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19 de novembro de 2015

Pesquisadores reúnem-se para debater doenças negligenciadas

DRGDSGLOGOGUIDO-250Entre os dias 09 e 13 de novembro, o Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP) realizou no Auditório Prof. Sérgio Mascarenhas (IFSC/USP) o 2nd Workshop on Drug Design and Neglected Tropical Diseases. Organizado pelo Prof. Dr. Rafael Guido, do Grupo de Cristalografia desta Unidade, e por Artur Cordeiro, ex-aluno do IFSC/USP e pesquisador do Laboratório Nacional de Biociências do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (LNBio/CNPEM), o evento reuniu diariamente cerca de 30 participantes do Brasil e do exterior, dentre estudantes e pesquisadores, que se atualizaram sobre novas metodologias voltadas ao planejamento de fármacos para o tratamento de doenças tropicais negligenciadas (NTD, na sigla em inglês) – patologias endêmicas causadas por organismos infecciosos ou parasitas.

As palestras deste workshop, que PUBLICO-2ND_WORKSHOP_GUIDO_300ocorreu no âmbito do Centro de Pesquisa e Inovação em Biodiversidade e Fármacos – CIBFar*, foram apresentadas por especialistas nacionais e internacionais, incluindo os Profs. Drs. Adriano Andricopulo, do Grupo de Cristalografia do IFSC/USP, Paul Michels, da University of Edinburgh (Escócia), e Wim Hol, da University of Washington (EUA). Nosso objetivo foi capacitar os pesquisadores, para que possam desenvolver novos fármacos. O workshop foi um incentivo, porque os participantes estiveram em contato com especialistas que atuam nessa área há muitos anos, explicou o Prof. Rafael Guido, tendo elogiado a qualidade das palestras e das discussões que decorreram durante o evento.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), existem 17** doenças tropicais negligenciadas, sendo que no Brasil se destacam a Dengue, Doença de Chagas, Leishmaniose e Esquistossomose. Por isso, incentivar os pesquisadores a apostarem no desenvolvimento de novos fármacos voltados ao RAFAEL_GUIDO_350combate de doenças tropicais negligenciadas é uma necessidade, tendo em vista também que as grandes indústrias farmacêuticas, segundo o Prof. Rafael, não têm tanto interesse em desenvolver medicamentos para esse tipo de patologia, já que este campo não é um mercado tão atrativo, no sentido financeiro. Nos últimos anos, nós [pesquisadores] temos tido bastante apoio das indústrias, porém, esse apoio tem mais caráter social e de marketing, do que de auxílio.

Uma morte por minuto

Graças às pesquisas que visavam ao seu combate, hoje a Malária (doença tropical transmitida ao ser humano pela picada da fêmea do mosquito Anopheles, infectada pelo parasita Plasmodium) não é mais considerada uma doença negligenciada, embora ainda seja a patologia tropical que mais mata pessoas no mundo, sendo responsável pela morte de aproximadamente 584 mil indivíduos por ano, o que equivale Malaria-doena-300a uma morte por minuto. Ainda que os índices de mortalidade da Malária, bem como das doenças tropicais negligenciadas, sejam preocupantes, Rafael Guido acredita que a evolução dos parasitas causadores dessas patologias tende a diminuir, em razão da melhoria de medidas sanitárias (qualidade de água, comida, etc.) que têm controlado a proliferação de organismos (vetores) que transmitem essas doenças. Ainda existem deficiências muito grandes no Brasil, assim como em países como África e Índia, onde é possível encontrar bastante água e comida contaminadas, que tornam esses lugares perfeitos para a proliferação de parasitas causadores das doenças negligenciadas, disse o docente do IFSC/USP.

Para Rafael Guido, atualmente o estado da arte na área de desenvolvimento de fármacos para o tratamento ou cura de doenças negligenciadas está centralizado na melhor compreensão de propriedades farmacocinéticas – aquelas propriedades que os medicamentos precisam ter, para que sejam capazes de se instalar em alguma proteína essencial para um parasita, combatendo-o -, já que, ao ser produzido, um fármaco deve resistir a diferentes temperaturas e às “barreiras” (como, por exemplo, as membranas) localizadas no organismo humano. Além de enfrentar esses obstáculos, um fármaco deve atingir o alvo certo, de modo a tratar o paciente com eficiência.

Perspectivas positivas

Ainda que o caminho para criar novos fármacos seja longo, especialistas acreditam que há boas perspectivas para o futuro na área em questão. O Prof. Paul Michels desenvolve pesquisas na área de NTD há três décadas e, ao longo de sua carreira, tem observado melhorias significativas no desenvolvimento de novos fármacos para o combate desse tipo de patologia. Um bom exemplo desse avanço é a tremenda diminuição do número de mortes causadas pela Doença do Sono, na África, disse ele. Segundo a OMS, em 2009, por exemplo, o número de casos registrados relacionados com a Doença do Sono caiu para 10 mil pela primeira vez em 50 anos. Em 2013, houve 6.314 casos registrados da doença.

No Biomolecular Structure Center, da University of Washington, o Prof. Wim Hol integra uma equipe de pesquisadores que tem buscado o desenvolvimento de agentes terapêuticos para o tratamento de doenças tropicais negligenciadas. Assim como o Prof. Michels, Wim Hol tem acompanhado o progresso da citada área, inclusive, no Brasil. Se olharmos para a situação do Brasil há 40 anos, é possível notarmos que ocorreu um progresso científico inacreditável. Esse avanço não atingiu tanto a área de desenvolvimento de novos fármacos, mas daqui a alguns anos esse setor deverá evoluir no país, já que nós viemos ao workshop para encorajar os novos pesquisadores a estudarem as doenças tropicais negligenciadas.

Quando questionado sobre as expectativas para o futuro dessa área, Artur Cordeiro disse acreditar que deverá ser possível desenvolver novas moléculas para o tratamento das doenças tropicais negligenciadas e se deparar com mais inovação, bem como com o surgimento de novas empresas de biotecnologia capazes de cumprir as etapas chaves da criação de fármacos, já que produzir e comercializar esse tipo de produto não é uma tarefa acadêmica, mas sim relacionada ao setor produtivo. De certa forma, o conhecimento gerado na academia tem que transpor essa barreira e permitir que a indústria transforme o conhecimento em algo aplicável, disse ele, tendo ressaltado a multidisciplinaridade requerida nessa área, um aspecto que foi observado no próprio workshop, que, além de alunos de física, reuniu estudantes dos cursos de química, farmácia e biologia.

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Prof. Paul Michels, Artur Cordeiro e Prof. Wim Hol

*Um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID’s) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).

**Bouba; Cisticercose; Dengue; Doença de Chagas; Dracunculíase; Esquistossomose; Equinococose; Fasciolíase; Filariose Linfática; Leishmaniose; Lepra; Oncocercose; Raiva; Helmintíase; Tracoma; Doença do Sono ou Tripanossomíase Humana Africana; e Úlcera de Buruli;

Na imagem 4: Mosquito Anopheles (Créditos: Wikimedia Commons).

Assessoria de Comunicação – IFSC/USP

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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