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10 de outubro de 2011

China desenvolve processo de fusão nuclear eficiente, afirma pesquisador do IFSC

Um pesquisador do Instituto de Física de São Carlos (IFSC-USP) participou da delegação brasileira na 2ª Conferência Brasil-China em Computação Científica, em julho deste ano, e voltou para seu país natal surpreso com as revelações feitas pela delegação chinesa em uma das palestras – o país está envolvido em um sólido projeto de desenvolvimento do processo de fusão nuclear

O pesquisador José Eduardo Martinho Hornos, do Grupo de Métodos Matemáticos em Ciências Moleculares do IFSC, acompanhou a comissão científica brasileira que viajou à Pequim, na China, na última semana de julho deste ano, para visitar o Instituto de Física Aplicada e Matemática Computacional, ligado à Academia de Ciências da China. O interesse principal do pesquisador era investigar as últimas pesquisas chinesas em computação de alto desempenho. “Particularmente, eu fui ao encontro do diretor responsável pelo desenvolvimento do computador TH1A, que na oportunidade era o computador mais rápido do mundo, substituído agora pelo K Computer do Japão”, explica Hornos.

usinachinaO aspecto interessante é que, em meio a essa investigação dos supercomputadores, a equipe participou da exposição do diretor do Instituto sobre as dificuldades matemáticas e as soluções necessárias para o controle do processo de fusão nuclear induzida por lasers de alta potência. Isso foi surpreendente para a comunidade brasileira, que não tinha conhecimento sobre o desenvolvimento desta pesquisa. Alguns sabiam da existência de um programa análogo que se desenvolve no Lawrence Berkeley National Laboratory, nos Estados Unidos, mas o andamento do projeto chinês era totalmente desconhecido pela comunidade científica do Brasil.

Fusão nuclear?

A principal vantagem desta inovação seria a produção de energia segura e limpa, sem rejeitos a serem lançados ao meio-ambiente. Seu funcionamento imita as reações ocorridas no Sol, mas seu combustível é o hidrogênio, que não libera nenhum rejeito e resíduo radioativo que são potencialmente danosos ao meio ambiente e ao ser humano e que precisam ser armazenados, atualmente, com grandes cuidados.

Segundo o pesquisador, especialista em Energia Nuclear, o projeto de fusão a laser enxergava dois grandes obstáculos que inibiam sua eficácia, a despeito da ansiedade gerada pelo conhecimento de seu potencial energético. “A primeira dificuldade é que a energia consumida pelo equipamento era maior do que a energia que ele conseguia produzir, e a segunda é que a ignição, ou seja, o início do processo de fusão, era desconhecido”, explica Hornos. Em bombas nucleares ativadas por fusão, a ignição se dá através da combinação de núcleos de hidrogênio e hélio, que implodem no núcleo da bomba e liberam quantidades de energia gigantescas; já no Sol, onde também ocorre este processo, a fusão é possibilitada devido às pressões de confinamento gravitacionais que ele sofre. Porém, os processos de ignição aplicáveis para um reator de fusão nuclear eram desconhecidos.

Não obstante, estes dois problemas parecem ter sido largamente superados pela equipe chinesa. A questão sai, agora, do âmbito científico, para se tornar uma questão tecnológica, já que, apresentando uma produção de energia eficiente e controlando a ignição do processo, o próximo passo deste desenvolvimento seria a produção de um primeiro reator cujo funcionamento seja à base de fusão nuclear.

Poder econômico

A fissão nuclear, processo utilizado hoje para a produção de energia em todo o mundo, é baseada na exploração do urânio que, em sua forma enriquecida, é o principal elemento do combustível nuclear. Segundo Hornos, as reservas de urânio do planeta devem ver-se esgotadas em quinhentos anos, um período histórico relativamente curto. E o petróleo, por sua vez, também não tem perspectivas de vida longa. Já a fusão utiliza-se de hidrogênio, ou seja, basicamente água.

“Eu pude perceber que ambos os laboratórios que trabalham com a fusão atualmente preferiram manter, todo esse tempo, as suas pesquisas em um nível de discrição muito alto, e eu acredito que isso se dê, evidentemente, pelo poder econômico e consequente domínio que terá a primeira nação que desenvolver um reator de fusão nuclear, já que isso significa ter em posse uma fonte ilimitada de energia”, afirma o pesquisador. “O que nos assusta é que isso não é mais uma investigação abstrata, uma idealização, é uma atividade científica e tecnológica com cronograma”, completa.

E o Brasil?

Em relação às futuras usinas de energia nuclear por fusão, Hornos diz que elas seriam consideravelmente mais eficazes do que as usinas atuais. Para se ter idéia, o processo de fusão remonta toda a energia básica do Sistema Solar. O problema que mais causa preocupação no momento é que o Brasil não tem as menores condições de estudar o processo de fusão induzido por lasers. “O Brasil não tem sequer tecnologia suficiente para produzir os lasers de alta potência necessários para o desenvolvimento deste processo, ou recursos humanos para desenvolvê-lo”, afirma ainda Hornos.

hornosfusaoTendo esse quadro em vista, o docente afirma que a função do pesquisador brasileiro, em relação a esta inovação, é manter a sociedade informada e alerta às transformações científicas e tecnológicas que possam interferir em suas vidas. A crise mundial de energia e dos insumos de produção dá origem a uma necessidade imediata de repensar as diretrizes das políticas energéticas, de modo a definir melhor a natureza dos combustíveis renováveis, os efeitos danosos que o processo utilizado pode causar à natureza e ao homem, e o índice de produtividade de cada técnica. “Nossa obrigação é informar a comunidade sobre essas diretrizes, enquanto estudamos o assunto de maneira quase amadorística, como uma extensão de serviços à sociedade, pois não temos condições, no momento, de integrar uma pesquisa deste porte”, lamenta Hornos. E isso serve de lição, segundo ele, pois “a ciência brasileira precisa de uma grande reestruturação para que passe a observar os problemas nacionais reais, e não podemos mais ficar para trás nestas áreas, porque já perdemos muitas oportunidades”, finaliza ele.

Assessoria de Comunicação

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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