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3 de janeiro de 2024

Guerra dos semicondutores – Brasil versus China / EUA / Taiwan / Singapura / Coreia do Sul

 

(Crédito – Automotive Business)

 

Taiwan tornou-se o centro da disputa política e econômica entre China e Estados Unidos e a área da produção de semicondutores e chips apresenta-se atualmente como uma nova queda de braço. Os semicondutores são peças fundamentais para a expansão tecnológica mundial, mas ter acesso a chips é um desafio, já que Taiwan produz a maioria esmagadora dos chips mais avançados do mundo, causando um verdadeiro imbróglio entre China e Estados Unidos.

Se recuarmos um pouco no tempo, na década de 70 do século passado, Brasil, Singapura e Taiwan eram países que estavam colocados no mesmo patamar em termos de desenvolvimento tecnológico na área de semicondutores, tendo como grandes atores mundiais, nessa indústria, os Estados Unidos e a Europa, com um enclave especial protagonizado pelo então bloco da União Soviética, com a China de alguma forma estagnada, muito centrada na sua revolução cultural. Nesse período, Singapura e Taiwan começaram a cogitar que o desenvolvimento de semicondutores poderia ser o futuro, independente de a indústria de computadores estar concentrada e distribuída por grandes marcas nos Estados Unidos. Com mão de obra extremamente barata, Taiwan e Singapura não tiveram qualquer dificuldade em investir na área de processamento, tendo atraído grandes empresas ocidentais, que entretanto se estabeleceram no continente asiático.

Embora pequenos em extensão geográfica, Taiwan e Singapura não abandonaram esses investimentos, estratégias que foram seguidas de perto pela Coreia do Sul e com a China observando. Por seu turno, a ex-União Soviética foi perdendo terreno nessa área, algo que ficou agravado com a queda do “Muro de Berlim”. “A ex-União Soviética se manteve quase parada, não conseguiu competir. Por quê? Embora ela detivesse conhecimento, porque ela já tem uma tradição de gerar conhecimento, faz muito tempo, nessa parte dos semicondutores ela é praticamente nula. Porque toda essa área de novas tecnologias, de computação, é baseada em mercado, e, se você não tem mercado, não tem desenvolvimento e sem isso você não tem produto. Nesse período, empresas americanas como a Intel e Motorola, entre outras, começaram a desenvolver cada vez mais circuitos de alta performance e a ex-União Soviética não conseguiu acompanhar esse desenvolvimento, tendo estagnado na designada “velha eletrônica”.

Ascensão da China

(Crédito – Asia Times / Screengrab / New Video)

No início deste século começaram a aparecer algumas modificações na tecnologia, com o desenvolvimento de processadores de alta performance e que hoje são responsáveis pela inteligência artificial. “Como é que você faz hoje Inteligência Artificial? Você faz isso com os processadores de última geração. E são três as principais empresas que fazem isso no mundo: A TSMC (Taiwan Semiconductor Manufacture Company), de Taiwan, que como citei acima nasceu na década de 80, a Intel, nos Estados Unidos, e a Samsung, na Coreia do Sul. Curioso verificar que dentro da TSM 90% dos equipamentos – talvez mais – não são de Taiwan. Ou são americanos, ou europeus. Contudo, essa companhia detém a tecnologia, ela consegue comprar todos esses equipamentos e consegue desenvolver todo o processo lá. TSMC, a Samsung e a Intel são as únicas no mundo que desenvolvem a chamada fabricação de última geração – litografia de ultravioleta profundo, que consegue fabricar chips de em até 3 nanômetros”, em escala industrial enfatiza o professor.

Segundo o Prof. Euclydes Marega Junior, a China rapidamente se desenvolveu ao pegar esse “bonde”, tendo, de uma forma extraordinária, por um lado, agregando tecnologia de fora, e, por outro, desenvolvendo, em simultâneo, a sua própria tecnologia. Ela já está no circuito espacial, no do de bens de produtos de alta tecnologia, bem como em todos os nichos que os Estados Unidos e a Europa dominavam. “Ela vai conseguir liderar essa tecnologia? Vai, sim… É só uma questão de tempo. Porque se você detém equipamentos que conseguem desenvolver cálculos sofisticados, desenvolver Inteligência Artificial, você pode dominar através do conhecimento. E os Estados Unidos estão de olho nas movimentações da China, já que a ideia é tentar fazer com que ela retarde o mais possível chegar nesse nível avançado, algo que vai ser muito difícil de conseguir”, sublinha o Prof. Marega Junior.

A situação no Brasil

Prof. Euclydes Marega Junior

A posição do Brasil, nesse período, ficou marcada pela decisão do país não ficar para trás em termos da concorrência, conforme explica o Prof. Euclydes Marega Junior. “Na década de 70 do Século XX, o Brasil, através do governo, lançou uma empresa – Telebras – na área de telecomunicações, que começou a desenvolver muitas pesquisas na parte de semicondutores. Contudo, a partir de um determinado momento, enquanto Taiwan progredia e a China dava os seus primeiros passos decisivos, o Brasil estagnava, principalmente após a década de 1970 e devido à grande crise do petróleo. Dependente do ouro negro, o Brasil esqueceu tudo o resto e investiu forte nessa área.

No Brasil, a década de 80 é chamada “década perdida” em todos os aspectos. O Brasil tentou fazer uma reserva de mercado, mas ela foi extremamente ineficaz, foi praticamente um desastre. O Brasil tentava desenvolver produtos nacionais, mas com toda uma tecnologia que era importada”, sublinha o docente. A década de 90 foi marcada pela “explosão” da Internet, pela fabricação de computadores pessoais sofisticados para essa época, algo que até aí era dedicado apenas aos meios acadêmicos, militares, segurança, governamentais, mas não para o grande público. Explodia, então, a comunicação móvel. “Essa evolução criou um ambiente muito favorável; ou seja, as indústrias começaram a produzir mais, a desenvolver e agregar novos conceitos tecnológicos. Os Estados Unidos perderam um pouco do seu papel de detentor da produção, já que o país decidiu terceirizar tudo para a Ásia, continuando, por outro lado, a manter o seu status de gerador de conhecimento. A escolha da Ásia para esse fim teve um objetivo: era muito mais barato enviar tudo para lá do que produzir nos Estados Unidos. O Brasil ainda tentou dar uns passos na década de 90 na parte de materiais avançados, mas não deu certo. O governo acabou com a Telebras e poucas empresas de semicondutores se instalaram no nosso país. Com esse cenário, era bem mais fácil o Brasil comprar chips e montar equipamentos na Zona Franca de Manaus, com algum incentivo.

Quanto ao Brasil, o pesquisador afirma que o nosso país não produz nada relativamente a essa área de interesse, sendo que todas as empresas existentes hoje, no Brasil, dedicam-se a fazer um processamento bem baixo. “São empresas que, por exemplo, vêm da Coreia do Sul e Taiwan e que se instalaram aqui para se beneficiarem de algumas leis de incentivo fiscal. Do ponto de vista de semicondutores, não existe nenhum país na América do Sul que se destaque. Todos estamos no mesma barco. Talvez no Brasil até exista um pouco mais de desenvolvimento de fábricas, mas do ponto de vista de dependência tecnológica, todos estamos no mesmo barco furado”, conclui o pesquisador.

Rui Sintra/Adão Geraldo – Assessoria de Comunicação – IFSC/USP

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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