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8 de março de 2017

A experiência na pesquisa

Quando chegou a São Carlos em 1956, Yvonne Primerano Mascarenhas sabia que tinha a sua frente uma bela, mas desafiadora, missão: “desbravar” a ainda incipiente pesquisa na área de física realizada no Departamento de Física da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC/USP). Passadas mais de seis décadas, ao olharmos para trajetória científica de Yvonne, hoje docente aposentada do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP), é ler muitas páginas de um livro que serve continuamente de inspiração para outras pesquisadoras que, assim como Yvonne, ainda batalham para ver as mulheres avançarem e, sobretudo, serem reconhecidas em um mundo majoritariamente dominado por homens.

Semana_da_Mulher_2017-_Yvonne_Mascarenhas-1Pioneira nas pesquisas relacionadas à difração de raios-X, Yvonne atua fortemente na área de cristalografia e modelagem molecular. E quando se recorda de sua vida científica como um todo, a docente tem algumas histórias divertidas dos “bastidores” da ciência. “Na década de 1980, quando ministrei um curso no México sobre cristalografia, um dos presentes veio falar comigo no final, pois ele estava muito surpreso com o fato de eu, sendo mulher, estar falando sobre um assunto daquela natureza”, relembra.

Sendo um dos grandes destaques científicos no Brasil e também no mundo, Yvonne já inspirou diversas jovens cientistas, e ela própria tem um ídolo: Dorothy Hodgkin, bioquímica britânica que desenvolveu a cristalografia de proteínas, e ganhou o Nobel de Química em 1964. “Felizmente, tive o prazer de conhecer a Dorothy, que chegou a vir ao Brasil e à Unicamp como presidente do Grupo Pugwash que se opunha ao uso da energia atômica para fins bélicos. Além de ter desenvolvido um belo trabalho na área de cristalografia, fazendo a determinação da estrutura cristalográfica da insulina e da penicilina, ela também ocupou cargos de destaque no mundo científico e recebeu muitos prêmios importantes”, conta Yvonne.

Em relação às mulheres na ciência, ela afirma que, durante todos esses anos, houve uma evolução substancial e a participação das mulheres tem, de fato, crescido, embora ainda esteja distante do ideal. Para que essa evolução ocorra de forma mais acelerada e, sobretudo, efetiva, ela cita um pensamento de Sócrates: conhece-te a ti mesmo. “É preciso que as mulheres tenham noção de onde estão e porque estão fazendo o que fazem. Acredito que as mulheres foram condicionadas culturalmente para servirem à família e à comunidade, o que elas devem fazer com perfeição, sem correr grandes riscos de fracasso. Isso as impede de assumir o risco de disputar posições de liderança. O primeiro passo, então, é que ela conheça a si própria, avalie suas escolhas e procure alcançar os objetivos que traçou para si, perseguindo-os com coragem e persistência. Acredito que somente dessa forma será possível que a mulher assuma atitudes de competição e liderança na ciência e na tecnologia”, finaliza.

Imagem: Yvonne (à esq.) com Dorothy Hodgkin na década de 1970 (créditos: arquivo pessoal)

Assessoria de Comunicação- IFSC/USP

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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