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5 de junho de 2017

Físicos explicam a relevância de se estudar estruturas sociais

A fim de verificar a relevância de se estudar as estruturas sociais, pesquisadores do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP) utilizaram redes complexas* para analisar a interação entre indivíduos em e-mails, Facebook, Twitter e outras plataformas online. Segundo os cientistas, às vezes agimos de modo inconsciente e, dependendo de quem é o nosso interlocutor e do nível de conhecimento que temos sobre um assunto, alteramos nosso linguajar.

Um dos objetivos do estudo foi estrutura_social_b_300verificar a estabilidade das características topológicas** das redes complexas, que foram aplicadas na análise das interações humanas. Imagine vários pontos ligados por arestas, compondo uma enorme rede. Nesse trabalho, as redes complexas foram criadas a partir de indivíduos conectados na internet: os super conectados eram chamados de hubs; aqueles que se conectavam muito pouco eram os periféricos; os restantes eram os intermediários. As vértices das redes correspondiam aos indivíduos, enquanto as arestas representavam o contato virtual estabelecido entre eles.

No caso dos e-mails, por exemplo, sempre que um indivíduo respondia a uma mensagem, uma aresta era estabelecida entre ele e quem lhe enviava o e-mail inicial; na análise, via Facebook, as conexões correspondiam a amizades ou eram criadas quando se curtia ou escrevia um comentário em uma publicação; na rede constituída a partir do Twitter, as arestas eram estabelecidas com base no compartilhamento de tweets (retweets).

Assim, pôde-se observar uma forte estabilidade nas curvas dos gráficos referentes às redes complexas. Para o Dr. Renato Fabbri, que desenvolveu a pesquisa durante seu doutorado no IFSC, esse resultado é impressionante, sobretudo porque geralmente a mesma pessoa podia ser hub, intermediária ou periférica em redes diferentes ou inclusive em uma única rede – neste caso, em momentos ou escalas diferentes.

Segundo Fabbri, a literatura científica explica que a chance de um indivíduo se conectar com um participante que tem mil contatos (por exemplo, em uma plataforma virtual) é mil vezes maior do que a de se relacionar virtualmente com um participante que tem apenas uma conexão. Isso significa que, quanto mais pessoas temos em um site de relacionamento, maior é a possibilidade de outros indivíduos se conectarem conosco. Mas, para o pesquisador, a explicação é contraditória pois, quando um hub se conecta conosco, por exemplo, ele pode nos dar pouca atenção, porque tem muitas conexões.

Fabbri sugere que a estabilidade das curvas não se restringe apenas às interações sociais: ela está presente em muitas redes complexas que envolvem lei de potência, uma equação que auxilia na descrição de diversos fenômenos naturais, como a gravidade e a distribuição de intensidade de terremotos.

Sendo assim, essa estabilidade se refere a uma tendência natural e pode ser observada também em nosso próprio comportamento que, segundo Fabbri, é mais inconsciente do que consciente. Para reforçar essa suposição, ele cita o controle corporal: será que controlamos conscientemente o ritmo de nossa respiração, a entonação de nossa fala ou todos os músculos de nosso corpo? “A gente acha que tem muito livre-arbítrio; que a gente escolhe o que a gente está fazendo. Mas parece que não é bem isso”.

Outro objetivo do trabalho foi entender a relação entre a topologia das redes complexas e os textos dos indivíduos, e observou-se uma diferença na escrita de hubs, intermediários e periféricos: quando uma pessoa estava na posição de hub, ela usava um linguajar específico, mas quando passava a ser periférica ou intermediária, seu estilo de linguagem se alterava. Para os especialistas, isso sugere que modulamos o linguajar dependendo do grupo social do qual participamos. “Se eu estou em um ambiente em que conheço todo mundo e conheço muito sobre o assunto, eu uso um linguajar muito diferente do que uso quando eu sou periférico ou intermediário”.

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Fabbri diz ainda que os periféricos tendiam a usar mais substantivos do que quando estavam na posição de hubs, classificação em que geralmente se escrevia mais verbos, adjetivos e advérbios. Aliás, sentenças e palavras menores foram outras características verificadas nas mensagens escritas por indivíduos super conectados.

Essa observação, diz o pesquisador, corrobora informações encontradas na literatura científica, que por sua vez caracteriza os periféricos como indivíduos que trazem diversidade aos seus grupos: “Se você tem mais substantivos trazidos pelos periféricos, eles estão trazendo assuntos que acham relevantes àquelas redes”, explica, concluindo que “os hubs, nesse caso, também fazem sentido, porque têm mais verbos, adjetivos e advérbios. Ou seja, eles propõem ações em cima dos substantivos e qualificam os assuntos”.

O artigo de Renato Fabbri foi supervisionado pelo Prof. Dr. Osvaldo Novais de Oliveira Jr. (IFSC/USP) e está disponível na íntegra AQUI.

*As redes complexas têm sido usadas para a observação de padrões existentes entre indivíduos e outras coisas. Pode-se criar uma rede complexa para estudar conexões entre alimentos, animais, neurônios, aeroportos etc.;

**Nesse caso, a conexão entre os indivíduos online.

Assessoria de Comunicação – IFSC/USP

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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