pagano a comprar o citado piano por uma quantia muito, mas muito inferior ao que o instrumento valia e, com orgulho e uma felicidade imensa, Caio Pagano decidiu colocar sua assinatura no interior do instrumento, marcando-o como seu.

Dois anos após ter adquirido o piano, o jovem Pagano começou a viajar pela Europa, em estudos, e em 1965 decidiu estabelecer- se nesse continente. Necessitando de dinheiro para enviar para o filho, por forma a viabilizar os estudos do jovem, o pai de Pagano decidiu vender o piano, que naquele momento jazia silencioso em sua casa; e o comprador foi… O Teatro de São Carlos, naquela época. Quatro anos depois, o Prof. Caio Pagano, que então residia na Alemanha, viu uma noticia na TV relacionada com um acidente que tinha acontecido no Brasil, num teatro, onde o palco tinha cedido e literalmente engolido um coro inteiro, junto com um piano. Anos mais tarde, em visita ao Brasil, soube que esse acidente tinha acontecido exatamente no Teatro de São Carlos e que o piano que tinha sido seriamente danificado, era de fato o dele. Cinquenta anos depois, o Prof. Caio Pagano vem ao Teatro Municipal de São Carlos para um concerto com a USP – Filarmônica, marcado para o dia 24 de junho de 2015 e, para sua PAGANO-3surpresa, ao subir no palco, reencontrou seu velho amigo piano, perfeitamente restaurado, pronto a proporcionar-lhe mais uma noite de sucesso.

Com alguma emoção, o Prof. Caio Pagano comentou que momentos antes do concerto, ao fazer um pequeno ensaio, passou por sua cabeça, de forma vertiginosa, o filme quase inteiro de sua vida profissional: cada tecla que ele pressionava, cada som que o piano produzia era como se fosse um frame na sua memória – lembrou-se de sua casa, de seu pai, de seus amigos, dos momentos inesquecíveis vividos a tocar aquele piano. Foi quase como uma inspiração para sua atuação no Teatro Municipal de São Carlos, obviamente coberta de sucesso.

No dia seguinte ao concerto, o Prof. Pagano não resistiu e decidiu voltar ao Teatro Municipal de São Carlos para tentar encontrar sua velha assinatura, mas ela estava escondida algures sob o novo material que tinha sido colocado quando do restauro do piano. Para a posteridade, o Prof. Caio Pagano voltou a assinar seu nome no velho amigo, desta vez com uma dedicatória.

O Prof. Caio Pagano prometeu voltar a São Carlos em breve.

PAGANO-4

Tal como aconteceu nas anteriores edições, este concerto inserido na iniciativa Concertos USP / Prefeitura Municipal de São Carlos contou com os apoios do Reitor da Universidade de São Paulo, Prof. Marco Antonio Zago, Vice – Reitor, Prof. Vahan Agopyan, Pró-Reitor de Graduação, Prof. Antonio Carlos Hernandes, Pró-Reitora de Pós-Graduação, Profª. Bernadette Dora de Melo Franco, Pró-Reitora de Cultura e Extensão, Profa. Maria Arminda do Nascimento Arruda, do Pró-Reitor de Pesquisa, Prof. José Eduardo Krieger, que esteve representado neste concerto pelo Prof. Hamilton varela (IQSC/USP), do Grupo Coordenador de Cultura e Extensão Universitária do Campus USP de São Carlos, através do seu presidente, Prof. João Marcos de Almeida Lopes, Presidente da Comissão de Cultura e Extensão Universitária, do Instituto de Física de São Carlos, Prof. Valtencir Zucolotto, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP-USP), através do seu Diretor, Prof. Fernando Luís Medina Mantelatto, e, finalmente, do Diretor do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP), Prof. Tito José Bonagamba, que em conjunto com o Coordenador de Artes e Cultura da Prefeitura Municipal de São Carlos, Roberto Mori Roda, continuam a assumir a responsabilidade pela concretização deste projeto.

Julho é mês de férias, por isso a iniciativa Concertos-USP / Prefeitura Municipal de São Carlos só regressará no próximo mês de agosto, com novo concerto marcado para o dia 26 e cuja programação será divulgada em breve.

Assessoria de Comunicação

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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