Notícias

11 de outubro de 2016

Há ainda um longo caminho a percorrer

Independente dos esforços que têm sido feitos ao longo dos anos, o certo é que fazer divulgação científica no Brasil não é tarefa fácil – muito pelo contrário -, colocando-se diversas questões pertinentes relativamente a esse tema que, quer se queira, ou não, está intrinsecamente ligado à Educação e Cultura. Como é que em um país onde jornalcien300os níveis de analfabetismo ainda são extremamente altos, se consegue divulgar pelas comunidades mais carentes, a ciência que se faz em prol delas mesmas? De que forma é que no meio escolar, atualmente precário, se consegue entusiasmar as crianças, de forma abrangente, sobre a importância da ciência e o impacto que ela tem em sua vida cotidiana? De que maneira se pode informar e incentivar os professores sobre a importância da pesquisa científica na vida do cidadão comum, por forma a que estes disseminem os conceitos não só pelos jovens alunos, como pela sociedade? O que fazer para difundir entre a população os novos avanços na ciência e tecnologia que se desenvolvem no Brasil?

No decurso da 6ª Semana Integrada do Instituto de Física de São Carlos – SIFSC-2016, evento organizado em outubro por alunos do IFSC/USP e cujo objetivo principal foi incentivar os estudantes de graduação e pós-graduação a mergulhar nas diversas áreas da física e a apresentar seus trabalhos científicos para colegas, pesquisadores e docentes, bem como destacar as oportunidades oferecidas pelo mercado de trabalho aos físicos, uma série de palestras foram realizados com o intuito de debater diversos temas importantes para reflexão dos alunos da Unidade. Dentre essas palestras, uma abordou exatamente a Divulgação Científica, um tema que foi apresentado pelo Prof. Francisco Rolfsen Belda* (UNESP), com um discurso aberto e direto, que entusiasmou a plateia.

Para Francisco Belda, além do que salientamos no início desta matéria, um dos grandes gargalos para quem pretende divulgar ciência é a dificuldade de ver estabelecido um campo específico dentro do qual profissionais de áreas diversas – comunicação, design, audiovisual, programação, arte, linguagem e tecnologia – possam trabalhar de forma continuada e bem remunerada, jornalciencia300fazendo dessa atuação a sua área de expertise. “Muitas vezes, a divulgação científica no Brasil é uma atividade encarada como um apêndice da atividade de um repórter, de um professor ou de um educador, pelo que muito dificilmente se tem um profissional que se dedica exclusivamente à divulgação científica no Brasil, pela inexistência de uma carreira profissional nessa área, quer nas universidades, como também em museus da ciência, meios de comunicação e em empresas que poderiam enxergar nesse campo também um mercado de consumo para jogos educacionais e outros artefatos que pudessem ocupar e remunerar os profissionais, de uma forma valorizada”, comenta Belda.

Já no que diz respeito ao que se passa no exterior, em países mais desenvolvidos existe um mercado e também um campo público de comunicação muito mais desenvolvido em torno de museus de ciência, de centros de divulgação científica, onde existem equipes muito bem preparadas e remuneradas, em condições de se dedicarem exclusivamente à tarefa de divulgação científica. Para Belda, é muito comum nos EUA, Canadá, Japão, Suécia e em outros países europeus, encontrar não apenas profissionais, mas também um campo intelectual dedicado à divulgação científica, na forma de congressos, encontros e seminários, onde a divulgação não é um tema acessório, assumindo-se, sim, como a própria razão de ser desse campo profissional e intelectual. No Brasil é tudo muito amador, mas no bom sentido. “Temos profissionais muito competentes nas suas áreas de origem, são profissionais que enxergam e valorizam o campo da divulgação científica, da educação para a ciência, da difusão científica, com muito carinho e empenho, e aí eu incluo os professores de todos os níveis de ensino – infantil, fundamental médio e superior -, comunicadores, repórteres, fotógrafos, cinegrafistas e cineastas, que têm uma paixão e interesse pelo assunto, que enxergam no tema da divulgação científica uma atividade de ciencia300interesse estratégico para o País no sentido de formar novas gerações de cidadãos críticos e conscientes em relação à forma como lidam com o conhecimento e com a ciência no seu dia-a-dia, e esses profissionais merecem todo o mérito. Mas, muitas vezes são profissionais que estão sobrecarregados com outros trabalhos, sub-remunerados e que acabam dedicando apenas umas poucas horas para temas de divulgação científica”, acrescenta Francisco Belda. Para nosso entrevistado, o ideal seria que esses profissionais pudessem se dedicar em tempo integral, por forma a poderem investir na sua educação continuada – fazer cursos de especialização, frequentar congressos, etc.. Para Belda “No Brasil sobra entusiasmo e dedicação, mas faltam condições de trabalho e de remuneração”.

Conceitualmente, quando falamos de divulgação científica, estamos necessariamente pressupondo comunicar com público leigo, já que o trabalho de comunicação científica realizado entre pares e especialistas, chamamos de disseminação científica, embora todas elas sejam áreas de difusão científica ou de comunicação para a ciência. A divulgação se caracteriza pela comunicação, no sentido da vulgarização, como elucida Francisco Belda. “Divulgar é formar o conhecimento mais popular, menos hermético e esotérico, usando uma linguagem que seja adequada para contingentes mais amplos do público. Geralmente, não só através de veículos de comunicação de massa, mas também através de instalações, como em museus, centros de ciência, etc., que recebem majoritariamente um público heterógeno vindo de escolas e de comunidades, essa é a atividade que nós chamamos de divulgação, de vulgarização. A atividade entre pares é tida como disseminação de dados de pesquisa e de atualização científica para comunidades próprias de pesquisadores e de cientistas, com uma linguagem e formato de comunicação mais herméticos. Existem outras formas de comunicação igualmente interessantes em relação à ciência, como o jornalismo científico, que se caracteriza não apenas por um público e por veículos especialmente voltados ao jornalismo, mas também pelo compromisso de mediação crítica dos acontecimentos e saberes oriundos do mundo da ciência.

belda500

O jornalista, nesse sentido, diferencia-se do divulgador, sendo que sua missão não é apenas tornar mais popular o conhecimento e sim contextualizá-lo, interpretá-lo e questioná-lo à luz de um interesse público mais amplo, que envolve a política científica, os impactos económicos da atividade científica e as transformações sociais e culturais que a tecnologia e a ciência provocam na sociedade”.

Belda chama a atenção que é óbvio que a comunicação científica orbita em torno de vários interesses próprios de cada nicho de público, como, por exemplo, o veículo de comunicação, patrocinador, anunciante, financiador da pesquisa, agências de fomento, governos, ONG’s, bem como das grandes indústrias, sempre interessadas na transferência de conhecimento e de tecnologias, etc., e o jornalista científico se vê muitas vezes “espremido” entre todos esses interesses que precisam ser conciliados com qualidade e eficácia, para construir uma comunicação efetiva e séria.

*Francisco Rolfsen Belda é jornalista formado pela PUC de Campinas, com mestrado em jornalismo pela ECA-USP e doutorado em engenharia de produção pela EESC-USP. Atua profissionalmente há mais de 15 anos em empresas de comunicação, principalmente na área editorial jornalística, sendo igualmente empreendedor e gestor de pequenas e médias empresas de comunicação. Atualmente, é professor do curso de jornalismo e do Programa de Pós-Graduação em Mídia e Tecnologia da UNESP-Baurú e professor-visitante na Brandeis University, em Massachusetts (EUA).

Assessoria de Comunicação – IFSC/USP

Imprimir artigo
Compartilhe!
Share On Facebook
Share On Twitter
Share On Google Plus
Fale conosco
Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
Obrigado pela mensagem! Assim que possível entraremos em contato..