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3 de fevereiro de 2016

Spin-off do IFSC participa da construção de satélite brasileiro

Em 07 de dezembro de 2014, pesquisadores da OPTO Eletrônica S/A (uma spin-off do Instituto de Física de São Carlos – IFSC/USP), sediada em São Carlos, acompanharam o lançamento do foguete Longa Marca 4B, que aconteceu no Taiyuan Satellite Launch Center, na China, que colocou em órbita o Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres CBERS-4, em que 55% da produção foi desenvolvida no Brasil, com financiamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).

O CBERS-4, que pesa cerca de duas toneladas,AMA1-250 é composto por quatro câmeras que permitem captar imagens para monitorar áreas de desmatamento da Amazônia, expansão de regiões agrícolas e analisar mapas de queimadas, bacias hidrográficas e o desenvolvimento urbano. As duas câmeras principais do satélite (Câmera Multispectral e Câmera Imageadora de Amplo Campo de Visada) foram desenvolvidas pela OPTO, sendo que a câmera Imageadora foi fabricada em parceria com outra empresa nacional. Ambas as câmeras têm sensores CCD visíveis e infravermelhos que permitem destacar através de imagens de cores distintas as áreas de desmatamento.

A missão, que ocorreu com sucesso, estava programada para acontecer no final de 2016. A antecipação do lançamento deveu-se a uma falha que foi registrada em um dos estágios finais do lançamento do foguete responsável por colocar em órbita o CBERS-3 e que resultou na destruição de todo o equipamento, ocorrida em dezembro de 2013. Como já se sabe que nesse tipo de missão podem ocorrer inúmeras falhas, os pesquisadores brasileiros e chineses haviam se precavido, tendo produzido outros dois conjuntos de equipamentos similares – o que possibilitou o lançamento do CBERS-4, em 2014.

Satélite 100% nacional

amazonia-1-250Graças ao sucesso na produção das citadas câmeras e, inclusive, do lançamento do CBERS-4, a OPTO foi novamente convidada pelo MCTI para fabricar as três câmeras do Amazonia-1, satélite que está sendo produzido inteiramente no Brasil e que deverá entrar em uma órbita com distância aproximada da Terra de 750 quilômetros. As imagens capturadas por suas câmeras poderão ser utilizadas para monitorar o desmatamento na Amazônia e os recursos naturais brasileiros, e reforçar as áreas de segurança de fronteira e de vigilância contra o tráfico de drogas.

Com um orçamento estimado em R$ 233 milhões, o Amazonia-1, que pesará cerca de quinhentos quilos, está sendo desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), a partir da Plataforma Multimissão (PMM), uma estrutura criada pelo INPE e que será composta pelos diversos componentes básicos que constituem um satélite, como, por exemplo, os coletores solares, o computador de bordo, as baterias, etc.

Ao ter aceitado este segundo convite do MCTI, a OPTO enfrentou um grande desafio: fabricar câmeras que fossem capazes de fazer imagens de uma faixa de 850 quilômetros de largura, ou seja, imagens com faixa de largura três vezes maior que as capturas pelas câmeras do CBERS-4. O desafio foi aceito – e cumprido. Embora a qualidade da imagem das novas câmeras não seja melhor que as processadas pelo CBERS-4, o certo é que elas permitem visualizar com facilidade uma área desmatada. Para se ter uma noção da capacidade das novas câmeras da OPTO, imagine que, se elas fossem instaladas na cidade de São Paulo, elas permitissem visualizar a circulação de carros em Brasília (DF).

Devido à largura de faixa das imagens, as câmeras fabricadas pela OPTO para o Amazonia-1 levam cerca de dez minutos para capturar cada faixa de imagem: isso permitirá que o satélite dê uma volta completa pela Terra em cinco dias. O CBERS-4, por exemplo, só consegue revisitar a Terra a cada vinte e sete dias, mesmo tendo um tempo semelhante ao do Amazonia-1 para fazer a imagem de uma única faixa.

De acordo com o Prof. Jarbas Caiado de Castro Neto, docente do Grupo de Óptica do IFSC/USP, empreendedor e acionista da OPTO, o JARBAS_CAIADO_350curto tempo de revisita do equipamento é muito importante neste caso, porque, em 27 dias, por exemplo, a probabilidade de se identificar os responsáveis pela causa de um desmatamento na Amazônia é baixa. “Em cinco dias, é difícil praticar desmatamento em uma determinada área e conseguir escapar ileso. Então, o tempo de revisita do satélite faz uma grande diferença”, explica ele, destacando que a tecnologia das câmeras (no que se refere à qualidade, durabilidade, etc.) desafia o limite tecnológico daquelas existentes atualmente no mercado. “Se o Amazonia-1 realmente for lançado, existem chances do satélite fazer história”, diz.

O protótipo funcional do satélite, estrutura que é submetida a diversas avaliações, já tem passado por diversos testes. Em dezembro de 2014, o INPE finalizou com êxito os testes térmicos do satélite, onde simulou condições que o Amazonia-1 deverá enfrentar quando estiver em órbita, tendo em vista que, no espaço, há radiação espacial, vácuo e temperaturas extremas que variam entre -50ºC e +100ºC. Em 2016, também deverão ser feitos alguns testes de compatibilidade eletromagnética para analisar o funcionamento dos subsistemas do satélite. Todos os testes são feitos em um mega laboratório pertencente ao INPE, em São José dos Campos (SP).

Com o protótipo do satélite já fabricado, o próximo passo da OPTO será desenvolver as câmeras que serão acopladas ao modelo de vôo – a versão finalizada do satélite – que será enviado à China, onde deverá ser lançado em 2018. Pelo fato do Brasil não ter um foguete para esta finalidade, o INPE ainda não decidiu qual modelo produzido internacionalmente fará o lançamento do Amazonia-1.

Embora existam expectativas de que o satélite seja lançado em 2018, o Prof. Jarbas Caiado mostra-se cético quanto a esta previsão, principalmente em razão da falta de orçamento na área de pesquisa e desenvolvimento nacionais. “As questões orçamentárias estão bastante complicadas. Então, eu diria que esta previsão para 2018 é bem otimista. Se a OPTO não receber recursos para este projeto em 2016, dificilmente o Amazonia-1 será lançado em 2018”, opina o docente.

Para o Prof. Jarbas, o projeto prova a capacidade que o país tem de produzir um satélite totalmente nacional. Além disso, segundo Jarbas, esse trabalho demonstra a importância que o Instituto de Física de São Carlos tem no processo de formação de excelentes profissionais, já que parte dos especialistas da OPTO passou pelo IFSC/USP. “O Grupo de Óptica do IFSC formou um grupo extremamente diferenciado de cientistas que se dedica ao desenvolvimento de instrumentos ópticos, e que hoje participa deste projeto do MCTI”.

André Orlandi, de 27 anos, aluno do Grupo de Óptica do IFSC, esteve na ANDR_ORLANDI_300OPTO durante vários anos, tendo participado do desenvolvimento de ambas as câmeras do CBERS-4. Atualmente, Orlandi está desenvolvendo o doutorado no IFSC/USP, mas espera, futuramente, voltar à spin-off, com a esperança de integrar o time de pesquisadores que desenvolverá novas câmeras para o Amazonia-2, cujo projeto ainda está sendo definido. “Eu sempre tive muita vontade de trabalhar em empresa privada, porque os resultados são mais rápidos. Além disso, sempre gostei de trabalhar na OPTO, porque o estilo de desenvolvimento dela é fantástico”.

O desmatamento da Amazônia em números

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(Créditos da imagem: WWF Brasil/Bruno Taitson)

De acordo com dados obtidos a partir do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (PRODES/INPE), a taxa de desmatamento na Amazônia, em 2015, teve um crescimento de 16% (5.831 quilômetros quadrados de desmatamento), em comparação com os dados referentes ao ano de 2014 (5.012 quilômetros quadrados). Em contrapartida, os dados atuais, que foram colhidos entre agosto de 2014 e julho de 2015, representam uma redução de 79% do desmatamento, em relação àqueles obtidos em 2004.

A imagem abaixo, divulgada pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), destaca as principais áreas da Amazônia, onde ocorre o desmatamento:

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Rica em biodiversidade, a Amazônia compreende os estados do Acre (AC), Amapá (AP), Amazonas (AM), Mato Grosso (MT), Pará (PA), Rondônia (RO), Roraima (RR) e Tocantins (TO), e corresponde a 59% de todo o território brasileiro.

(Imagem 1: Wikimedia Commons)

Assessoria de Comunicação – IFSC/USP

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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