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23 de junho de 2021

SBF elege pela primeira vez uma mulher como presidente

Pela primeira vez em sua história, a Sociedade Brasileira de Física (SBC) elegeu uma mulher para conduzir os destinos desta prestigiada sociedade científica, cujos resultados foram conhecidos no passado dia 17 de junho.

Perfeitamente conhecedora dos meandros da SBF, até porque desempenhou as funções de tesoureira da entidade na anterior gestão, a Profª Débora Peres de Menezes, docente e pesquisadora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), confessa que estava longe de imaginar que algum dia seu nome pudesse ser mencionado para gerir os destinos da Sociedade Brasileira de Física, algo que acabou por se confirmar, de forma natural, com os pedidos e a insistência dos presidente e vice-presidente da gestão anterior, por motivos de incompatibilidades profissionais.

O perfil pessoal e profissional da Profª Débora Menezes é de encarar desafios, tentar resolver problemas e congregar em seu redor o maior número de pessoas dispostas a subscrever ideias e projetos: sua candidatura para a presidência da SBF, que vai até 2023, também trilhou esses ideais, haja visto a equipe que se reuniu em torno da cientista e que mereceu a confiança dos 1026 associados votantes:

Diretoria

Presidente: Débora Peres Menezes

Vice- Presidente: Rodrigo Barbosa Capaz;

Secretário Geral: Susana Souza Lalic;

Secretário: Caio Henrique Lewenkopf;

Tesoureiro: Gustavo Martini Dalpian;

Secretário de Ensino: Katemari Diogo da Rosa;

Conselho de Titulares

Ricardo Magnus Osório Galvão (USP);

Rogério Rosenfeld (IFT-UNESP);

Olival Freire Junior (UFBA);

Paulo Eduardo Artaxo Netto (USP);

Andreia Guerra de Morais (CEFET-RJ);

Teldo Anderson da Silva Pereira (UFMT);

Conselho de Suplentes

Cristiano Rodrigues de Matos (USP);

Carolina Brito Carvalho dos Santos (UFRGS);

Thereza Cristina de Lacerda Paiva (UFRJ);

Marta Feijó Barroso (UFRJ);

Maria Emília Xavier Guimarães (UFF);

Manoel Messias Ferreira Junior (UFMA).

Débora Menezes é uma pessoa que imediatamente nos cativa pela sua facilidade de expressão, pelo constante sorriso e pela profunda paixão que sente pela ciência. Graduada em Física/bacharelado (1983) e em Física/licenciatura (1984) pela Universidade de São Paulo, fez seu mestrado em Física, também pela Universidade de São Paulo (1986), doutorado pela University of Oxford, Inglaterra (1989), pós-doutorado pela Universidade de Coimbra, Portugal (1998), e estágio sênior pela Sydney University, Austrália (2005) e pela Universidade de Alicante, Espanha (2014), sendo atualmente professora titular da Universidade Federal de Santa Catarina, onde, além de seu trabalho acadêmico e científico, contribuiu na gestão da Universidade entre maio de 2008 e maio de 2012 como Pró-Reitora de Pesquisa e Extensão.

Dentre suas linhas de pesquisa, a astrofísica nuclear constitui algo que faz brilhar intensamente seus olhos, já que é essa a sua paixão científica. “As ondas gravitacionais estão sendo esperadas desde que Einstein as propôs em 1905, sendo que só em 2015 é que elas começaram a ser detectadas e, juntamente com elas, um conjunto enorme de vínculos na área de astrofísica que podem ser testados com as equações de estado”, relata a pesquisadora, acrescentando que esse é, de fato, um tema muito atual, “quente”, já que esses dados estão sendo recolhidos de forma observacional – não laboratorial -, principalmente através dos vários telescópios que têm sido lançados no espaço. “Em 2017 foi lançado mais um telescópio, o NICER, que enviou há cerca de um mês atrás os primeiros resultados e, com eles, temos a oportunidade de fazer uma retrospectiva de tudo aquilo que foi possível fazer ao longo de vinte anos e de quanta coisa pode ser aproveitada. É uma área da ciência extremamente rica, muito bonita e bastante interdisciplinar, já que envolve muita física nuclear, termodinâmica, mecânica estatística, etc.”, pontua a Prof. Débora Menezes, que sublinha a sua frutuosa colaboração, nessa área, com o Departamento de Física da Universidade de Coimbra, em Portugal, na pessoa da Profª Constança Providência.

Na verdade, todo o trabalho desenvolvido pela Profª Débora e seus pares é essencial para que se entenda como o Universo funciona, quais e como os elementos químicos são produzidos, “bastando olhar para o céu para enxergar e compreender que tudo aquilo que se observa mais não é do que uma reação nuclear”, tal como salientou William Gelletly. “Quando fazemos essa ciência mais básica, onde se tenta explicar o Universo, a quantidade de tecnologia que vem a reboque é gigantesca. Repare que o tradicional www da internet foi produzido no CERN em finais dos anos 80, início dos anos 90 do século passado, só como forma de comunicação entre os cientistas que estavam pesquisando a colisão de partículas elementares. Veja o que é hoje esse mesmo www e, com ele, a brutal quantidade de tecnologia que tem sido desenvolvida ao longo dos anos – não muitos -, em paralelo com o desenvolvimento dessa mesma ciência básica.”, sublinha a cientista.

Pró-Reitoria de Pesquisa e Extensão na UFSC

Como mencionamos acima, a Profª Débora Menezes exerceu entre maio de 2008 e maio de 2012 o cargo de Pró-Reitora de Pesquisa e Extensão da UFSC, uma função que, segundo ela, foi enriquecedora, mas muito “dura”, já que esse é um trabalho onde o docente tem que esquecer um pouco a sua pesquisa. “Tem pessoas que se dão muito bem nesse tipo de funções e não se importam de interromper seus trabalhos de pesquisa. Eu sofri bastante, porque a demanda de trabalho, em termos de gestão, era gigantesca, por vezes atingindo 13 horas de trabalho diário. Só consigo comparar essa época com aquilo que estamos vivenciando agora, em tempos de pandemia, quando você passa entre 10 e 11 horas em frente a um computador. Contudo, além dessa função de gestão, ainda tinha que consolidar o Departamento de Inovação Tecnológica da Universidade, voltado para patentes, além de minha própria pesquisa, que não podia parar. Foi muito trabalho desenvolvido e muitas vezes pouco reconhecido pelos meus pares, e de alguma forma invejado, já que fui a primeira e até agora a única pró-reitora que emergiu do Departamento de Física, que é essencialmente masculino. Sofri um bombardeio machista constante, dissimulado, mas levei o barco a bom porto”, pontua a cientista, sorrindo.

A presidência na SBF

É com um sorriso largo que a Profª Débora Menezes encara agora sua presidência na SBF, confessando que ideias não faltam, começando por recuperar e transformar um dos projetos da Sociedade, que, para a docente, é bastante valioso – as questões de género. “A SBF teve um Grupo de Trabalho de Questões de Género, um trabalho muito bonito iniciado na gestão do Prof. Ricardo Galvão, inicialmente dedicado ao estudo do percentual de meninas que ganhavam medalhas nas Olimpíadas Brasileiras de Física, no sentido de entusiasmá-las para a área da física, sendo que, em simultâneo, havia um outro Grupo de Trabalho para Minorias, mais focado em questões raciais. Agora, a ideia é recuperar esses dois projetos e transformá-los em uma comissão – que já tem nome: JEDAI – Justiça, Equidade, Diversidade e Inclusão, que irá ser discutido em breve. Foi muito importante na minha vida ter me envolvido com tudo isso e penso que agora é um momento importante para colocar as mulheres cientistas nos espaços, dar-lhes a visibilidade que merecem”, pontua a Profª Débora Menezes.

Outra grande aposta da cientista é a divulgação científica, algo que teve um grande significado para ela em 2004, quando iniciou o projeto de criação do museu de ciências em Florianópolis junto com diversos colegas e outras individualidades locais, conforme explica. “Esse museu foi inaugurado em 2008 e seguiu funcionando até 2014. Quando houve a troca de gestão na UFSC, houve um grupo que entendeu que aquele projeto era obra da gestão anterior e suspenderam a atividade, não enxergando sua real importância no contexto acadêmico”. Mais tarde, em 2019, a cientista resolveu criar um canal no Youtube- “Canal Mulheres na Ciência”, que tem como objetivo trazer a público diversos tópicos científicos de forma descomplicada e objetiva por meio de filmes curtos produzidos e protagonizados por cientistas e estudantes mulheres. O canal vem contribuindo, ao mesmo tempo, com o letramento científico dos brasileiros, a divulgação científica de assuntos de ponta e lutando contra o falso estereótipo de gênero que enxerga mulheres como menos competentes do que os homens, com enorme sucesso (VER AQUI).

Finalmente, é intuito da nova presidente da SBF melhorar substancialmente a área de comunicação do órgão. A cientista considera que a estrutura da comunicação entre a SBF e seu público-alvo, bem como com a sociedade civil, não está em consonância com a grandeza da entidade. Novas formas de comunicação, novos modus-operandi e uma maior articulação com o público serão objetivos primordiais nesta nova gestão. “A SBF funciona muito bem, sendo que a área da comunicação é, de fato, deficitária em termos de estratégias, ação e abrangência, algo que vamos ter que mudar. Temos que nos comunicar mais e melhor, principalmente para fora das paredes da SBF. Em termos gerais, vou fazer o melhor que puder nestes dois anos de mandato”, conclui a cientista.

Além do currículo abreviado mencionado acima, permite-nos destacar as seguintes informações da nova presidente da Sociedade Brasileira de Física:

Trabalha, com regularidade, como pesquisadora visitante na Universidade de Coimbra (Portugal) e no Laboratoire de Physique Corpusculaire – EnsiCaen (França). Integrou o Comitê Assessor de Física e Astronomia do CNPq de setembro de 2013 a agosto de 2016, a Comissão de Fisica Nuclear e Aplicações da SBF de 2012 a 2017, o Grupo de Trabalho sobre Questões de Gênero da SBF de 2015 a 2019, fez parte da Comissão de Avaliação da Extensão Universitária (CPAE), ligada ao Fórum de Pró-Reitores de Extensão (FORPROEX) de 2010 a 2013 e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Física da UFSC de outubro de 2006 a maio de 2008.

Tem experiência na área de Física, com ênfase em Física Nuclear e de Hádrons, atuando principalmente nos seguintes temas: equações de estado, estrelas de nêutrons, álgebras quânticas, modelos relativísticos e astrofísica nuclear.

É assessora ad hoc do CNPq, CAPES, FINEP, FAPESC, Fundação Araucária, FAPERGS, FAPESP, UERJ e USP e arbitra regularmente para várias revistas internacionais (Phys. Rev., Astrophys. J., Int. J. Modern Phys., Nucl. Phys., Chinese Physics C, etc).

Foi contemplada com a Medalha e Diploma de Mérito Francisco Dias Velho, pela Câmara Municipal de Florianópolis, por suas contribuições nas ciências e nomeada como membro da Comissão de Física Nuclear (C12) da International Union of Pure and Applied Physics (IUPAP).

O Instituto de Física de São Carlos endereça à nova presidente da SBF votos de muito sucesso em sua gestão.

Rui Sintra – Assessoria de Comunicação – IFSC/USP

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