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4 de novembro de 2021

Ex-aluno de graduação, mestrado e doutorado do IFSC/USP e a conquista de vaga de professor nos EUA

 

Defesa de doutorado de Denis Candido

 

O Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP) tem, em seu histórico, a passagem de inúmeros alunos que se destacaram em seus respectivos cursos e que atualmente estão em diversas posições profissionais de prestígio, muitos deles em situação de liderança. Esse desígnio, que é próprio da Universidade de São Paulo, tem sido também uma constante ao longo dos anos em nosso Instituto, que, ano após ano, vê singrar no panorama educacional e científico novos valores detentores do DNA/USP.

Denis Ricardo Candido (31) – ex-aluno de física teórica de nosso Instituto – é um exemplo daquilo que salientamos acima. De forma rebelde  em sua juventude – como ele próprio admitiu em anterior entrevista concedida à Assessoria de Comunicação do IFSC/USP (VER AQUI) – soube, ao longo do tempo, conter seus ímpetos juvenis e, com serenidade, assumir em seu caminho de vida um papel importante na Academia, tendo-se tornado um aluno exemplar  com uma formação plena em nosso Instituto – graduação, mestrado e doutorado – sob a batuta de seu orientador, o docente e pesquisador Prof. José Carlos Egues de Menezes (IFSC/USP).  Vale ressaltar que os trabalhos realizados durante o doutorado do Denis foram publicados (Denis como primeiro autor) na prestigiada revista Physical Review Letters (PRL/2018) e também na Physical Review B (PRB/2018, Rapid Communication, “Editors’ Suggestion”).

De uma posição de relevo em seu pós-doutorado, realizado na Universidade de Chicago e posteriormente na Universidade de Iowa, e devidamente mencionada na entrevista acima citada, Denis viu todo o seu trabalho em prol da ciência ser reconhecido internacionalmente, ao ser convocado para assumir uma vaga de professor na Universidade de Iowa – Estados Unidos.

Este feliz desfecho se deve à participação de Denis em inúmeros colóquios, seminários e conferências internacionais, mostrando suas ideias, estudos e projetos, graças às interações, parcerias e trabalhos científicos realizados com nomes importantes das Academias americanas e europeias, bem como a seu alto potencial científico, que abriram definitivamente as portas para que nosso ex-aluno se notabilizasse e começasse a atrair para si as atenções da comunidade científica internacional. No começo deste ano de 2021, ainda no decurso de seu pós-doutorado, ao saber que a Universidade de Iowa estava procurando por um jovem cientista de excelência em início de carreira para ocupar uma vaga de docente, Denis não hesitou e avançou. “Essa procura por jovens cientistas de excelência em início de carreira é comum nos Estados Unidos e a concorrência é feroz, pois aqui tem gente do mundo inteiro. Quando surgiu essa única vaga na Universidade de Iowa resolvi encarar e aí dei um colóquio para todo o departamento de física da Universidade de Iowa. Todos os meus conhecimentos adquiridos em estudos anteriores, em trabalhos publicados, bem como a experiência adquirida ao longo de minha curta carreira, em diversas áreas da física teórica, foram determinantes para que os acadêmicos desse departamento constatassem que tudo o que tinha apresentado era de relevância e estava em consonância com os diversos trabalhos que estavam sendo desenvolvidos na universidade. Os docentes me viram como um candidato forte e bom para assumir essa vaga, tendo-me convocado para uma série de entrevistas. Como parte do processo, houve uma votação entre os acadêmicos e, por unanimidade, fui convidado para essa vaga de professor, que ocuparei formalmente a partir de janeiro de 2022”, comemora Denis Candido.

O ex-aluno do IFSC/USP confessa que não esperava virar professor nos Estados Unidos, sendo que a intenção dele era passar um período na Universidade de Iowa e regressar ao Brasil para constituir um grupo de pesquisa e ajudar a ciência brasileira a progredir. Para ele “a ficha ainda não caiu!”. Com este novo rumo em sua vida, Denis – que está acompanhado por sua esposa na cidade de Iowa City, a cinco minutos da universidade – confessa que não tem atualmente intenção de voltar, já que a situação social, política e econômica, bem como a falta de apoio e desvalorização da ciência, “impede” que isso aconteça. “Vou ficar, por enquanto. Aqui vou ter a oportunidade de investigar e expandir minhas próprias ideias e projetos, fazer pesquisa de ponta e com mais recursos”, sublinha Denis, que também lê a situação como uma oportunidade para estreitar laços entre grupos científicos americanos e brasileiros – visando parcerias no desenvolvimento científico.

Denis Candido reforça que o papel do físico teórico no mundo atual é tão ou mais importante que o do físico experimental e o caminho é procurar gente que pense exatamente na física teórica como uma porta ampla para o desenvolvimento científico global. “Não investir em física teórica é um erro, pois você vai passar a vida correndo atrás de um desenvolvimento científico sem chance de o alcançar. Exemplos clássicos de sucesso são muitos, incluindo Estados Unidos, China, países da Europa e Japão. No entanto, o Brasil não segue esses exemplos, continuando estagnado e sem preocupação alguma em investir e ver a ciência como algo que vai melhorar a situação de nosso país como um todo”, enfatiza Denis, que homenageia e enaltece seu mestre de sempre, o Prof. José Carlos Egues, detentor de importantes e inovadoras ideias para fazer ciência.

Uma conquista não se faz sozinho

Denis reforça também a importância que diversas pessoas tiveram durante sua trajetória de vida, tanto pessoal quanto cientifica, até os dias de sua contratação como professor nos EUA.

“Tudo começou a decolar quando eu entrei para o grupo do Prof. Egues. O Prof. Egues é um cientista que me deu a oportunidade de me aproximar de diversos assuntos relevantes da física, de conhecer e me aproximar de grandes nomes da física teórica, participar de diversas conferências e colaborações internacionais, começando no meu mestrado e passando pelo doutorado, onde também tive o privilégio de, nesse período ter contado com o  Prof. Michael E. Flatté, meu atual supervisor de pós-doutorado”, recorda Denis, que, durante seus mestrado e doutorado, era incentivado a participar de diversas conferências e colaborações com grupos do exterior.

Embora muitos desses eventos tivessem ocorrido com apoio financeiro de órgãos governamentais nacionais ou internacionais, Denis lembra que para muitas viagens não existia dinheiro público para suporte, nem apoio algum. “Lembro de uma vez que não tínhamos dinheiro para viajar, mas o Prof. Egues acabou pagando parcialmente, do próprio bolso, a passagem e hospedagem de um mês em diversos países da Europa, incluindo Áustria, Suíça e Espanha, onde atendemos a diversas conferências e também colaboramos com grupos locais” – o que evidencia o cuidado e preocupação do Prof. Egues com seus estudantes.

“De maneira geral, toda a minha experiência dentro do grupo dele foi crucial para o meu desenvolvimento como cientista. Desde o começo, o inglês era uma prioridade e mesmo o meu não sendo bom – apesar do investimento e incentivo dado pelo meu pai –,  pude contar muito com a ajuda do Prof. Egues e integrantes do grupo para o aperfeiçoamento do mesmo. O grupo era bem internacional, durante cinco anos tivemos integrantes de outros países, e sempre recebíamos visitantes de estrangeiros – onde toda a interação e discussões eram feitas em inglês – o que preparou imenso muito para discussões posteriores mundo afora. O Prof. Egues sempre foi muito preocupado com a comunicação e a escrita em inglês, sendo essa a língua de escolha no meio científico internacional. Lembro de diversos workshops organizados com editores americanos das mais importantes revistas internacionais, os quais visavam o aperfeiçoamento da escrita e comunicação em inglês dos estudantes do IFSC/USP.”

Além desses fatores, Denis também enfatiza que a profundidade das discussões e das questões abordadas e incentivadas no grupo, durante seus mestrado e doutorado, o prepararam muito para ter uma visão critica e profunda sobre diversos assuntos da física.  Mesmo sendo oriundo de um país onde a ciência não é referência mundial, Denis diz que sempre se sentiu confortável em discutir questões e problemas com cientistas de outras instituições mais prestigiadas. De um modo geral, Denis comenta sobre seu orientador. “Ele é um pesquisador que é bem conectado, com ideias excelentes, bem conhecido no exterior e que dá um apoio incondicional para que seus alunos progridam e elevem seus estudos em física teórica. Durante meu tempo no grupo tive oportunidade de viajar para o exterior para colaborar com professores internacionais durante três ocasiões: Universidade de Basel, Suíça, em 2012 e 2018, e Universidade de Würzburg, Alemanha, em 2017 – ambas universidades de prestígio e com grande impacto no meio científico.”

“Prof. Egues foi também um mentor, sempre me aconselhando durante os diversos passos de minha carreira, enfatizando e reforçando não só fatores obrigatórios, como conhecimento científico sólido e identificação de áreas relevantes, como também outros fatores importantes, e.g., formação e criação de colaborações, e a expansão das mesmas. Não somente sobre isso, mas também sobre aspectos políticos do nosso sistema universitário atual, que muitas vezes prejudicam e impossibilitam avanços e desenvolvimentos de grupos menores. Assim, as chances de algo dar errado são menores. Agora, tudo isso não basta se você não é aplicado, apaixonado por aquilo que faz e que pretende fazer, e não alcançar a qualidade necessária para entender, com profundidade, os problemas que são e devem ser colocados”, pontua Denis.

Durante seu pós-doutorado nos EUA, Denis enfatiza a importância crucial do papel de seu supervisor, Prof. Michael E. Flatté, em seu crescimento como cientista e, consequentemente, na contratação como professor. “Prof. Flatté foi além de um supervisor, um mentor. Ele não só me incentivou ao máximo na minha caminhada, como também depositou confiança em mim, fornecendo projetos importantes e de grande impacto. Ele também sempre me aconselhou tanto em questões científicas, como também nas profissionais, não só durante meu tempo como pós-doutor mas também para a minha preparação durante o processo de contratação para professor”, relata o ex-aluno do IFSC/USP.   Denis também agradece ao seu supervisor pelas oportunidades que teve em colaborar com professores das melhores universidades dos Estados Unidos, incluindo Cornell University, Yale University, University of Chicago, Ohio State University e Colorado State University, enfatizando também a importância desta vivência e experiência com diversos profissionais como fator crucial para o seu desenvolvimento científico e consequente contratação.

Prof. José Carlos Egues de Menezes

Denis também acrescenta o nome de outro professor que contribuiu para a sua caminhada, o físico experimental Prof. David Awschalom, da Universidade de Chicago. Denis conta que passou seu primeiro ano de pós-doutorado como pesquisador visitante no grupo do Prof. Awschalom, e que o ambiente rico em discussões e colaborações ajudaram a elevar o seu nível como pesquisador. Adicionando aos seus comentários anteriores, Denis também salienta a qualidade da educação de base oferecida pelos professores do IFSC/USP durante os seus anos de graduação, mestrado e doutorado – o que em diversas matérias e aspectos não deixaram a desejar quando comparados a de universidades do exterior. Denis também reconhece o papel crucial de seus pais, Lázaro e Rita, na validação da importância da educação em sua vida. Eles  sempre o incentivaram, dando o melhor suporte para o mesmo ter (e persuadir) uma educação forte e de qualidade, enquanto também desfrutando dos prazeres da vida: “Eles sempre deram tudo e sempre estiveram lá por mim! Eles me deram a base, o chão, muito exemplo e muito estimulo, eles foram o meu modelo – eu só tive que construir em cima disso e tirar o proveito!”

Por fim, Denis também agradece sua esposa e parceira, Bárbara, por todo o apoio incondicional durante os últimos 7 anos de sua caminhada, sempre incentivando-o e ajudando-o nos mais diversos aspectos da vida. Tanto no desenvolvimento e aperfeiçoamento da vida pessoal, quanto também da acadêmica, e principalmente nos tempos difíceis, incluindo a mudança de país. “Bárbara sempre foi a pessoa que eu sempre pude contar, ela sempre estava lá por mim e sempre me deu muita força, estímulo e incentivo durante a minha caminhada – eu não teria conquistado isso sem a ajuda dela.”

Para o Prof. Egues, a alegria e orgulho do sucesso de seu ex-orientado são incomensuráveis: “Estou muito feliz e orgulhoso. Não é algo trivial conquistar uma posição de professor em uma universidade americana. Minha satisfação é semelhante àquela que os pais têm ao verem o(a)s filho(a)s atingirem sucesso na vida profissional/pessoal. Este exemplo de sucesso é bastante gratificante, pois evidencia a excelência na formação sólida e abrangente que estimulamos e proporcionamos aos (às) estudantes em nosso grupo de pesquisa. Espero que esta história de sucesso sirva de motivação e estímulo às/aos aspirantes a cientistas em nosso Instituto, especialmente nestes tempos difíceis que vivemos”. Egues relembra que enfatizou para a banca ao final da  defesa de doutorado de Denis (IFSC, junho/2018) a excelência da tese do estudante e que a mesma – assim como as outras em seu grupo – poderia ser defendida e aprovada em qualquer universidade de primeira linha no exterior. Egues menciona este fato não apenas para realçar a alta qualidade do trabalho do estudante, mas também para registar uma observação – que julga bastante pertinente –  “ouvida  do Prof. Roland há muitos anos” enfatizando que teses  deveriam ser “universais” no sentido acima, i.e., defendidas em “qualquer” universidade. A banca de doutorado de Denis foi composta pelos Profs. Eduardo Marino (UFRJ), Wei Chen (PUC/RJ), Adilson J.A. Oliveira (UFSCar),  Profa Yara Gobato (UFSCar) e Prof. Egues.

No dia 30 de julho de 2021 o Prof. Egues apresentou uma aula na disciplina ““Direcionamento Acadêmico” (coordenada pelo Prof. Schneider) para os alunos ingressantes do nosso Instituto. Aproveitando a ocasião e com o aval do Prof. Schneider, o Prof. Egues convidou Denis para um “bate papo” com os estudantes ingressantes. Durante a conversa, os estudantes fizeram perguntas ao Denis sobre seu caminho pelo IFSC/USP e pela academia, até sua contratação como professor nos EUA. Profs. Egues e Schneider avaliam como bastante motivante e encorajador o bate papo de Denis com os estudantes. Confira AQUI o link para o vídeo da aula/bate papo.

Para os estudantes e pós-doutorandos do IFSC/USP, Denis aconselha que o importante é cada um fazer o que gosta, e  buscar oportunidades dentro disso, procurar os ambientes mais favoráveis para seu trabalho, de forma a alcançar o sucesso. “Procurem sempre os professores e pesquisadores mais conectados, identifiquem onde poderá estar o seu futuro, estudem muito, conheçam gente e exponham seus trabalhos sem medo, mas com a certeza de que os trabalhos são/serão de extrema qualidade. Tenham consciência cidadã e olhem ao seu redor, ajudem a corrigir o que não está certo e a se informar antes de votar”, conclui Denis Candido.

Por fim, Denis enfatiza que o pacote de contratação em Iowa inclui cobertura de gastos em conferências, viagens de colaboração, equipamentos, como também para contratação de  pós-doutorandos e alunos de doutorado. O processo de contratação de alunos e pós-doutores para o segundo semestre de 2022 já começou, e alunos e doutores do IFSC-USP são altamente encorajados a expressar interesse via denis-candido@uiowa.edu

Rui Sintra – Assessoria de Comunicação – IFSC/USP

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