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23 de maio de 2016

Como a cultura aproxima a Universidade da sociedade

A existência de instituições de ensino superior em cidades consideradas de pequeno e médio porte, na maior parte das vezes localizadas no interior dos estados, contribui não só para o desenvolvimento econômico das mesmas, mas, também, para o seu desenvolvimento social e cultural. E esse desenvolvimento pode ser ainda mais notório quando os dirigentes universitários decidem criar estratégias para que suas instituições abram as portas às comunidades locais, promovendo programas e diversos outros atrativos para que todos adentrem os portões do conhecimento e conheçam os espaços acadêmicos e científicos.

Contudo, é fato que a Universidade também tem que sair de seus redutos e ir ao encontro das populações, levando não só conhecimento, como, também, cultura. E é isso que tem acontecido ao longo dos anos e de forma crescente no Campus USP de São Carlos, tomando como exemplo as inúmeras atividades levadas a cabo pelo Centro de Difusão Científica e Cultural (CDCC), bem como pelas várias Unidades do Campus, permitindo-nos destacar aqui as ações realizadas pelo Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP), ao longo do tempo e com particular evidência nos últimos dois anos, principalmente no aspecto musical.

CONCERTOS_YVONNE_-_350Assim, salienta-se a organização da série de concertos denominada Concertos USP / Prefeitura de São Carlos que, mensalmente, desde 2015 até o presente momento, tem trazido ao Teatro Municipal de São Carlos apresentações da renomada USP Filarmônica, dirigida pelo Chefe do Departamento de Música da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP-USP), Maestro Prof. Rubens Russomanno Ricciardi, com a presença de músicos convidados, de renome nacional e internacional na área de música clássica, e de grupos extraídos da grande Filarmônica, que se dedicam a diversos gêneros musicais, que vão do jazz à MPB, passando pela música de câmara, etc.

E, se a expectativa do IFSC/USP era grande quanto à adesão do público são-carlense aos diversos gêneros da música clássica, o certo é que qualquer dúvida foi desfeita após a realização dos três primeiros concertos, onde se registrou (e continua a registrar-se) lotação esgotada no Teatro Municipal de São Carlos.

É a prova de que a cultura é um dos principais fatores de interligação entre a Universidade e a sociedade.

Contudo, essa série de eventos musicais tem a particularidade de suceder a um outro conjunto de concertos que se realizou com muito sucesso durante a década de 1980, no Teatro Municipal de São Carlos, a partir do entusiasmo da decana do Instituto de Física de São Carlos, Profa. Dra. Yvonne Primerano Mascarenhas. A docente viveu a infância e parte de sua juventude no Rio de Janeiro, então capital federal do país, que congregava um número apreciável de missões diplomáticas, principalmente embaixadas, que sempre recebiam artistas renomados de vários países. “Além de termos uma orquestra sinfônica brasileira, lá podíamos apreciar artistas franceses, alemães e italianos, que realizavam concertos no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, através da iniciativa das embaixadas”, recorda ela.

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Graduada em Física e Química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Profa. Yvonne realizou o doutorado em Físico-Química na Universidade de São Paulo e o pós-doutorado na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Em 1971, conquistou o título de livre-docência pela USP. Hoje, continua colaborando com o IFSC/USP, através de sua atuação no Grupo de Cristalografia do Instituto.

Yvonne Mascarenhas veio para São Carlos em 1956, ao lado de seu marido e também decano do IFSC/USP, Prof. Dr. Sérgio Mascarenhas, tendo trazido não apenas o espírito científico, mas também o entusiasmo cultural. No interior paulista, a Profa. Yvonne fez muita amizade com o já falecido Prof. Dr. Schiel (USP), que tinha um grande amor pela música clássica, paixão que demonstrava sempre que tocava seu piano de cauda, instalado na sala de sua casa, em São Carlos: ele não era conhecido apenas pela atuação como docente, mas também pelos pequenos eventos musicais, geralmente compostos por música barroca, que realizava ao lado de seus quatro filhos que igualmente tocavam instrumentos, como violoncelo, violino e flauta. Além dos filhos, outros amigos do Prof. Schiel também se juntavam a ele, formando trios ou quartetos musicais, para se apresentarem no município. Essas reuniões, que ocorriam sistematicamente, deram origem ao grupo de música de câmara denominado Ad Libitum, ainda hoje em atividade, formado tanto por músicos amadores como por profissionais.

Yvonne Mascarenhas relembra que, certa vez, o Prof. Schiel convidou Fritz Jank, um pianista alemão que havia se radicado no Brasil, para se apresentar em sua casa. Fritz aceitou o convite e, durante algumas manhãs de domingo, organizou uma série de concertos onde interpretou todas as sonatas de Ludwig van Beethoven. Ela relembra, também, um dia em que foi convidada pelo Prof. Schiel para ir a uma fazenda que Bruno Hollnagel – dono da empresa Agrindus – havia comprado em Descalvado, no interior paulista. Nessa fazenda havia uma tulha de café com vinte e cinco metros de comprimento, por quinze de largura, construída à base de pedra e que havia sido transformada em um salão de música pelo empreendedor.

FOLDER_1_-_250Bruno Hollnagel era casado com a já falecida Dona Alda Pimenta Hollnagel. Juntos, traziam artistas de primeira qualidade à fazenda. “Nesses concertos, os músicos explicavam quais eram os autores do repertório que seria interpretado, em que época esses compositores haviam vivido e o que havia inspirado essas personalidades… Eram eventos maravilhosos!”, comenta Yvonne Mascarenhas. Eram tão maravilhosos que, em 1976, a Profa. Yvonne organizou um curso científico em São Carlos e levou os pesquisadores participantes à tulha de café, onde tiveram a oportunidade de assistir um concerto feito pela filha de Bruno e Dona de Alda – Helena Jank -, que posteriormente chefiaria o Departamento de Música da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). “Assistimos a um programa lindo. O concerto foi a atividade que mais agradou os cristalógrafos que ministraram esse curso”, comenta Yvonne Mascarenhas que, além de música clássica (seu gênero musical predileto, principalmente, nos momentos que exigem demasiada concentração), também aprecia música popular brasileira.

Na década de oitenta, a docente tornou-se membro da Fundação Theodoreto Souto, conselho ligado a docentes do campus USP São Carlos, a partir do qual a Profa. Yvonne Mascarenhas organizou uma série de concertos no Teatro Municipal de São Carlos, em meados dos anos de 1987 e 1988. Nesses eventos musicais, ela trazia tanto musicistas consagrados, como músicos que eram premiados num concurso de música clássica promovido pela Rádio Eldorado. “A minha preocupação não era atrair um grande número de pessoas ao Teatro, mas sim introduzir esse tipo de atividade na cidade. E isso deu muito certo, porque vários desses concertos foram muito bem-sucedidos”. Nessa série de eventos musicais, houve apresentações do grupo Ad Libitum, Trio Brasileiro, Conjunto Musicamp, Coral da USP e de vários outros músicos e grupos musicais que interpretavam obras de diversos autores, como, por exemplo, Johann Sebastian Bach, Georg Philipp Telemann, Wolfgang Amadeus Mozart, Antonio Vivaldi, Ludwig van Beethoven, Heitor Villa-Lobos, Frédéric Chopin, Robert Schumann, Mozart Camargo Guarnieri, George Frideric Haendel, Niccolò Paganini, entre outros.

Obviamente, a realização desses concertos FOLDER_2_-_250exigia gastos com despesas relativas a transporte, estadia e alimentação. Mesmo assim, a Profa. Yvonne Mascarenhas sempre encontrava uma alternativa para reduzir os gastos: “Quando havia pouco recurso financeiro, eu convidava os músicos para se hospedarem em minha casa. E eles gostavam…”, recorda ela, rindo, ao lembrar dos momentos descontraídos que os músicos proporcionavam, incluindo durante as idas constantes dos musicistas à pizzaria Don Raffaele, onde tudo acabava em música. “Na própria pizzaria, eles tiravam os instrumentos e tocavam. Eram coisas muito espontâneas…”.

Essa série de eventos musicais, que estimulou a aproximação da sociedade são-carlense com a comunidade uspiana, teve fim ainda na década de 1980, quando a decana do IFSC/USP se desligou da Fundação e viajou a Inglaterra para desenvolver novos projetos científicos. Não admira que a paixão da Profa. Yvonne Mascarenhas pela música clássica continue bem viva. Ainda hoje, ela lamenta o encerramento das atividades de um conservatório musical que se localizava na região central de São Carlos e que era dirigido pela já falecida pianista, Dona Cacilda, avó do Prof. Dr. Luciano da Fontoura Costa, docente do IFSC/USP. Com o avanço da idade, Dona Cacilda interrompeu suas atividades no conservatório e não encontrou alguém que pudesse continuar a dirigir o local. “O conservatório tinha uns trinta anos quando foi fechado. Acho que a prefeitura poderia ter municipalizado o espaço…”. Hoje, esse edifício é sede de um escritório de advocacia.

A Profa. Yvonne Mascarenhas é assídua espectadora da série Concertos USP / Prefeitura de São Carlos e de outros eventos culturais de grande nível que acontecem na nossa cidade, sendo ela, também, a personificação dos benefícios colhidos quando a Universidade interage com a sociedade.

Assessoria de Comunicação – IFSC/USP

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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