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28 de novembro de 2016

Os 110 anos do voo do “Oiseau de Proie III”

Uma sensacional experiência de aviação no Bosque de Bolonha – Santos-Dumont a bordo de seu avião

Este foi o título – com foto – estampado na capa da edição Nº 836 da publicação francesa Le Petit Journal (Paris) no dia 25 de novembro 2016 – um domingo – faz hoje precisamente 110 anos.

A notícia do jornal desse dia foi o principal motivo das conversas na capital francesa, relativa ao acontecimento que ocorreu no dia 19 de novembro de 1906, quando Santos Dumont, diante de uma multidão de testemunhas reunida no Campo de Bagatell – Bosque de Bolonha -, percorreu 220 metros a uma altura de 6 metros no seu Oiseau de Proie III, constituindo um dos primeiros voos homologados pelo Aeroclube da França de um aparelho mais pesado que o ar. Foi, possivelmente, a primeira demonstração pública de um veículo levantando voo por seus próprios meios, sem a necessidade de uma rampa para lançamento.

A esse respeito, o Le Petit Journal escreveu a seguinte notícia nessa edição:

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Aquilo que é “mais pesado que o ar” acabou de dar um passo de gigante, um passo com 220 metros de extensão, e é a este senhor chamado Santos – Dumont, personalidade já famosa devido às suas experiências com balões dirigíveis, que a aviação deve este sucesso. Nos últimos anos, tem sido aqui, em Paris, que os sonhos e as pesquisas avançam para todos quantos acreditam no futuro da navegação aérea.

O protagonista desta ciência foi o alemão Lilienthal, morto depois de ter feito mais de dois mil experimentos. Enquanto isso, o capitão Ferber foi o primeiro francês que se elevou acima do solo, por meio de um avião. Os Estados Unidos tiveram, entretanto, o inventor Chanutte, cujo trabalho incidiu particularmente sobre as formas físicas que melhor garantissem a estabilidade de um avião; e, finalmente, os irmãos Wright, cujas experiências tiveram um impacto considerável. Em junho do ano passado foram testados, no nosso país, nomeadamente em Billancourt, o avião do Sr. Archdeacon, e em Mônaco o helicóptero de Maurice Léger. Finalmente, desde o início deste ano, o Sr. Santos-Dumont dedicou-se à máquina voadora desenvolvida e testada por ele com sucesso, no gramado de Bagatelle – Bosque de Bolonha.

Nossa gravura dá a fisionomia exata deste momento sensacional.

LE_PETIT_JOURNAL_-_NOTICIA_3_-_500

Eram quatro horas da tarde. Na frente de uma grande multidão que se aglomerou depois de ter sido anunciada a data e hora da realização da experiência, o inventor iria finalmente lançar o seu pássaro gigante através do espaço. Os marcadores e os juízes cronometristas estavam já nos seus postos: atrás do pássaro, um carro estava igualmente preparado para arrancar, levando a bordo o juiz cronometrista E. Surcouf e Jacques Faure, este último com a missão de anotar a extensão e duração do voo. Santos – Dumont dá a partida ao motor e eis o que relatou, naquele momento, o Sr. Jacques Faure:

“Estou acomodado no carro, à disposição dos cronometristas. Concordamos nos posicionar a cerca de vinte metros do lado direito da aeronave, com Santos – Dumont já preparado para largar. Eu tenho uma pilha de pratos nas mãos, já que minha missão será jogar os pratos na grama a partir do momento em que a aeronave decolar até ela pousar. Assim, conseguirei, em terra, medir a distância que a aeronave percorrerá voando. Surcouf tem os olhos pregados em seu cronômetro. O motor de nosso carro ronrona suave, lentamente.

Subitamente, Santos faz um sinal e a aeronave começa a se mover; nós seguimos a poucos metros, na traseira do avião, por forma a não prejudicar as manobras. Santos percorre cerca de 40 metros e então começa a manobrar o leme e o aparelho, obedientemente, sai do chão. Deixo cair um primeiro prato, enquanto Surcouf aciona cronômetro. Estabilidade admirável, equilíbrio perfeito, sem alterações no rumo, sem oscilações. Santos faz subir a aeronave a uma altura que varia entre 4 e 6 metros. Fica 21 segundos no ar, desce e para no meio de uma multidão que grita de excitação“.

Santos-Dumont é envolvido pela multidão, que quase o arrasta para fora do carro que o transporta de regresso ao gramado, abraçando-o, cumprimentando-o. O Sr. Jacques Faure, que exulta o feito, iça Santos – Dumont em seus ombros, transportando-o em triunfo no meio das aclamações vibrantes, dizendo: “Viemos apenas medir o voo de um brasileiro heroico e destemido: FORAM 220 METROS”!

(Tradução: Rui Sintra)

Assessoria de Comunicação – IFSC/USP

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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