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6 de outubro de 2015

Qual a importância de defender trabalhos em inglês?

Até há bem pouco tempo, a Universidade de São Paulo permitia que os alunos defendessem teses e dissertações apenas em língua portuguesa, já que essas apresentações eram – e ainda são – consideradas concursos públicos, pelo que devem ser documentados na língua pátria. Na época em que exerceu o cargo de Pró-Reitor de Pós-Graduação da USP, no período de 2005 a 2009, o Prof. Dr. Armando Corbani modificou o regimento da Pós-Graduação, com a finalidade de diminuir a alta flexibilidade que o departamento oferecia aos estudantes. Entre as modificações, o Prof. Corbani sugeriu que as defesas pudessem ser apresentadas também na língua inglesa.

internacionalizacao-ifsc-usp-300De acordo com o Prof. Dr. Otavio Henrique Thiemann, Presidente de Pós-Graduação e Coordenador do Curso de Pós-Graduação em Física do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP), essa sugestão foi barrada, devido às regras exigidas para esse tipo de documentação. Mas, quando o Prof. Dr. Vahan Agopyan assumiu o cargo de Pró-Reitor de Pós-Graduação da USP (2010-2014), foi feita uma revisão no regimento, no qual foi finalmente permitida a defesa de trabalhos acadêmicos em outro idioma.

Em 2013, com base no citado regimento, o setor de Pós-Graduação do IFSC adotou o idioma inglês como uma segunda opção para aqueles que quisessem defender seus trabalhos na Unidade. De acordo com Otavio Thiemann, antes disso, em 2007, apenas um aluno defendeu seu trabalho no IFSC no idioma inglês, atendendo a banca avaliadora que era constituída por pesquisadores do Brasil e do exterior. Nesse caso, o processo foi bastante burocrático, porque foi necessário pedir permissão à Pró-Reitoria, que consultou várias instâncias. Hoje, não temos mais nenhum empecilho deste tipo, já que qualquer estudante do IFSC pode defender seus trabalhos em português ou em inglês, explica o Prof. Otavio.

Segundo o docente, uma das vantagens Otavio_Thiemann-tese-cecilia-300de defender teses e dissertações em inglês é a visibilidade nacional e internacional que o trabalho e a própria Unidade recebem. Nós temos um fluxo de estrangeiros muito grande no Instituto. Muitos pesquisadores de fora do país vêm ao IFSC desenvolver colaborações científicas. Então, é interessante que esses especialistas participem de nossas bancas avaliadoras. Defender trabalhos em inglês é uma forma de estreitar laços, diz ele.

O docente acredita que o número de defesas em língua inglesa deverá aumentar, uma vez que, graças à internacionalização e à evolução tecnológica, será possível que essas apresentações sejam realizadas através de videoconferências, permitindo que pesquisadores e docentes que estejam fora do país participem das bancas avaliadoras. Isso permitirá que nossos colaboradores internacionais tenham a oportunidade de avaliar as defesas de nossos alunos à distância, desde que os estudantes e os presidentes das bancas estejam presentes durante as apresentações.

Javier-internacionalizacao-ifsc-usp-300Para o Prof. Dr. Javier Ellena, docente do Grupo de Cristalografia do IFSC/USP e orientador de uma tese de doutorado defendida recentemente em inglês, a apresentação de teses em língua inglesa contribui para a melhoria do nível das defesas realizadas no Instituto. Isso é muito importante para a nossa Unidade, porque faz com que ela seja ainda mais reconhecida a nível internacional, diz ele, acrescentando que o inglês, pelo fato de ser a língua utilizada no âmbito científico internacional, influencia no impacto e na abrangência dos trabalhos, já que os artigos científicos são escritos internacionalmente neste idioma, atraindo com mais facilidade a atenção de pesquisadores de vários países.

Outro ponto importante, segundo o Prof. Javier Ellena, é a inovação introduzida recentemente na pós-graduação do IFSC, que permite que as teses de doutorado sejam elaboradas com artigos científicos publicados em revistas internacionais, com estrita política editorial. Isso tem o intuito de incentivar fortemente o envolvimento e engajamento dos nossos alunos de pós-graduação nas pesquisas científicas de alto nível realizadas nos diferentes grupos de pesquisa do nosso instituto, diz ele.

Recente defesa de tese apresentada em inglês no IFSC

Cientes da importância e necessidade da internacionalização, alguns ex-alunos do IFSC/USP já defenderam suas teses e dissertações no idioma inglês. Este foi o caso da pesquisadora Cecília Carolina Pinheiro da Silva, que defendeu sua tese de doutorado, em inglês, em setembro último, tendo tido como avaliadores na banca os Profs. Drs. Javier Ellena (orientador), Michael Zaworotko (University of Limerick – Irlanda), Paulo César Pires Rosa (Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP), Renato Cordeiro (Universidade Federal de São Carlos – UFSCar) e o pesquisador do IFSC/USP, Marcelo Barbosa.

Na oportunidade, a pesquisadora defendeu o trabalho intitulado Síntese supramolecular e caracterização de novas formas sólidas dos fármacos 5-fluorocitosina e 5-fluorouracila, no qual descreveu o desenho de novas formas sólidas (substâncias químicas utilizadas em medicamentos e responsáveis pelo efeito farmacológico) desses fármacos, que são utilizados na terapia anticancerígena: uma temática nada fácil para ser explanada em língua inglesa.

Nessa pesquisa, Cecília Silva, que elaborou a tese com base em dois artigos científicos de sua autoria, desenvolveu nove novas estruturas sólidas, incluindo três sais e seis co-cristais. Todas as estruturas foram obtidas com base nos princípios da engenharia de cristais e planejamento racional de fármacos. Dentre os co-cristais obtidos nesse estudo, merece destaque o co-cristal multi-fármaco, já que a terapia combinada a nível molecular vem se destacando nos últimos anos, principalmente pelo fato de promover o aprimoramento na atividade individual de cada insumo farmacêutico.

Embora os dados não tenham sido apresentados na tese, porque não foram publicados a tempo, a solubilidade do co-cristal multi-fármaco foi um dos aspectos estudados e se mostrou favorável a uma possível aplicação farmacológica, tendo em vista que boa parte dos fármacos anticancerígenos que são atualmente comercializados na forma de dosagem sólida, exibe baixo perfil de dissolução e solubilidade e, por isso, não chega até à corrente sanguínea do paciente em quantidade suficiente para apresentar um bom desempenho farmacológico. O problema é que, para que parte desses medicamentos chegue na corrente sistêmica, é preciso administrar doses extremamente altas desses remédios. Porém, além de atividades farmacológicas, esses medicamentos têm contra-indicações, tais como alto risco de toxicidade e efeitos colaterais, diz Javier Ellena, acrescentando que os medicamentos no estado sólido utilizados hoje no tratamento de câncer são caros e escassos.

Com isso, embora sejam Ceclia2-internacionalizacao-ifsc-300necessários alguns estudos complementares, acredita-se que, por meio da Engenharia de Cristais, é possível melhorar a eficiência dos medicamentos e baratear o custo desses e de outros remédios, reduzindo seus efeitos colaterais, em particular a toxicidade. Na etapa seguinte, analisaremos a eficácia do co-cristal multi-fármaco, bem como das demais estruturas obtidas. Além disso, trabalharemos para tentar colocar esses medicamentos no mercado, explica Cecília Silva, ressaltando que esse medicamento “2 em 1” deverá ser comercializado daqui a alguns anos.

Avaliação da banca

Michael-Zaworotko-internacionalizacoa-250Além da apresentação da ex-doutoranda do IFSC/USP, a qualidade da pesquisa de Cecília também recebeu elogios dos membros da banca avaliadora. O Prof. Michael Zaworotko já acompanhou defesas de teses nos Estados Unidos e em países da Europa, e elogia a qualidade da apresentação da pesquisadora: Fiquei impressionado com a defesa, principalmente, em termos de profundidade e do rigor das questões elaboradas pela banca. Obviamente, o desempenho dela foi grande.

Para o Prof. Paulo César, a defesa de Paulo-internacionalizacao-ifsc-usp-250Cecília Silva teve apenas pontos positivos: A aluna estava bem preparada e treinada para a apresentação. Seu inglês foi de fácil compreensão e ela teve uma facilidade muito grande em apresentar o tema, elogia ele, que também destaca a relevância do trabalho da ex-doutoranda do IFSC/USP, bem como a importância das defesas de teses em língua inglesa para a divulgação e o impacto dos trabalhos.

 

 

Assessoria de Comunicação

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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