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14 de maio de 2015

Geografia e História do Universo

No início de tudo, há mais ou menos 14,3 bilhões de anos, o Universo estava num estado totalmente caótico. Ao longo do tempo, a força da gravidade foi estabelecendo uma ordem, que atualmente se manifesta por meio de inúmeras galáxias, estrelas, planetas e assim por diante.

Hoje, sabemos que o nosso sistema solar é apenas um entre bilhões de sistemas planetários semelhantes na nossa galáxia – a Via Láctea – e também sabemos que essa UNIVERSO-350mesma Via Láctea é apenas uma entre uma infinidade de galáxias no universo.

O Prof. Dr. Raul Abramo, do Instituto de Física da USP (IFUSP) é um pesquisador que, quando possível, explana, através de palestras dedicadas ao público em geral, o panorama daquilo que ele considera ser a diversidade ecológica do universo, utilizando a expressão de breve excursão pelo zoológico de objetos astronômicos, tais como estrelas canibais, buracos negros supermassivos e enxames de galáxias, abordando, igualmente, sobre os principais mistérios da cosmologia na atualidade, que são as misteriosas substâncias conhecidas como matéria escura e energia escura.

Raul Abramo, que participou recentemente de mais uma edição do programa Ciência às 19 Horas, promovido pelo IFSC/USP, explicou um pouco aquilo que chama de diversidade ecológica do Universo, que, para ele, é um panorama pouco familiar para a maioria da população, já que ela está mais acostumada a assistir a programas relacionados com a natureza do seu próprio planeta – Terra – e a compreender um pouco mais algumas particularidades dele, como, por exemplo, a complexidade do deserto do Saara ou a imensidão e os mistérios contidos no fundo dos oceanos.

Abramo salientou que, para ter uma visão do Universo, as pessoas precisam ser instruídas a terem simultaneamente uma visão mais abrangente e completa do lugar comum: existem escalas de tempo e de tamanho diferentes, objetos diferentes, enfim, tudo é diferente: As pessoas não têm noção de qual é a grandeza e nem o que vive na dimensão do Universo; o que as coisas estão fazendo lá, qual a dinâmica daquilo que está acontecendo, como é que os objetos evoluem… Assim como você tem um ambiente que lhe é familiar, que é o do nosso planeta Terra, onde as coisas nascem, crescem, morrem, e são substituídas por outras,o mesmo acontece no Universo, só que em uma escala quase que incompreensivelmente maior, sublinhou o pesquisador.

Contudo, o curioso é que a forma como os cientistas observam o Universo – de maneira muito particular -, contempla a história no tempo e a história no espaço, que estão misturadas, ou seja, as duas são uma única coisa; ao mesmo tempo em que existem limites, aqui na Terra, os cientistas recebem milhões de informações que chegam ininterruptamente, vindas dos confins do universo, criando perspectivas ilimitadas.

Por exemplo, abramo325as galáxias mostram que sua distribuição no Universo é muito particular e que guarda uma espécie de memória que registra como ele começou, numa espécie de sopa primordial, ou seja, de uma forma altamente caótica. Podemos perguntar como é que, em cerca de 15 bilhões de anos, o Universo conseguiu arrumar tudo. De fato, quem fez isso e quem continua a fazer tudo isso é a própria força da gravidade, cuja teoria moderna sobre esse tema está comemorando cem anos. A história sobre como essa sopa primordial – uma ótima expressão inventada pelo russo George Ganov -, como esse caos começou, gerou tudo o que está aí, com a constatação de que há uma diversidade absurda, comparativamente à da Terra. O Universo tem infinitas outras terras com essa diversidade e tudo isso nasceu de um estado caótico e extremamente simples, pontuou Abramo.

Bilhões de sistemas planetários semelhantes à nossa galáxia é uma grandeza que não dá para imaginar e difícil de entender, embora a utilização da palavra bilhões seja uma conjectura, já que o horizonte mais real poderá ser o infinito. Até onde se sabe, o Universo é infinito no espaço, mas, por outro lado, ele não é infinito no tempo, o que significa dizer que a geografia do Universo pode ser infinitivamente diversa, mas a história dele não, sendo quase certo que ela tenha cerca de 15 bilhões de anos. Segundo Abramo, não há um fim previsto para o Universo. Não há nenhuma indicação de que o Universo vá terminar com uma explosão ou implosão. Só na nossa galáxia deve haver milhões de terra; imagine nos outros bilhões e bilhões de galáxias que já conhecemos, imagine, ainda, nos outros muitos bilhões que ainda não vimos, mas que iremos ver um dia, e nos possíveis bilhões que nunca chegaremos a ver, sublinhou Raul Abramo.

Já no que diz respeito a matéria escura e energia escura, o cientista da USP afirma que pouco há a dizer sobre elas, até porque muito pouco se sabe. Os átomos – a matéria normal – representam apenas 4% de tudo o que existe no Universo, sendo que os 96% restantes são formas de matéria e de energia que se desconhece por completo. Na teoria atual, que descreve o Universo, existem indicações muito fortes de que estão faltando muitas coisas, enquanto muitas pessoas afirmam que a teoria está errada. Para Abramo, ambas as hipóteses são possibilidades interessantes de se considerar, porque falta uma teoria melhor e, claro, muita observação. Para você ter uma ideia, foi só nos últimos dez anos que conseguimos avançar consideravelmente, com profundidade, conhecendo essa geografia do Universo. Na verdade, há muito tempo que sabemos que o Universo se expande, que teve um início muito quente e denso há alguns bilhões de anos, mas, em detalhe, só nos últimos dez anos é que tivemos constatações claras. Então, é muito recente esse conhecimento detalhado sobre o Universo. A grande diferença não foi do lado teórico, mas foi do lado das observações, graças aos avanços da tecnologia, pois sem isso não estaríamos com toneladas de dados nas mãos, observações galxia350e descobertas, inclusive com a descoberta de que o universo está se expandindo de maneira acelerada. Então, tem tudo a descobrir ainda. Essa imagem não está terminada. Ainda temos tudo para fazer, enfatizou o pesquisador.

O avanço das observações do Universo está diretamente relacionado com o lançamento do telescópio Hubble, que está completando 25 anos de vida útil, mas em termos de cosmologia o seu papel foi limitado. Ele foi importante porque forneceu imagens maravilhosas e detectou objetos com uma precisão nunca antes conseguida. Contudo, para conhecer a grande escala do cosmos é necessário ter outros tipos de instrumentos, conforme exemplificou Abramo. Se você segurar uma moeda de dez centavos com a cara a um metro, o pingo do i corresponde ao tamanho do campo de visão do Hubble. Então, o Hubble pode permitir conhecer muito bem uma região muito pequena, onde tem uma, duas ou algumas galáxias muito localizadas, enquanto que para conhecer o cosmos é necessário observar grandes áreas do céu. Quer isto dizer que necessitamos de outros tipos de telescópios, que já começaram a ser construídos nos últimos quinze anos e que cada vez mais estão se tornando importantes.

O Chile é o lugar onde hoje existe um maior número de telescópios. Tem outros países que também possuem telescópios com a característica de conseguir mapear grandes volumes do universo rapidamente e isso permitiu grandes avanços. O Brasil tem várias iniciativas em curso, nesse sentido, sendo parceiro em vários projetos internacionais que se dedicam ao levantamento de informações sobre o cosmos, o que permite ao nosso país participar de grandes experimentos e observações do universo.

O certo é que vamos ter que aguardar um pouco mais para ver até onde a pesquisa do Universo nos pode levar e quais são as novas fronteiras que estão por descobrir.

Assessoria de Comunicação

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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