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1 de dezembro de 2016

Impacto, foco e governança desafiam a ciência brasileira

O simpósio Desafios para a Ciência e Tecnologia no Brasil, com o qual a FAPESP comemorou o centenário da Academia Brasileira de Ciências (ABC), reuniu boa parte dos membros titulares da Academia sediados em São Paulo e destacados pesquisadores de universidades e instituições paulistas de pesquisa.

No encontro, em que se “celebrou a ciência”, nas palavras de Luiz Davidovich, presidente da ABC, 11 acadêmicos apresentaram um diagnóstico do estado da arte da pesquisa em suas respectivas áreas de conhecimento e apontaram perspectivas para o avanço da ciência brasileira nos próximos anos.

Alguns desafios estratégicos começaram a ser apontados antes mesmo das apresentações, na mesa de abertura. “O impacto da ciência brasileira está caindo, apesar do número de trabalhos aumentar”, diagnosticou José Goldemberg, presidente da FAPESP. Isso decorre, em sua avaliação, da falta de foco da pesquisa, que pulveriza recursos, gera frustrações, inibe o surgimento de “ideias novas” e distancia a ciência da sociedade.

Esse quadro é agravado pelo sistema de avaliação das agências que enfatizam o número de artigos publicados e não necessariamente a qualidade. “Temos que introduzir sistemas de avaliações novos para medir corretamente esse impacto.”

“Publicar vale a pena, mas não é tudo”, sublinhou o presidente da ABC. E retomou a questão da ciência a serviço da sociedade, ainda que a pesquisa, inicialmente, não sinalize resultados práticos. Lembrou que no início do século 20, Einstein, Max Planck e Werner Heisenberg desenvolveram investigações básicas que, um século depois, materializavam-se em 1/3 do Produto Interno Bruto (PIB) norte-americano na forma de dispositivos de física quântica, como lasers, por exemplo. ” A diferença entre ciência básica e aplicada está cada vez mais difusa por conta da rapidez com que se desenvolvem a pesquisa e as novas tecnologias”, reconheceu. “Mas precisamos seguir avançando na direção de inovações disruptivas.”

Eduardo Moacyr Krieger, vice-presidente da FAPESP, introduziu no debate o desafio da qualidade da produção científica e da formação de recursos humanos. O Brasil, ele afirmou, “aprendeu” a fazer ciência e a formar recursos humanos, tanto que cresceu o número de artigos publicados e de doutores. “Mas esse número ainda é insuficiente e a qualidade do que se faz também. Há, portanto, o desafio de compatibilizar a expansão ainda necessária com o apoio a núcleos de excelência em áreas prioritárias”, afirmou.

Para Krieger, o grande desafio da ciência é produzir e usar o conhecimento para o desenvolvimento social e econômico. Em sua avaliação, o diálogo da ciência com o setor produtivo tem sido profícuo – “Veja o exemplo da FAPESP”, sublinhou –, mas não identifica o mesmo sucesso na interlocução com o setor de saúde. “A pesquisa em cooperação com o setor público é pouco explorada.”

Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, retomou o debate sobre o papel da ciência. “O impacto social e econômico da ciência não depende apenas da universidade”, emendou. “Quem leva o impacto à sociedade é o governo ou a empresa. Universidade não faz produtos, ou cria políticas. Para ter impacto econômico de ciência e pesquisa é preciso ter atividade de pesquisa na empresa, dentro da empresa. Não estou falando sobre transferir resultados de universidades ou institutos para empresas, mas sobre a empresa, ela mesma, ter pesquisadores que foram bem educados em universidades e que são capazes de criar novos produtos, processos e serviços. Acontece que a economia brasileira tem um sistema de desincentivo à pesquisa nas empresas; aqui a empresa prospera por outros meios.”

A questão do impacto e foco da ciência no país, a qualidade da formação de recursos humanos e o papel do Estado no compartilhamento do conhecimento com a sociedade voltaram à pauta ao longo do dia de apresentações e debates.

“O Brasil precisa ter uma agenda top down de pesquisa”, afirmou João Fernando Gomes de Oliveira, vice-presidente da ABC e membro do Conselho Superior da FAPESP. “As agendas tentam contemplar todos os setores e não têm foco. Falta governança na pirâmide de decisões no país”, ele diagnosticou.

Na avaliação de Carlos Américo Pacheco, diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo da FAPESP, o quadro de governança é agravado pelo fato de as agências terem perdido a “capacidade de ter massa crítica”, comprometendo a capacidade técnica do Estado.

Pacheco lembrou que o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) – criado em 2001, durante a 2ª Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia, no período em que ocupava o cargo de secretário executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia – foi concebido como uma “instância geradora” de temas para os Fundos Setoriais – constituídos dois anos antes. “Em vez de fazer top down do Planalto, o CGEE ouvia a planície. Esse papel precisa ser resgatado.”

(In FAPESP 2016)

Assessoria de Comunicação – IFSC/USP

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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