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8 de fevereiro de 2011

Em parceria com a Organização Mundial de Saúde pesquisador busca a cura para Doença de Chagas

A participação em conjunto com a OMS, somada à interdisciplinaridade do grupo de pesquisa, vem trazendo resultados animadores e otimistas para o tratamento da doença que afeta cerca de 16 milhões de pessoas ao ano

No Instituto de Física de São Carlos (IFSC), o grupo de pesquisa coordenado pelo docente, Adriano D. Andricopulo, preocupa-se e direciona suas pesquisas a um assunto preocupante, que tem pouca atenção da mídia, mas que faz milhões de vítimas: doenças infecciosas negligenciadas, onde se incluem a malária, leishmaniose, esquistossomose, dengue, entre outras, além da Doença de Chagas, a qual ganha atenção maior do professor.

A Doença de Chagas, descoberta, inclusive, por um cientista brasileiro, Carlos Chagas, foi diagnosticada há mais de um século, mas, até agora, não possui tratamento adequado ou cura. Sua incidência é em toda América Latina, porém a preocupação começa a aparecer, também, em países da América do Norte. O número médio de afetados gira em torno de 16 milhões, levando a cerca de 20 mil mortos. “É uma doença grave, de fato, pela morbidade que causa”, explica Adriano.

A doença é dividida em duas fases: na fase aguda, ou seja, inicial, onde os sintomas são febre, dores de cabeça, na maior parte das vezes a vítima confunde tais sintomas com gripes ou resfriado. “Na fase aguda, onde a cura ainda é possível, não se consegue diagnosticar a doença e, depois desses sintomas iniciais, o doente fica 10, 20 anos sem sentir nada. Passado esse período, os sintomas voltam, de forma mais grave, e já não há mais nenhuma alternativa terapêutica”, explica Adriano.

Graças aos esforços do professor e de seu grupo de pesquisa, do IFSC, a Organização Mundial de Saúde (OMS) convidou-os para fazer parte de seu Centro de Pesquisa, sediado no Brasil, e o primeiro da América Latina, que se preocupa com esse tipo de problema e sua erradicação.

Através do estudo de sistemas moleculares, que vão sendo preparados para atuar contra alvos vitais de sobrevivência dos parasitas, o grupo de pesquisa de Adriano, que também conta com a colaboração dos professores Otavio Thiemann, Rafael Guido e Glaucius Oliva, do IFSC, e Luiz Carlos Dias, da Universidade de Campinas (Unicamp), tem avançado de forma positiva em seus estudos.

As especificidades da pesquisa

Um medicamento, quando administrado, passa por diversas barreiras, em nosso organismo, para chegar até a via sistêmica. Percorrido esse caminho, é possível alcançar a proteína alvo, que é quando um fármaco consegue desenvolver seu efeito terapêutico, sua função de combate. “De nada adianta você encontrar uma molécula com grande potência para matar um parasita, se essa mesma estrutura química não contiver propriedades corretas para ter-se o processo de administração, distribuição, metabolismo e excreção, que é necessário para que o fármaco seja válido”, conta Adriano. Os estudos direcionados a descobrir esse “caminho” necessário que o fármaco irá percorrer, denominado estudo fármacocinético, também têm a atenção do grupo do pesquisador, e disponibiliza a primeira base de dados da América Latina, PK/DB, para acesso e acompanhamento de outros estudiosos do assunto.

Sobre os estudos de um medicamento que possa trazer a cura da doença de Chagas, o grupo de Adriano já desenvolve estudos in vitro, in vivo e a relação com a OMS e com os grupos da rede tem sido importantes e fundamentais para a evolução dos estudos.

Na pesquisa do docente, há vários aspectos inovadores: primeiramente, a grande interdisciplinaridade. Conta com pesquisadores de áreas diversas, como parasitologia, química medicinal e biologia molecular e estrutural. “A OMS desenvolve um sistema de projetos do tipo empresa farmacêutica, muito detalhado e estabelecido. Dessa rede, participam universidades importantes do mundo todo, com o nome da USP, que figura nessa lista. Há também a participação de diversas indústrias farmacêuticas, como a Merck, Pfizer e Farmacopeia, só para citar algumas”, diz Adriano. “A OMS consegue coordenar toda essa rede e fazê-la funcionar corretamente”.

A busca por uma nova alternativa terapêutica

No caso da doença de Chagas, o grupo de pesquisa de Adriano tem trabalhado com algumas proteínas-alvo do Trypanosoma cruzi, o agente causador da doença, isolando tais proteínas para, posteriormente, produzi-la e encontrar pequenas moléculas que possam inibir sua atividade, causando uma condição letal à sobrevivência e desenvolvimento do parasita. “Através de ensaios in vitro, realizados nos laboratórios, fazemos os testes com moléculas candidatas a fármaco, que irão inibir as enzimas responsáveis pela sobrevivência do parasita”.

Atualmente, uma média de 300 compostos foi sintetizada, com moléculas que já foram confirmadas como inibidoras. A próxima fase será trabalhar as propriedades fármacocinéticas, ou seja, a melhoria para percorrer todo o “caminho” num organismo infectado. “Precisamos observar diversas propriedades como absorção do composto, solubilidade, biodisponibilidade. Esse trabalho é conjunto e cada um dos grupos que faz parte da rede da OMS presta auxílio, cada um na parte que lhe cabe”. Adriano explica que a fase final, também chamada de fase clínica, quando empresas farmacêuticas irão financiar testes em seres humanos, dos possíveis candidatos a fármaco, deve ser acelerada. “Esse tipo de pesquisa é diferente das pesquisas acadêmicas. Busca-se com mais rapidez a aplicação dos estudos desenvolvidos”.

O docente afirma que o grande mérito de sua pesquisa consiste na integração de diferentes componentes, uma multidisciplinaridade raramente encontrada no Brasil e de forma tão consolidada. “A capacidade de trabalhar com moléculas sintéticas e fazer ensaios biológicos é algo difícil de encontrar e isso tem nos trazido credibilidade de grupos externos, onde se inclui a OMS”.

Projeções futuras

Em comemoração ao Ano Internacional da Química, os debates serão intensos. “Teremos a reunião anual da Sociedade Brasileira de Química, a Escola Avançada de Química, da FAPESP, e nesses eventos as atividades e discussões serão grandes, também com o objetivo de atrair estudiosos para essa área”, conta Adriano. “A pesquisa está muito favorável para 2011! Nosso maior desafio é encontrar um candidato clínico, ou seja, aquele que a indústria farmacêutica irá escolher para realizar testes em humanos. E nossa confiança nisso, no presente momento, é muito grande”, finaliza o docente.

Tatiana G. Zanon/Assessoria de Comunicação

Data: 8 de fevereiro

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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