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8 de setembro de 2015

Por que são poucas?

Marie_Curie_1434920c_300_-_CREDITOS_TELEGRAPHSegundo uma pesquisa realizada pelo Unesco Institute for Statistics, apenas 30% do total de pesquisadores no mundo são mulheres. Embora esta estatística seja baixa, acredita-se que a participação do público feminino no ambiente profissional tem aumentado significativamente ao longo dos últimos anos. De acordo com o Censo da Educação Superior de 2010, entre as 20 carreiras de graduação com maior número de recém-formados, as mulheres são maioria em 15 delas. Além de serem a maioria entre os discentes nas universidades brasileiras, elas compõem aproximadamente 50% dos docentes que atuam em instituições públicas.

Interessada no papel da mulher na carreira científica, a Profa. Dra. Marcia Cristina Bernardes Barbosa (Diretora do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – IF/UFRGS e Vice-Presidente da União Internacional de Física Pura e Aplicada – IUPAP) pesquisou dados referentes à atuação do público feminino na carreira científica, tendo analisado que há uma disparidade no número de mulheres que iniciam a graduação e que dão continuidade à vida acadêmica na área de ciências exatas. Há um percentual menor que sobrevive. Então, existe um problema que é como todos os problemas brasileiros, que ficam em torno de uma capa de cordialidade, diz ela que, em 2013, foi uma das vencedoras do Prêmio L’Oréal-UNESCO para Mulheres na Ciência, graças à sua descoberta envolvendo uma das peculiaridades da água, que pode ajudar na compreensão de como os terremotos ocorrem e de como as proteínas se dobram, o que pode ser importante para o tratamento de várias doenças.

Sabe-se que a desvalorização da mulher ocorre não só na carreira científica. Contudo, nota-se que a discriminação e vagarosidade no avanço do público feminino na ciência se devem, segundo a pesquisadora, ao pequeno percentual de mulheres que apostam na profissão de cientista. O próprio poder de algumas áreas também parece contribuir para a desvalorização da mulher: Certas áreas da ciência, tal como a física, têm poder. A área de conhecimento tecnológico sempre teve poder. Então, a pessoa que sabe manipular a tecnologia tem o poder, e os homens sempre buscaram esse fator. É notável a ausência das mulheres sempre que uma profissão traz consigo algum tipo de poder, afirma Marcia, ressaltando que a informática é a área que mais causa esse impacto, porque quando surgiu era vista como um serviçinho e tinha um bom percentual de mulheres. Quando ela se tornou esse instrumento grandioso, as mulheres sumiram desse campo. É a única área em que o percentual de mulheres vem decrescendo.

Uma intrusa na aula de física

Era março de 1978, quando Barbosa assistia à sua primeira aula do curso de graduação em física na UFRGS e sentia-se uma intrusa, já que o número de mulheres na sala era diminuto. Esse sentimento fazia-me pensar que essa área não era para mim. E é assim que as mulheres se sentem nesses campos, afirma ela, dizendo que os homens raramente percebem que há esse impacto no público feminino. Contudo, para a docente, nem todas as mulheres sentem que são minoria em um curso de nível superior, mas, geralmente, essas mulheres, que normalmente têm sucesso profissional, são aquelas que levaram maior tempo para finalizar a graduação, o mestrado ou o doutorado, principalmente devido à gravidez.

Em uma pesquisa realizada pela docente, com jovens garotas, a diretora do IF/UFRGS notou que várias meninas de cerca de 12 anos têm interesse em casar e ter filhos. Ao perguntar como imaginam uma cientista, elas disseram que veem as cientistas como mulheres solteiras e sem filhos. Obviamente, essas crianças não vão querer ser cientista. Precisamos visibilizar cada vez mais a mulher cientista, que é uma pessoa comum e que pode ter qualquer personalidade, diz a pesquisadora, que também critica o horário e a dinâmica de trabalho atual:

Algo que me incomoda muito é que, no século dezenove, trabalhávamos X horas. No século vinte o dobro da população trabalhava e a gente continua trabalhando muito. Essa matemática me incomoda, porque se ‘todos’ estão trabalhando, deveríamos trabalhar menos horas. Trabalhamos o tempo todo e não conseguimos ter família. Eu não consigo pensar em marcar uma reunião às dezessete horas, quando tenho pais que têm que estar nessa reunião, porque dezenove horas é um horário que crianças saem da escola, etc., explica a diretora, acrescentando que é necessário saber dedicar-se à família e ao trabalho, de forma convergente.

A fórmula para esta problemática

Para Marcia Barbosa, MARCIA_BARBOSA_350as mulheres cientistas apenas deverão ser valorizadas no setor profissional, da mesma forma como os homens são, quando houver uma conciliação entre a família e o trabalho, bem como consciência do que é um cientista. Os cientistas são pessoas normais e é isto que temos que dizer às pessoas para mudarmos este cenário.

Em agosto último, Marcia Barbosa apresentou uma palestra no Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP), sobre o citado assunto, exatamente em uma Unidade que sempre se preocupou com o assunto e que, desde o início de sua história, conta com a participação da mulher, no caso, a nossa querida Profa. Dra. Yvonne Primerano Mascarenhas (IFSC/USP), que, graças ao seu empenho, esforço e trabalho incansável que ainda hoje desenvolve, fundou esta Instituição, em 1954, ao lado do Prof. Dr. Sérgio Mascarenhas.

Na foto 1 (Créditos: Telegraph): Marie Curie (Prêmio Nobel de Física [1903] e Química [1911]).

Assessoria de Comunicação

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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