Notícias

5 de maio de 2016

Os desafios e avanços da pesquisa nacional

As primeiras instituições de ensino superior no ciencia_nacional_250Brasil surgiram apenas no século XIX. As agências de fomento à pesquisa se estabeleceram em meados do século passado e o sistema nacional de programas de pós-graduação foi implantado na década de 1970. Apesar desse surgimento tardio do sistema científico e tecnológico, as atividades científicas brasileiras têm crescido enormemente nas últimas décadas, em praticamente todas as áreas do conhecimento.

No artigo Research Landscape in Brazil: Challenges and Opportunities, publicado em março deste ano no The Journal of Physical Chemistry C, o Prof. Osvaldo Novais de Oliveira Jr. (IFSC/USP) explica que o sistema nacional de pós-graduação é um dos principais fatores responsáveis pelo crescimento da ciência no país, já que o número de mestres e doutores formados no Brasil aumentou no mesmo ritmo da produção científica. Apenas em 2015, as universidades nacionais formaram cerca de 16.700 doutores.

Membro da Academia de Ciências do Estado de São Paulo, Osvaldo enfatiza o grande avanço verificado na ciência brasileira, hoje responsável por 2,7% da produção científica mundial. Um exemplo desse crescimento está no número de publicações de artigos científicos sobre físico-química. Metade dos artigos brasileiros, nesse campo de pesquisa, foi publicada ao longo dos últimos dez anos. Na contabilidade de todas as áreas, em 1981 foram publicados apenas dois mil artigos científicos, por pesquisadores atuando no Brasil, ao passo que em 2014 esse número superou quarenta mil artigos.

Mais qualidade e inovação

Apesar de haver uma produção relativamente numerosa de artigos científicos, tanto em revistas científicas nacionais como internacionais, o impacto desses trabalhos não é tão alto quanto o de artigos produzidos por pesquisadores nos países desenvolvidos e mesmo em países emergentes e da América do Sul, como a Argentina. “Ainda precisamos melhorar o impacto das pesquisas que geramos no Brasil”, comenta Oliveira Junior.

Para o docente do IFSC/USP, outra limitação do sistema científico-tecnológico brasileiro está na baixa produção de inovação tecnológica, atendendo ao fato de haver muita ciência sendo produzida no país, mas que não é acompanhada por criação de tecnologia que possa beneficiar o conjunto da sociedade. E esse cenário se reflete no baixo número de patentes geradas no Brasil. No artigo acima citado, Oliveira Junior descreve que a falta de inovação ocorre por diversos motivos, tais como ambiente econômico inadequado e legislação desfavorável. O pesquisador enfatiza, a propósito, que o Brasil tem base tecnológica sólida apenas em algumas áreas, mais especificamente no agronegócio, na extração de petróleo em alto mar e na produção de aeronaves de médio porte, sendo que em cada uma dessas áreas é possível identificar iniciativas e instituições de pesquisa e desenvolvimento que colocaram o Brasil como um dos líderes mundiais. “Inovar nessas três áreas é eficiente, porque houve bastante investimento prévio para a construção da base tecnológica”, enfatiza o pesquisador, acrescentando que sem a construção de uma base tecnológica, parte das iniciativas de empreendedorismo em outros setores, principalmente nos que envolvem alta tecnologia, tende a fracassar.

Quais são as soluções?

Segundo Osvaldo de Oliveira Junior, para que os artigos assinados por pesquisadores nacionais tenham mais impacto, é necessário desenvolver pesquisas com mais qualidade. Para isso, o docente lista dois desafios que devem ser superados: o primeiro consiste na formação de mais cientistas qualificados, enquanto o segundo diz respeito ao oferecimento de infraestrutura mais adequada, como implementação de novos laboratórios nacionais e suporte de pessoal para o desenvolvimento de pesquisas.

Outras questões relacionadas aos desafios citados ganharam especial destaque no artigo. Por exemplo, quase 50% da produção científica nacional se concentram no estado de São Paulo e em poucos grupos de pesquisa. “Isso não é bom. É necessário ter uma distribuição mais igualitária, levando grandes lideranças [profissionais experientes e capacitados] para centros emergentes [em São Paulo e em outros estados brasileiros]”.

CHU_-_ciencia_brasileira_-_500

Mais do que formar pesquisadores nacionais qualificados, Oliveira Junior acredita que o Brasil tem que atrair especialistas do exterior. Essa estratégia é comum em universidades norte-americanas, que são responsáveis pela produção de pesquisas de alto impacto. Mas, para adotá-la, o país deve superar uma série de dificuldades, já que não é tão atrativo para pesquisadores estrangeiros, tanto pelo fato de não ter o inglês – língua franca da ciência e da tecnologia – como seu idioma oficial, ou de ter uma situação econômica instável. “Além disso, precisamos implantar um programa mais agressivo que seja capaz de atrair jovens pesquisadores do exterior. Existem alguns programas com esse intuito, porém, não trazem uma quantidade significativa de estudantes para o Brasil”, explica ele, destacando que, para atingir um bom nível de internacionalização, o país também precisa investir ainda mais na educação básica, que, por motivos óbvios, reflete na formação dos profissionais brasileiros.

A despeito do impacto científico abaixo do desejado e da pouca inovação tecnológica, o Brasil tem dado demonstrações de que pode gerar contribuições de grande relevância. A alta qualidade da medicina brasileira, com consequências tão importantes para a sociedade, é um bom exemplo. Entretanto, para dar um salto em inovação e desenvolvimento de alta tecnologia, Osvaldo de Oliveira Junior diz que o Brasil depende de uma decisão concertada de governos, agências de fomento, instituições de pesquisa e setor privado. Para repetir o esforço bem-sucedido de geração de cientistas, agora com profissionais que se dediquem à inovação, neste aspecto existe a vantagem de o país ter uma produção científica e intelectual ampla, em todas as áreas, incluindo ciências sociais e humanidades, e não apenas nas áreas que aparentemente estão mais ligadas à tecnologia. “Esses conhecimentos podem ser muito úteis para a nação que queremos construir nos próximos anos”, conclui nosso entrevistado.

Assessoria de Comunicação – IFSC/USP

Imprimir artigo
Compartilhe!
Share On Facebook
Share On Twitter
Share On Google Plus
Fale conosco
Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
Obrigado pela mensagem! Assim que possível entraremos em contato..