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18 de abril de 2022

Aparelho de exame ocular inovador é desenvolvido no IFSC/USP

Seu custo poderá ser cinco vezes menor do que modelos atualmente disponíveis

Uma pesquisa liderada pelo pesquisador do IFSC/USP, André Orlandi de Oliveira, permitiu o desenvolvimento de um novo tipo de retinógrafo que, por conta de sua arquitetura inovadora, poderá custar cinco vezes menos do que os modelos disponíveis hoje no mercado.

A retinografia é o principal método utilizado por oftalmologistas para examinar a retina de pacientes e diagnosticar uma série de doenças, possibilitando também a prevenção. Porém, o alto custo do equipamento necessário para sua realização – o retinógrafo – limita sua disponibilidade nas clínicas, reduzindo assim o acesso dos pacientes aos exames.

Para resolver esse problema, a empresa são-carlense “Eyetec” desenvolveu um novo tipo de retinógrafo que, por conta de sua arquitetura inovadora, poderá custar cinco vezes menos que os modelos disponíveis hoje no mercado.

Com apoio do Programa PIPE/PAPPE Subvenção – que reúne recursos dos programas Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), da FAPESP, e de Apoio à Pesquisa em Empresas (PAPPE), da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), para a inserção de um produto inovador no mercado –, os empreendedores da “Eyetec” utilizaram novas tecnologias e muito conhecimento de física aplicada para desenvolver o novo retinógrafo.

Por meio da criação de um sistema de iluminação inovador, eles conseguiram uma redução drástica da quantidade de componentes para fabricação do equipamento, possibilitando uma considerável redução dos custos.

“Por causa do alto custo, é comum que o equipamento só esteja disponível em consultórios de especialistas em retina. Com um retinógrafo mais acessível, um especialista em córnea, por exemplo, poderá ter acesso a um equipamento desses e, caso encontre alguma alteração, poderá encaminhar o paciente aos especialistas de forma precoce”, diz André Orlandi de Oliveira, coordenador do projeto.

Arquitetura inovadora

Resultado de seu trabalho de Defesa de Tese de Doutorado, apresentado em 2017, sob orientação do docente e pesquisador do IFSC/USP, Prof. Jarbas Caiado de Castro Neto, o grande diferencial do novo produto é a simplicidade de seu processo de produção em comparação ao do retinógrafo tradicional.

“O retinógrafo convencional possui grande número de componentes e todos precisam ser minuciosamente alinhados, elevando os custos de produção. A ideia era reduzir o número de componentes sem perda de qualidade, possibilitando uma redução do custo de produção”, afirma.

Segundo ele, a arquitetura convencional dos retinógrafos foi estabelecida em 1969 e, desde então, pouca coisa havia sido modificada.

Um dos fatores responsáveis por encarecer o equipamento é a tecnologia utilizada para a eliminação de reflexos tanto da córnea quanto das próprias superfícies dos componentes ópticos.

“Para que essa tecnologia funcione, é preciso montar diversos componentes fora do eixo óptico da imagem. A minha proposta para simplificar esse equipamento envolvia conceber um sistema óptico totalmente coaxial, ou seja, com todos os componentes ópticos montados em um único eixo”, diz Oliveira.

André Orlandi de Oliveira

Para isso, o físico optou por substituir determinados componentes da iluminação por um anel de LEDs. “Pudemos fazer isso porque houve um avanço tecnológico que gerou LEDs pequenos o suficiente para formar um anel bem definido.”

Com a substituição do complexo sistema de iluminação pelo conjunto de LEDs montados na forma de anel entre a objetiva e o sistema de detecção, o físico garantiu que os reflexos da córnea não ofusquem a imagem da retina e todo o sistema seja montado em um só eixo.

“Para suprimir os reflexos na objetiva, desenvolvemos um sistema intermediário capaz de selecionar precisamente as regiões do anel de LEDs que iluminam a objetiva e o olho. Sabendo onde o reflexo será gerado, podemos eliminá-lo antes que ele chegue à objetiva”, explica.

Essa simplificação de toda a arquitetura do equipamento, segundo Oliveira, favoreceu o seu desenvolvimento desde a etapa de projeto até os processos de alinhamento e montagem. “Foi por isso que conseguimos reduzir muito os custos de produção”, diz.

Segundo o pesquisador, estima-se que o produto vá custar cinco vezes menos que US$ 50 mil, o atual preço dos modelos importados que predominam no mercado brasileiro.

O pesquisador ressalta que o retinógrafo é fundamental para diagnosticar doenças como descolamento de retina, degeneração da mácula, glaucoma e a degeneração macular relacionada à idade. Além disso, os exames da retina também podem ser úteis para detectar problemas relacionados à circulação e ao cérebro, por exemplo.

“A Organização Mundial da Saúde [OMS] estima que 80% dos mais de 900 milhões de casos de perda visual registrados no mundo poderiam ter sido prevenidos ou curados com simples exames rotineiros de retinografia”, diz Oliveira.

O físico explica que, depois de desenvolver o protótipo, era preciso procurar uma empresa experiente capaz de transformá-lo em um produto comercial. Ele já conhecia os empreendedores da “Eyetec”, que nasceu dentro do IFSC-USP em 1992 e já está no mercado com diversos equipamentos oftalmológicos. Por essas razões, em 2018 ele se associou à empresa.

“Além de ser muito custoso criar uma empresa do zero, o processo de certificação para equipamentos de uso médico é muito longo e complexo. Eu sabia que a Eyetec tinha a necessidade de lançar um novo produto e resolvemos trabalhar juntos”, explica.

Durante o projeto PIPE fase 3, a “Eyetec” desenvolveu o desenho do produto, suas partes optomecânicas, eletrônicas e de software, com o objetivo de oferecer um produto robusto capaz de fazer retinografias de alta qualidade com uma interface amigável para o usuário.

Agora, com o projeto já concluído, a atuação da empresa está voltada para a certificação do novo retinógrafo pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que deverá demorar no mínimo um ano.

André Orlandi de Oliveira possui graduação em Bacharelado em Física, com ênfase em Óptica e Fotônica (2009), mestrado (2012) e Doutorado (2017) em Ciências na área de Física Aplicada pela Universidade de São Paulo (USP), Instituto de Física de São Carlos (IFSC).

O pesquisador possui dez anos de experiência com desenvolvimento de projetos, estando envolvido com óptica e fotônica desde sua graduação, quando realizou estágio na empresa “DMC Equipamentos” e participou do desenvolvimento de produtos voltados para tratamentos dermatológicos.

Entre 2010 e 2012, realizou seu mestrado com dissertação intitulada “Sistema para medida simultânea de temperatura e deformação com redes de Bragg em 800 nm”.

Em 2011, ingressou no setor de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) da empresa “Opto Eletrônica SA” como Físico de Desenvolvimento, permanecendo até o final de 2015, na qual atuou nas áreas oftálmicas e aeroespacial, contribuindo com desenvolvimento, análise, integração e testes de sistemas ópticos.

Enquanto funcionário na “Opto Eletrônica SA”, participou do desenvolvimento dos sistemas ópticos das câmeras MUX (Multispectral Camera) e WFI (Wide Field Imaging Camera) dos satélites CBERS 3&4, e da câmera AWFI do satélite AMAZONIA 1, e de equipamentos médicos como retinógrafo, microscópio cirúrgico, cross-link, entre outros.

Entre o início de 2014 e a metade de 2015, coordenou a equipe de desenvolvimento da área de óptica da empresa “Opto Eletrônica SA”.

Em 2017, finalizou seu curso de Doutorado, no qual desenvolveu um retinógrafo coaxial não-midriático de baixo custo com um inovador sistema de iluminação. Atualmente, é Gerente de Projetos na empresa são-carlense “Eyetec Equipamentos Oftálmicos”.

(Com informações da FAPESP)

Rui Sintra – Assessoria de Comunicação – IFSC/USP

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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