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15 de setembro de 2016

CAD estuda ações de estímulo aos estudantes de graduação

Tal como se verifica em um contexto internacional, estatísticas divulgadas pela Pró-Reitoria de Graduação da USP demonstram que existe um índice expressivo de desvinculação de graduandos de unidades uspianas dedicadas, particularmente, à formação nas áreas de ciências exatas, incluindo física, astronomia, geofísica e matemática.

destaque_250Existem vários fatores que são apontados como responsáveis por esses altos índices de evasão. Entre eles, estão as diferenças entre a realidade da carreira e as expectativas criadas durante a escolha do curso, o formato – pouco atraente ? – das disciplinas oferecidas e a natureza do relacionamento entre comunidade discente e docente. Outro fator relevante é a percepção distorcida da sociedade brasileira de que, por exemplo, a física é uma área que oferece poucas perspectivas profissionais, o que faz muitos alunos qualificados evitarem as carreiras do IFSC/USP e alguns dos ingressantes conviverem com a falta de um autêntico apoio familiar.

Todos esses elementos e suas consequências devem ser investigados no combate à desvinculação, mas certamente há diferenças na forma como as diversas instituições os abordam. Em face dessa realidade, em 10 de junho de 2016, o IFSC/USP criou a Comissão de Acompanhamento do Desenvolvimento Acadêmico dos Alunos de Graduação do IFSC/USP – CAD (Portaria IFSC 023/2016). Congregada por docentes e funcionários* da Unidade, a Comissão, em harmonia com a Comissão de Graduação e as Coordenações de Curso, tem o papel de diagnosticar problemas e sugerir ações para aprimorar a formação dos estudantes da unidade em um amplo espectro, desde a atração de talentos do ensino médio até o auxílio no posicionamento profissional dos formandos, passando pelo suporte pedagógico e psicológico durante a graduação.

De acordo com o coordenador da CAD e docente do Grupo de Física Computacional e Instrumentação Aplicada do IFSC/USP, Prof. Dr. Leonardo Maia, o objetivo principal da Comissão é dar o suporte necessário aos graduandos durante todo o processo de formação acadêmica, desde o momento que antecede o ingresso na Universidade, até a conclusão do curso de graduação. “Não podemos pura e simplesmente achar que esse alto nível de desvinculação é natural, até porque isso gera uma imagem negativa da carreira e da instituição. Temos motivos para crer que podemos tomar algumas medidas no sentido de melhorar o ambiente acadêmico da graduação”, explica o docente.

Público pré-universitário

A Comissão deverá investir cada vez mais em ações voltadas ao público pré-universitário. Há anos o Instituto tem estabelecido iniciativas que visam à aproximação dos alunos do ensino médio com membros da Universidade, incluindo o programa Universitário por Um Dia (1DIA), a Escola de Física Contemporânea (EFC), além da participação da Unidade em eventos voltados ao mercado de trabalho e à divulgação científica.

O IFSC também oferece oportunidades de Iniciação Científica (IC), bem como o programa de Formação Continuada de Professores de Física do Ensino Médio. Aliás, em parceria com a Diretoria de Ensino da Região de São Carlos, a Unidade está equipando, na Escola Estadual Jesuíno de Arruda, um Laboratório de Ensino de Física dedicado ao ensino médio.

Atividades culturais, como a série Concertos USP / Prefeitura de São Carlos e a exposição Portinari – Arte e Meio Ambiente, também cumprem o papel de estreitar a relação entre a USP e a comunidade da região de São Carlos – particularmente com os alunos do ensino médio e vestibulandos, bem como com os docentes e familiares desses jovens -, permitindo divulgar as iniciativas e os cursos do Instituto.

Em particular, as ações voltadas aos alunos do ensino médio e suas famílias enfatizam que, embora certamente os cursos de física não gozem do mesmo prestígio de outras carreiras de exatas, como as engenharias, e que as opções fora da academia tenham sido escassas em um passado distante, hoje a realidade do mercado de trabalho fora da academia é muito diferente daquela imaginada por quem não conhece a área. Espera-se que alunos talentosos e interessados em física, que não buscam essa carreira por receio de poucas oportunidades de inserção profissional, mudem de ideia ao conhecer as diversas possibilidades de atuação nessa área, como ilustrado pela comunidade alumni (ex-alunos) do IFSC.

Acolhimento no ingresso

Segundo Maia, há uma percepção que, de forma cada vez mais acentuada, os alunos das gerações mais novas encontram dificuldades na aprendizagem de como viver longe da família, em uma nova cidade (boa parte dos alunos do campus USP São Carlos, por exemplo, é oriunda de outros municípios e estados), além de demorarem a adaptar seus hábitos de estudo, mesmo em cursos que exigem grande dedicação dos estudantes.

O coordenador da CAD destaca que, no curso de medicina da USP, na capital, os estudantes têm à sua disposição tutores, que são docentes periodicamente supervisionados por uma psicóloga, para aprimorarem suas estratégias de suporte aos graduandos. Em Ribeirão Preto (SP), também no curso de medicina, inicia-se um processo de caracterização de vulnerabilidades sócio-emocionais dos ingressantes para seu melhor acolhimento. Se alunos como os de medicina, considerados de elite, requerem esse suporte, é razoável crer que os demais universitários também possam se beneficiar de um suporte análogo.

Além disso, a aprovação no vestibular pode ter um efeito ilusório para os estudantes de exatas. “O Brasil vive uma situação de catástrofe no ensino de ciências e matemática. Mesmo alunos de escolas particulares e que ingressam nas engenharias apresentam lacunas sérias no raciocínio lógico/matemático, sem ter consciência disso”, lamenta o docente. Dessa forma, muitos alunos chegam às graduações do IFSC/USP com preparação insuficiente em matemática, física e até em português, mas sem reconhecerem esse fato ou até mesmo a possível ineficiência de suas técnicas de estudo. Para o Prof. Maia, muitas vezes esses fatores levam a reprovações precoces e rapidamente minam a motivação e a autoestima dos estudantes, potencializando as vulnerabilidades emocionais citadas acima.

O suporte aos alunos, desde o início do curso de graduação, será uma atividade complexa, mas que envolverá a liderança e intensa participação da Comissão de Graduação e da diretoria da Unidade, com o apoio fundamental não só dos docentes do IFSC/USP, mas também de veteranos e egressos do Instituto, e, ainda, de profissionais das áreas de educação, pedagogia e psicologia. A ideia é criar redes de suporte aos estudantes, com tutorias sob responsabilidade dos docentes, que serão, por sua vez, orientados por profissionais da área de saúde, bem como atividades de orientação profissional e direcionamento de carreira, e incentivo à intensificação de cursos optativos de “pré-cálculo”, como os já ministrados espontaneamente por alguns alunos veteranos.

Ao recuperar a formação básica necessária dos alunos e oferecer a eles apoio psicológico, espera-se que os graduandos acompanhem as disciplinas e enfrentem a rotina da vida universitária com mais facilidade, em estreita relação com os docentes, que, por sua vez, deverão estar preparados para lidar com o perfil de cada aluno que ingressa na Universidade.

Acompanhamento dos graduandos

Para o acompanhamento cuidadoso do corpo discente da Unidade, pretende-se instituir no IFSC/USP o Observatório da Vida Estudantil (OVE)**, que será composto pelos docentes que apresentarem os melhores resultados em suas atividades didáticas e que atuarem em diferentes áreas de pesquisa, de modo a orientar os alunos em suas atividades e em seus dilemas profissionais, e a auxiliar a Comissão de Graduação, principalmente, na sugestão de ações com foco no aprimoramento da formação pessoal e profissional dos alunos; no aperfeiçoamento da qualidade didática das disciplinas; no treinamento de docentes e no progresso da relação entre aluno e docente.

Leonardo Maia comenta que, embora grande parte das medidas ainda esteja sendo elaborada, os professores do IFSC/USP já têm promovido encontros com seus alunos de graduação, numa interação mais próxima entre as comunidades discente e docente. Esse contato, diz Maia, é particularmente importante no contexto da reforma curricular que está sendo elaborada para os cursos de bacharelado do IFSC e que deverá entrar em vigor a partir de 2017.

Com a futura nova grade, pretende-se diminuir o horário em sala de aula, sem interferir no conteúdo já ministrado, promovendo, desse modo, maior autonomia dos estudantes. Isso porque há trabalhos científicos relatando que a duração de uma aula expositiva pode implicar na qualidade do aprendizado, principalmente, na área de ciências exatas. “Nossa proposta é diminuir o tempo em sala de aula, para que os alunos tenham mais tempo de estudo, tendo, também nesses horários, mecanismos de tutoria com os docentes”.

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Obviamente, com as medidas citadas acima, espera-se que haja uma diminuição do índice de desvinculação. Contudo, para o Prof. Leonardo Maia, mais importante do que diminuir esse tipo de estatística é tornar o processo de desvinculação mais qualificado, para que ele ocorra apenas quando o estudante tiver uma visão real do curso de física da Unidade e, também, da ampla variedade de atuação que um físico pode encontrar tanto na área acadêmica (ministrando aulas ou desenvolvendo pesquisas) como no setor industrial (hoje, vários egressos do IFSC/USP trabalham no terceiro setor, tendo fundado suas próprias empresas ou desenvolvido tecnologias para aplicações em diversas áreas, como, por exemplo, agrícola e médica), podendo contar com o apoio e a confiança do corpo docente e da diretoria da Unidade.

*A Comissão é constituída pelos Profs. Drs. Leonardo Paulo Maia (coordenador), João Renato Carvalho Muniz (vice-coordenador), Alessandro Silva Nascimento, Fernando Fernandes Paiva, Frederico Borges de Brito, Gonzalo Travieso, Ilana Lopes Baratella da Cunha Camargo, José Fabian Schneider, Leonardo de Boni, Otavio Henrique Thiemann, Sérgio Ricardo Muniz, bem como pelo educador do IFSC/USP, Herbert Alexandre João, pela técnica para assuntos administrativos da Unidade, Cristiane Gomes Lazarini Estella (secretária), e pela chefe administrativa de serviço do IFSC, Isabel Aparecida Possatto de Oliveira (apoio – Assistência Acadêmica do IFSC);

**O nome oficial ainda deverá ser definido.

Assessoria de Comunicação – IFSC/USP

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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