Graduação: IFSC – Bacharelado em Física / Habilitação: Informática
Mestrado: IFSC – Programa de Pós-Graduação em Física / Área: Física Aplicada / Opção: Física Computacional
Atividade profissional atual: Data Scientist na CATHO
Mais do que paixão pela ciência, o que Ivan Marin sempre teve foi curiosidade por aquilo que o rodeava, como tudo funcionava, o que podia acontecer quando algo era desmontando e montado, se podia – ou não – derreter coisas, como bolinhas de gude (o que apavorava seus pais!) e de que forma podia medir e inferir esses fenômenos que, na época, eram muito interessantes. Mas, para este menino, hoje com 32 anos e natural de São Paulo, cidade onde desenvolve a sua profissão de cientista de dados/especialista em inovação na empresa Catho, sua curiosidade era não apenas por coisas físicas, mas por lugares também, como, por exemplo, saber como as pessoas viviam em um deserto (“é tudo seco lá! Não chove!”), até como seria viver no espaço. O designado “pulo do gato” veio com ficção científica, quando, certa vez, seus pais o deixaram assistir a alguns filmes, como “Jornada nas Estrelas – O Filme” e “Guerra nas Estrelas”. “O espaço e astronáutica não pararam mais de me fascinar. E para chegar lá? Ciência!”, afirma Ivan ao recordar o início do seu ensino fundamental em São Paulo, capital, com mudança de toda a família para a cidade de Araraquara onde estudou na escola Diálogo, tendo mudado posteriormente para o Colégio Progresso, até à quarta série, e depois para outras duas escolas distintas na rede pública – Léa de Freitas Monteiro e Dorival Alves.
A educação dada pelos pais de Ivan Marin foi pautada pela liberdade do jovem poder seguir sua curiosidade, sempre facultando a ele livros, enciclopédias e, mais tarde, o acesso à Internet. Contudo, houve alguém que o marcou muito nos primeiros anos de seu aprendizado. “Uma professora do fundamental – Sandra – foi muito importante em direcionar essa curiosidade para alguns objetivos mais científicos, com foco em experimentos. Ela foi a primeira a me indicar que, para se descobrir alguma coisa, tinha que se experimentar e não acreditar apenas nos livros e em pessoas. Ela também ajudou bastante em me mostrar como o meio ambiente é importante”, ressalta Ivan Marin. Embora aplicado nos seus estudos, o jovem estudante debateu-se com algumas dificuldades. Apesar de ter estudado em escolas particulares e públicas e embora o conteúdo das disciplinas nunca tivesse sido um problema, Ivan lutava, de alguma forma, com dificuldades relacionadas com o foro pessoal, que só depois de muito tempo foi relacionado com dislexia. “Esse estado não interferiu muito no meu desenvolvimento, com exceção de que, na leitura, eu demorava sempre duas vezes mais tempo para entender – eu lia muito rápido para terminar logo, mas não entendia nada! – e ninguém conseguia ler o que eu escrevia, nem eu mesmo. Mas só fui ter esse diagnóstico de dislexia anos depois, já adulto, e aí já era tarde”, pontua nosso entrevistado.
Avançando nas recordações até à data do seu ensino médio, Ivan comenta que esse período foi igual ao de todo o mundo, ou seja, estranho e interessante ao mesmo tempo! “Tive várias experiências legais com ciência, como um laboratório de biologia, instituído pela escola onde fiz o colegial. Eu não precisava ir, não era obrigatório, mas a chance de estudar e aprender em um ambiente de laboratório era uma chance que eu não podia perder. Abracei e comecei a ir ao laboratório fora dos horários letivos, com o incentivo do professor da disciplina. Fiz várias experiências lá, tive a chance de ir até o laboratório de anatomia da UNESP, de Araraquara, que foi uma visita muito bacana, pois como éramos uma turma bem pequena, nos deixaram ficar bastante tempo e até manipular as peças, com a supervisão de professores da universidade”, recorda Ivan. Outra experiência muito interessante, relatada pelo ex-aluno do IFSC, foi com um professor de História, que o incentivou a estudar keynesianismo e welfare state, também fora do período normal, por forma a que entendesse melhor as perguntas que surgiam em sala, tendo-se formado um grupo de estudo muito próximo à imagem tradicional de uma iniciação científica, no terceiro colegial. “Ainda lembro a decepção deste professor quando falei que ia fazer física… Ele tinha certeza que eu ia fazer História!”, complementa Ivan.
Antevendo sua entrada para a universidade, a escolha de Ivan pela física foi uma decisão tomada tendo em vistas vários fatores, sendo que alguns deles só surgiram quando o jovem estava preenchendo a ficha de inscrição da universidade. Sabia que ia fazer pesquisa, sabia que seu sonho era querer ser algo parecido com um cientista… Mas, física? Ele gostava (e ainda gosta) de vários assuntos, não somente de física, como, por exemplo, de computação, tendo, inclusive, desenvolvido alguns pequenos trabalhos no colegial, mas física surgiu pela influência de dois eventos: o primeiro, através de um professor no colegial (Adriano), que mostrou ao jovem que, pensar com calma nos problemas de física ajudaria em quase qualquer outro problema e como modelar matematicamente as questões ajudaria a entender tudo ao seu redor. O segundo veio na decorrência de uma ideia fixa do jovem, que seu caminho acadêmico seria fazer filosofia. “Fui em uma palestra na UNESP, de Araraquara, que abordou o tema “profissões”, em especial a de filosofia. A professora da palestra me perguntou qual o motivo pelo qual eu gostaria de fazer filosofia e se eu tinha algumas dúvidas. Depois de explicar que sim, que tinha dúvidas e que tinha cogitado também seguir as áreas de medicina, engenharia da computação e física, principalmente, ela me disse: “É mais fácil um físico virar filósofo do que um filósofo virar físico”. Aquilo ficou gravado no meu subconsciente e acabei decidindo por física, mesmo, e a escolha pelo IFSC-USP, em particular, foi porque o campus de São Carlos era mais perto da casa dos meus pais, em Araraquara, e porque a física, na UFSCar, não me atraiu muito…”, afirma nosso entrevistado.
Quanto aos medos e apreensões sentidos no ambiente universitário, Ivan confirma que os anos de graduação são pautados por muitas mudanças, principalmente quando chega a hora de escolher o mestrado e o doutorado, que, no caso dele não foi na física, mas em engenharia hidráulica. No decurso de seu percurso acadêmico, Ivan trabalhou entre o mestrado e o doutorado, fazendo projetos de tecnologia, como consultor, e ainda em supercomputação, tudo isso misturado com diversas questões importantes, como, por exemplo, se ia conseguir entender as disciplinas, se o seu caminho era realmente o de um cientista, se iria ser de fato um físico, ou o que iria fazer depois. Com dois pós-doutorados feitos – um no Brasil e outro no Canadá -, nosso entrevistado conseguiu resistir às ofertas de emprego por forma a continuar na academia, no sentido de conseguir uma vaga como pesquisador ou professor. “Trabalhei como pesquisador em grupos de pesquisa no IFSC-USP até conseguir o primeiro pós-doutorado e a partir daí fiquei atrás de concursos e provas. Mas, ou não abriam vagas que me aceitassem – bacharel em física e doutor em engenharia, o que nem a engenharia nem a física costumam aceitar, apesar de todo o discurso de “multidisciplinariedade” -, ou simplesmente não havia vagas. No Canadá, preferi não ficar por motivos pessoais. Tive propostas para trabalhar nos EUA, mas nenhuma se concretizou, graças a mudanças políticas. Ou seja, depois de muito insistir e insistir nessa área acadêmica precisei escolher minhas prioridades de vida e profissionais, tendo surgido uma oportunidade de colocação no setor privado, que aceitei, e estou até hoje. Mas, o mais interessante de tudo isso é que trabalho como cientista na área privada.” No seu percurso fora da academia e desde o final de sua graduação, nosso entrevistado concretizou diversos projetos de forma independente e muitas vezes sem remuneração, apenas pelo simples fato de poder aplicar os conhecimentos aprendidos e ganhar experiência. Dessa forma, trabalhou com montagem de clusters de computadores, como programador científico em projetos de equipamentos oftálmicos, como consultor em internet, como administrador de sistemas em supercomputadores e até como escritor, para uma consultoria de ciência para jogos. “Sempre estive envolvido em alguma iniciativa para diversificar as atividades. No final, por causa dos contatos e amizades com pessoas da física, surgiu uma oportunidade de trabalho fixo em uma empresa de tecnologia, na qual me mantenho, atualmente”, pontua Ivan.
Por vezes, muitos alunos acabam por se arrepender do caminho que escolheram, o que não foi o caso de Ivan Marin, quando pesou os prós e contras de ir para o setor produtivo, ou seja, trabalhar fora da academia. Segundo o ex-aluno do IFSC-USP, o ambiente fora da academia diferente, muito mais moderno e, dependendo da área, mais tranquilo do que na academia, já que existem métricas de produtividade e uma cobrança com relação a ela, mas isso não é novidade na academia e na academia, muitas vezes, essas métricas são injustas. Todavia, Ivan afirma que, de forma geral, as relações entre as pessoas são mais formais fora da academia. “Eu tive sorte, pois fui trabalhar em uma equipe de inovação, onde quase todo mundo teve uma forte experiência acadêmica, até porque a média de idades é muito baixa, ou seja, é gente muito nova, então o ambiente é excelente, descontraído, produtivo, com muitas discussões tanto técnicas quando de processo”, sublinha Ivan, acrescentando que “processo de trabalho é algo que não se ensina na academia e é fundamental, até para se ter algum controle sobre o que se está produzindo, por exemplo”. Na opinião de nosso entrevistado, a física mostrou-lhe o caminho de como se tornar um cientista, apesar de muitas vezes ter atrapalhado, ao invés de ajudar. Sólidos conhecimentos de matemática e algumas disciplinas da física, como estatística, termodinâmica e eletromagnetismo, foram fundamentais, na opinião de Ivan, que enfatiza a área da computação, classificando-a como determinante. “Sou bacharel em física, com ênfase em computação, diferente do atual curso de física computacional. Saíamos com a formação de físico completo, acrescida de metade de um curso de computação voltada a aspectos práticos da área e isso sempre foi um fator fortemente determinante na minha progressão. Saber alinhar computação com pensamento analítico e ferramentas da física sempre foram um diferencial”, pontua.
Em termos da faixa salarial praticada na sua área de especialização, Ivan comenta que depende muito de onde esse profissional vai ser colocado, qual a sua posição e o que irá fazer. Na opinião do ex-aluno do IFSC-USP, um graduado, habilitado com o curso atual de física, praticamente não tem colocação no mercado, a não ser que ele faça uma ênfase em computação, que saiba programar bem e tenha conceitos sólidos em algumas áreas da física e da computação, e, mesmo assim, irá concorrer diretamente com outras carreiras, como cientista da computação. “Ele vai precisar estar pronto para demonstrar que tem algo a mais além da física e além da computação, mostrar que não fica preso a nenhuma das duas. O que mais escutei sempre foi ‘Quem contrata físico?’ Essa pergunta é errada. Não é quem contrata físico, mas onde o físico quer trabalhar, já que ele tem que desbravar a área onde quer trabalhar e se esforçar para conseguir ser competitivo. Não há um limite superior no que ele pode alcançar, sendo que o caminho depende muito da experiência, das oportunidades”, explica Ivan.
Em termos de expectativas no futuro, Ivan Marin afirma que tem muitos planos, alguns deles envolvendo especializações em algumas áreas de pesquisa consideradas úteis no mercado, e ampliar a faixa de áreas em que pode trabalhar. “Coloquei como objetivo não seguir mais o ritmo alucinado que se espera de um pós-doc ou de um professor recém-contratado, que é estar ligado 24h na pesquisa e na universidade. Existem muitas outras coisas boas que devem ser aproveitadas fora desse ciclo e é possível ser altamente competente e ter sucesso sem precisar comprometer a vida”, afirma o ex-aluno. Por último, para os alunos de graduação do Instituto de Física de São Carlos, ou para os candidatos a ingressar na instituição, Ivan deixa alguns conselhos, como, por exemplo, a necessidade de estudarem de forma inteligente. “Saber resolver o Jackson inteiro não é sinal de que você é um bom físico, apenas serve para provar que você sabe resolver o Jackson. Um bom físico aquele que tem a capacidade de olhar para um problema e ir aprender o que for preciso para resolver esse mesmo problema, seja em outra área da física, seja biologia, seja história! Não se restrinjam a somente o que é dado. Tenham uma base sólida, claro, mas vão atrás de problemas interessantes”, complementa Ivan. Para os novos ingressantes, Ivan Marin aconselha calma e coragem, já que os sustos podem ser grandes, mas, com paciência e perseverança, a física vai fazendo sentido. “Estudem de forma inteligente e a física se torna algo muito mais fantástico!”, finaliza o ex-aluno do IFSC-USP.