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17 de agosto de 2016

IFSC/USP reúne centenas de jovens pesquisadores

O efetivo avanço da ciência se dá através de boas e ousadas ideias. E foi a partir dessa premissa que nasceu a Escola de Pesquisadores da USP, que, entre os dias 10 e 11 de agosto, foi o evento responsável por lotar o auditório do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP) “Professor Sérgio Mascarenhas” com pesquisadores de vários estados do país com um interesse em comum: saber como, literalmente, colocar no papel suas boas ideias relacionadas à ciência e os melhores caminhos para divulgá-las.

Escola_de_Pesquisadores-_logoIdealizada e coordenada pelo docente do IFSC, Valtencir Zucolotto, e contando com o apoio das servidoras da biblioteca do Instituto, a Escola contou com uma programação que abrangeu todos os tópicos necessários para treinar e motivar jovens cientistas, especialmente pós-doutorandos e pós-graduandos, a fazerem ciência de alto impacto e de relevância, características essenciais da verdadeira ciência. Mas a programação ainda foi além: trouxe importantes nomes que fazem ciência, ou que estão nos bastidores do mundo científico, para falar sobre a pesquisa no país, seus rumos, seus desafios e maneiras palpáveis que possibilitam seu avanço contínuo.

Tendo início logo no começo da manhã do dia 10, mais precisamente às 8h30, a Escola foi aberta pelo docente e diretor do IFSC, Tito José Bonagamba, que destacou a importância dos pesquisadores e, principalmente, da disseminação e divulgação da ciência, cujo instrumento principal é o próprio artigo científico.

Logo depois de Tito, o Pró-Reitor de Pesquisa da USP, José Eduardo Krieger, tomou a palavra para falar sobre “Ciência de Alto Impacto”. Destacando que a proposta do evento em questão vai ao encontro do principal objetivo da USP, que é a formação de pessoal especializado, Krieger enfatizou que a sociedade, em geral não percebe a importância dessa formação, justamente pelo fato de não ter a percepção de que a USP é voltada especialmente à pesquisa. “O conhecimento do método científico é essencial para o progresso da ciência, e a Escola de Pesquisadores tem justamente esse papel”, afirmou.

Escola_de_Pesquisadores-_KriegerKrieger fez alguns recortes históricos sobre o método científico, através do qual se tem as respostas para as mais diversas perguntas. Destacou o papel da universidade como um centro gerador de conhecimento, e não de patentes, enfatizando que “transformar o conhecimento em riqueza é essencial”. E questionou: “Fala-se muito do impacto de pesquisa, mas impacto para quem? A geração de conhecimento está trazendo o impacto desejado pela sociedade?”.

O Pró-Reitor também destacou que os cientistas brasileiros publicam muitos artigos, mas a ciência brasileira ainda não possui a qualidade desejada. “Excelência e qualidade são a mesma coisa. Precisamos usar esse momento de crise para pensar em novos modelos de gestão, e também de pesquisa. Produzimos muitos papers, mas eles não são de alto impacto, em nenhuma área do conhecimento”, lamentou.

Além de trazer diversos números e indicadores de pesquisa no país, como o número de mestres, doutores e pós-doutores que o Brasil forma por ano, Krieger salientou que a “pesquisa utilitária” é importante, mas que não é somente esse tipo de pesquisa que as universidades como um todo devem focar. E trouxe algumas possíveis soluções para resolver alguns dos problemas mencionados durante a palestra, que podem ser resolvidos através da facilitação de pesquisas interdisciplinares, o desenvolvimento de projetos de longo prazo e de alto impacto, capazes de trazer o avanço do conhecimento, o aumento do número de pós-doutores e a intensificação de parcerias internacionais para a pesquisa.

Escola_de_Pesquisadores-_ZucolottoAinda no período matutino, Zucolotto, com uma vasta experiência em ministrar cursos de escrita científica (centenas deles), enfatizou o pioneirismo da Escola de Pesquisadores em trazer a capacitação de pessoas para disseminar e divulgar a ciência, mas ressaltou que, muitas vezes, falta ousadia na concepção das pesquisas científicas, mesmo argumento defendido por Krieger. Durante sua palestra “Projetos de pesquisa”, o docente trouxe informações a respeito das etapas para construção desses projetos, enfatizando que a mais importante delas é justamente a ideia do mesmo. “Boas ideias produzem, por sua vez, bons avanços científicos. É preciso pensar ‘fora da caixa’ quando se fala em pesquisa”.

E para se ter boas ideias, Zucolotto deu importantes dicas: conhecer bem a

Escola_de_Pesquisadores-_Cris_e_Sabrinaárea de pesquisa na qual se atua e pessoas que pesquisam nessa área, participar de congressos, fazer uma boa revisão bibliográfica, conhecer o estado da arte e o que se encontra na fronteira do conhecimento, estudar e discutir com parceiros de pesquisa e orientadores. “Pergunte, pense, ouse, implemente!”, enfatizou o docente.

No período diurno, palestras de caráter mais técnico, mas não menos importantes, foram ministradas. A primeira delas, apresentada pelas bibliotecárias do IFSC, Maria Cristina Dziabas e Sabrina Mastrantonio, foi focada em duas ferramentas de extrema utilidade para busca e gerenciamento de referências bibliográficas. As bibliotecárias falaram, primeiramente, sobre a Web of Science (Thomson Reuters®), conjunto de bases de dados compiladas pelo Institute for Scientific Information (ISI) e que reúne artigos de publicações nacionais e internacionais em todas as áreas do conhecimento. Logo depois, elas falaram sobre o EndNote, gestor de referências bibliográficas, também produzido pela Thomson Reuters.

Escola_de_Pesquisadores-_HelenaLogo depois, foi a vez da docente do Departamento de Ciência da Computação da UFSCar, Helena de Medeiros Caseli, ministrar a palestra “Metodologia Científica”, durante a qual a docente trouxe informações a respeito de tipos de pesquisa, métodos de pesquisa e, especialmente, razões pelas quais as pesquisas são feitas, como trazer respostas práticas a problemas específicos (ou não), melhor compreensão sobre certos assuntos e, finalmente, a coleta, organização e apresentação de informações de maneira confiável e verificável. Helena elencou todas as etapas de uma pesquisa (como seu objetivo, a definição do tema, o problema a ser averiguado etc.) e falou detalhadamente sobre cada um deles, trazendo também reflexões que convergem para algumas já feitas anteriormente: o que é imprescindível para uma pesquisa é a relevância de sua contribuição científica.

A segunda parte da Escola

Para abrir o segundo dia da Escola de Pesquisadores da USP, um renomado pesquisador foi escolhido. Docente do IFSC e ex-presidente do CNPq, Glaucius Oliva ministrou a palestra “O futuro da universidade e da pesquisa no Brasil”, afirmando que um dos maiores desafios da ciência brasileira é melhorar sua comunicação, tanto com outros pesquisadores, como também com o público geral. “A percepção da sociedade em relação ao progresso científico é falha, e os cientistas precisam melhorar isso. É preciso que melhoremos nossa comunicação urgentemente”, afirmou.

Escola_de_Pesquisadores-_GlauciusGlaucius fez um panorama histórico da ciência no país, relembrando as dificuldades pela qual o Brasil passou- e ainda passa- nesse quesito. Mas falou também sobre seu progresso, informando que 60% das publicações científicas da América Latina são de origem brasileira e que a pós-graduação sempre foi o grande motor da ciência. Lembrou que o número de brasileiros matriculados em cursos de nível superior tem crescido, porém ainda é muito baixo. “Embora exista um quadro de crescimento, há grandes desafios pela frente, e fazer ciência de qualidade e impacto é o maior deles”, afirmou, fazendo coro com seus colegas.

Outros problemas foram elencados por Glaucius como a escassez cada vez maior de recursos para financiamento de pesquisas, a visão enviesada da ciência brasileira, como o fato de que a ciência básica não é tão importante quanto a aplicada, a inércia no número de patentes depositadas (praticamente o mesmo desde 1998) e a burocracia que envolve o mundo científico. Porém, destacou também alguns aspectos positivos, como a participação de empresas no progresso científico brasileiro, a exemplo da Embrapa e da Embraer.

Escola_de_Pesquisadores-_MarceloLogo depois de Glaucius, foi a vez do docente da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP), Marcelo Krokoscz, que tratou de um assunto polêmico: ética científica e plágio, título da palestra que ministrou. Destacando que a percepção da ciência no Brasil é ruim, algo que prejudica sua produção e evolução, Marcelo afirmou que muitos cometem plágio, trazendo um número preocupante a esse respeito: 9 a 18% de pesquisadores seniores cometem plágio.

Marcelo destacou que é muito comum a prática de falsificação ou fabricação de dados científicos, bem como abusos na publicação de estudos, e citou algumas leis relacionadas ao plágio científico.

Escola_de_Pesquisadores-_Maria_e_EduardoA primeira palestra do período da tarde teve como ministrantes Maria Aparecida de Souza, diretora técnica da Agência USP de Inovação, e Eduardo Vieira Brito, analista administrativo da Agência, para falar sobre “Propriedade Intelectual: escrita de patentes”. Durante uma hora e meia, Maria Aparecida e Eduardo falaram sobre patentes, trazendo um extenso e importante tutorial a respeito do depósito de patentes e todas as etapas que envolvem esse processo. Além disso, trouxeram um cenário geral da inovação no Brasil, profundamente alterado pelas novas necessidades tecnológicas. “A geração de uma patente tem tudo a ver com a geração de empregos. A inovação só acontece, de fato, quando um produto está sendo utilizado pela sociedade”, afirmou Maria Aparecida.

Entre as etapas do patenteamento, Maria deu importantes dicas relacionadas, como a verificação do momento ideal para o depósito, objetos que serão protegidos, preparo dos documentos, acompanhamento do pedido, entre outros. Eduardo finalizou a palestra destacando o papel da Agência USP de Inovação no processo do depósito de patentes.

Encerrando a Escola, a palestra “Escrita Científica e Editoração”, novamente ministrada por Zucolotto, trouxe informações referentes ao artigo científico em si, sua estrutura e o que acontece depois que o artigo foi submetido para publicação, ou seja, quando ele finalmente chega ao editor, bem como as etapas posteriores. Zucolotto também falou sobre o gênero “escrita científica”, comparando-o com outros mais conhecidos, como poesia, ficção etc., trazendo aos participantes uma excelente visão sobre a mais importante ferramenta para divulgação e disseminação da ciência: o artigo científico.

A impressão do idealizador do evento

Embora tenha contado com quase 300 participantes, o número de interessados que efetuaram pré-matrícula na 1ª Escola de Pesquisadores da USP superou 700. Depois de dois dias muito produtivos, porém bastante cansativos, Zucolotto afirma que a satisfação profissional foi imensa. “Sinto-me muito honrado em fazer parte disso. Esse evento, desde o começo, foi pensado para resolver os problemas mais comuns dos jovens cientistas, especialmente dos pós-graduandos e pós-doutorandos”, relembra.

Escola_de_Pesquisadores-_publicoAo longo dos dez anos que já ministra cursos com esse foco, Zucolotto diz que conseguiu enxergar de maneira mais profunda as principais falhas na escrita científica de muitos pesquisadores, trabalhando continuamente para eliminá-las. “As dificuldades, muitas vezes, estavam no começo da pesquisa. Então, foi surgindo uma ideia de se fazer um evento que abordasse todas as etapas da vida do pesquisador, e, mais do que isso, que trouxesse esclarecimentos a respeito de como superar dificuldades”.

Para Zucolotto, o esforço e dedicação de cada participante são muito importantes para que essas falhas sejam eliminadas. “Uma vez que eles estejam realmente dispostos a melhorar a qualidade de seus trabalhos científicos, acredito que nosso curso terá poder para amadurecer e, claro, melhorar de maneira expressiva a qualidade da pesquisa de cada um dos participantes”, afirma. “Nós sabemos quais são as dificuldades desses pesquisadores, e sempre buscamos mostrar que essas dificuldades são compartilhadas por muitas outras pessoas e que elas podem ser superadas”.

Ao idealizar a Escola de Pesquisadores da USP, Zucolotto afirma que pretende tornar o evento itinerante e modular (que abranja todas as áreas do conhecimento), pretendendo levá-lo a outras Unidades da USP bem como a outras universidades, e já possui convites informais para tal. Independente do local e da duração do evento, ele diz que, além de auxiliar os jovens pesquisadores em suas dificuldades comuns relacionadas à escrita de artigos científicos e, sobretudo, na divulgação da ciência, o mais importante mesmo é o resultado desse projeto: “mostrar que todos são capazes de fazer pesquisa de altíssimo ível, e de alto impacto”, finaliza.

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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