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1 de fevereiro de 2011

Docente do IFSC pesquisa desenvolvimento de novo medicamento para cura da malária

Pesquisador traça panorama de uma das doenças que mais faz vítimas ao redor do globo e conta sobre sua colaboração para erradicá-la

É comum estarmos atentos ao que possa nos afetar diretamente. Paulistanos, por exemplo, na maior parte das vezes, têm conhecimento no que se refere às doenças pulmonares e dermatológicas e como evitá-las. Fato esse que se explica pelo contato frequente desses habitantes com gases poluentes, geridos pelos milhões de veículos que transitam pela capital diariamente.

Porém, se questionarmos esses mesmos paulistanos sobre doenças infecciosas, especificamente sobre a malária, doença que faz dois milhões de vítimas todos os anos, ao redor do planeta, provavelmente poucos terão conhecimento sobre ela, assim como suas causas e suas formas de contaminação (embora o assunto já tenha sido demasiadamente discutido ao longo dos anos e seja preocupante).

Tendo conhecimento detalhado sobre o assunto e noção da gravidade da doença, o pesquisador do Instituto de Física de São Carlos (IFSC), Rafael Victório Carvalho Guido, desde seu projeto de iniciação científica, até hoje, depois de concluir seu doutorado e pós-doutorado, busca a criação de um fármaco que possa curar a doença.

O que é e como se transmite a malária

A malária é uma doença causada por parasitas do gênero Plasmodium. Esse parasita necessita do nosso corpo para sobreviver e entra no organismo, através da picada de mosquitos do gênero Anopheles, popularmente conhecidos como muriçoca, sovela, mosquito-prego ou bicuda. A transmissão da doença ocorre quando o mosquito pica um indivíduo contaminado, pessoa ou animal, e assim ingere o parasita. Posteriormente, esse mosquito pica outra pessoa e, dessa forma, transmitirá a doença. “Sendo o Anopheles um dos elementos do ciclo, são utilizadas formas de erradicação do inseto para, consequentemente, controlar a transmissão da doença. Essa é uma das estratégias para se diminuir a incidência da malária”, explica Guido.

Tendo como maior foco a África, no mundo, e a Amazônia, no Brasil, justificado pelo subdesenvolvimento e pela quantidade de vegetação existente nesses locais- habitat natural dos mosquitos transmissores- é aí que se encontra maior incidência da doença. “Muitas vezes, as pessoas contaminadas não têm, ao menos, consciência disso. Quando começam a sentir mal-estar, febre alta, calafrios, suor excessivo e dor de cabeça confundem com uma gripe ou resfriado, não imaginando que estão contaminados, algumas vezes, por uma doença que pode ser mortal. Quando os sintomas aparecem mais evidentes, a pessoa acaba morrendo”, conta Rafael. “O subdesenvolvimento é um obstáculo para a cura da doença, pois sem dinheiro não é possível comprar medicamentos. E as crianças são as maiores vítimas”.

Por esse principal motivo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e outras organizações não-governamentais, já há algum tempo, passaram a investir em pesquisas relacionadas ao desenvolvimento de novos medicamento para a cura da doença.

Métodos já existentes

De acordo com o docente, já há medicamentos para a cura da doença. No entanto, existe a chamada resistência, que é quando os parasitas, por aumentarem sua população muito rapidamente, acabam por gerar um ou outro que não sofra o efeito pretendido pelo medicamento. “A população humana demorou aproximadamente 50 anos para dobrar. Éramos 2,5 bilhões em 1950 e 6 bilhões em 2000. Já o parasita faz a mesma coisa em questão de dias, o que possibilita sua mais rápida adaptação ao meio, consequentemente, dificultando o controle da doença. Essa é a maneira que esses parasitas encontraram para sobreviver”.

Nos últimos anos, mais de 50% dos fármacos, liberados para tratamento de doenças parasitárias, são medicamentos para a malária. “O impacto causado pela malária é que justifica esse fato”, diz Guido. “Há um intervalo grande no lançamento de novos fármacos. O processo por si só já consome um tempo significativo, que vai de 15 à 20 anos, desde a descoberta do princípio ativo até a comercialização do medicamento final. No caso de doenças parasitárias, como a malária, esse processo é agravado, pois além de ser eficiente, o novo medicamento deve ser, necessariamente, de baixo custo. Isso porque aqueles que precisam do tratamento, na maior parte das vezes, são pessoas extremamente carentes e não têm dinheiro para adquiri-lo.”

Uma das estratégias que se tem, hoje, para o desenvolvimento de fármacos é saber como e onde ele funciona. “Procuramos alvos no parasita, ou seja, proteínas específicas, que são essenciais para a sua sobrevivência. Uma vez identificados esses alvos procuramos desenvolver pequenas moléculas que se ligam a ele alterando a sua função natural. Estamos tentando identificar esses alvos e desenvolver essas pequenas moléculas para que elas se liguem com alta eficiência nos alvos do parasita para que, dessa forma, o parasita não sobreviva no nosso organismo”, explica Guido.

A pesquisa

A pesquisa do professor é uma parceria com diversos pesquisadores da Universidade de São Paulo, e está inserida no projeto do Instituto Nacional de Biotecnologia e Química Medicinal em Doenças Infecciosas (INBEQMeDI).

O parasita, causador da malária, necessita de aminoácidos para sobreviver, e esses aminoácidos são encontrados na hemoglobina, molécula do nosso corpo responsável pelo transporte de oxigênio. No entanto, para conseguir os aminoácidos, o parasita precisa, primeiro, digerir a hemoglobina e, quando isso acontece, a hemoglobina libera não só aminoácidos, mas também a molécula Heme, que é tóxica ao parasita, em altas concentrações. Ao longo de sua evolução, porém, o parasita desenvolveu estratégias biológicas em que ele consegue reduzir a quantidade de Heme produzida, uma delas, é através da proteína Heme oxigenase (HO) que é muito importante para a sua sobrevivência.

Aí entra a chave da pesquisa: pretende-se inibir essa via que reduz a quantidade de Heme. A inibição da HO manteria elevada a concentração de Heme em níveis suficientemente tóxicos para eliminar o parasita.

No momento, a pesquisa de Guido encontra-se na fase de pesquisa básica, ou seja, “é preciso, primeiramente, conhecer o ‘inimigo’, descobrir seus pontos fracos para, posteriormente, atacá-lo”, explica. Para tanto, isola-se o gene que codifica a HO do Plasmodium para, posteriormente, colocá-lo em bactéria, ou seja, um outro organismo. A bactéria é capaz de produzir grandes quantidades da HO para que possamos estudá-la. Por fim, extraímos essa proteína da bactéria e isolamos para tê-la com alta pureza. “Conhecendo-se a estrutura 3D do alvo poderemos planejar pequenas moléculas que se encaixem no sítio ativo da HO e assim inibir a sua função bioquímica”, esclarece Guido.

O docente tem boas expectativas. “Em 2010, avançamos bastante. Conseguimos uma produção significativa de proteína, então já temos substância para trabalhar e desenvolver os estudos estruturais e de química medicinal. E, embora estejamos distante do objetivo final, ou seja, desenvolver um fármaco para o tratamento da malária, os avanços que tivemos são bastante animadores”, conclui.

Tatiana G. Zanon/Assessoria de Comunicação

Data: 1 de fevereiro

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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