No último dia 09 do corrente mês, numa manhã especialmente ensolarada em Londres, ocorreu na Royal Society (que já foi presidida por Sir Isaac Newton), um dos eventos mais importantes sobre o futuro do planeta e com a participação de representantes da ciência brasileira.
O Security of Supply of Mineral Resources (SOS Minerals) (https://www.bgs.ac.uk/sosMinerals/home.html) é um dos mais ousados projetos financiados pelo Reino Unido através da Natural Environment Research Counci (NERC), em parceria com a FAPESP. Ao todo, são mais de 20 instituições científicas e mais de 50 empresas que participaram desse esforço científico, cujo um de seus principais objetivos é enfrentar o desafio de garantir o fornecimento de elementos críticos, como os elementos terras raras, para garantir o desenvolvimento da nova indústria com baixa emissão de carbono e a viabilidade do uso em grande escala de turbinas eólicas, placas solares e baterias.
O Dr. Marcelo B. de Andrade, pesquisador do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP), foi um dos representantes do Brasil no evento. Nesta colaboração, a participação da FAPESP se deu por meio de dois projetos temáticos: SOS rare minerals (https://www.bgs.ac.uk/sosRare/research.html), que explora a caracterização e concentração de novas ocorrências de minerais contendo terras raras de maneira sustentável e o Mineral e-tech, que investiga a exploração mineral em alto mar.
“A importância da caracterização de novos minerais contendo elementos terras raras é estratégica para a independência da indústria do nosso país. Hoje, mais de 90% da produção dos elementos terras raras estão concentrados em um único país, China”, comenta Marcelo Andrade, que durante o evento teve a oportunidade de abordar as principais conquistas alcançadas nesse projeto, em conjunto com Daniel Atencio e Andrezza Azzi, do Instituto de Geociências (IGc-USP), e Frances Wall, da University of Exeter.
Durante a vigência do projeto, Marcelo foi um dos organizadores do Brazilian Symposium on Rare-Earth Elements (http://www.ifsc.usp.br/~emulabram/symposium.html) juntamente com especialistas da University of Saint Andrews e Universidade de São Paulo, incluindo o IFSC/USP, IGc, Instituto de Química (IQ) e Escola Politécnica. Além disso, foram visitados depósitos minerais em Poços de Caldas e os pertencentes as empresas Companhia Brasileira de Mineração (CBMM) em Araxá e JORCAL em Cajati (SP).
Outro fato que chamou a atenção dos participantes foi a descrição da descoberta de dois novos minerais, realizadas com o apoio dos equipamentos de difração de raios X e espectroscopia Raman instalados no CCEM (https://www2.ifsc.usp.br/portal-ifsc/ifsc-usp-acolhe-centro-de-caracterizacao-de-especies-minerais/) e do EMULabRAM (http://www.ifsc.usp.br/~emulabram/) do IFSC/USP.
O primeiro mineral é proveniente da Amazônia. A waimirita-Y apresenta grande teor de elementos terras raras e tem grande potencial para ser utilizada como minério na obtenção de ítrio (https://doi.org/10.1180/minmag.2015.079.3.18). A segunda espécie mineral descoberta, parisita-(La), foi encontrada na região da Chapada Diamantina (BA) e contém uma grande proporção de elementos lantânio (La) e cério (Ce) (https://www2.ifsc.usp.br/portal-ifsc/parisita-la-reconhecido-novo-mineral-descoberto-na-chapada-diamantina-ba/).
Ao final, foram discutidos os trabalhos de pesquisa em andamento, como a investigação da ocorrência de monazita rica em enxofre, na Namíbia, e a caracterização de espécies minerais raras e inéditas da região de Poços de Caldas. Esses estudos são financiados pela FAPESP, RCUK (NERC) e são realizados em colaboração com instituições de grande prestígio, como o Natural History Museum, de Londres, a Camborne School of Mines, University of Exeter, a Universidade de Saint Andrews e a empresa de mineração Mkango Resources.
“A caracterização completa de novas ocorrências exige a utilização de técnicas bastante sofisticadas, como a difração de raios X e a espectroscopia Raman, que são fundamentais para a identificação das propriedades físicas e químicas dos minerais presentes. Sem esse conhecimento, o custo da extração e do beneficiamento dos elementos terras raras se tornaria inviável”, conclui Marcelo Andrade.
O Brasil possui um potencial enorme para a geração de energia limpa e não pode abrir mão de conhecer e explorar suas principais reservas de terras raras, cuja demanda mundial está aumentando. A formação de pessoal qualificado e o trabalho interdisciplinar de profissionais das áreas de física, geologia, química e engenharia, além de empresas e órgãos governamentais, é essencial.
Rui Sintra – Assessoria de Comunicação – IFSC/USP