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17 de julho de 2019

Aluna do IFSC/USP e sua experiência no Programa Jovens Embaixadores

A caminho do segundo semestre do curso de Física Computacional no Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP), Mariana de Lourdes Godoy da Silva, de 20 anos, é sem dúvida exemplo de dedicação e persistência. São por estas e outras razões que a jovem mineira, natural de Patrocínio (MG),  conquistou posição seleta entre os jovens de escolas públicas do país: antes de de entrar no IFSC/USP, Mariana foi Jovem Embaixadora no ano de 2017.

Fundado em 2002, o programa Jovens Embaixadores é resultado de parceria entre o Brasil e as embaixadas americanas sediadas no nosso país, que objetiva estreitar de laços entre os dois países e o engajamento em iniciativas de impacto social e transformação da comunidade pelos alunos interessados em compor o programa, que consiste em um mês de imersão na cultura norte-americana. Foi apenas em 2015, no início do Ensino Médio, no Instituto Federal do Triângulo Mineiro, que Mariana teve o primeiro contato com o projeto. “Soube do programa Jovens Embaixadores por meio da professora Lucivânia, do ICBEU de Patrocínio”, menciona Mariana. “Ela foi dar uma palestra no Instituto sobre o programa, porque lá, como fazíamos diversos projetos voluntários – e este era um dos pré-requisitos do programa – viram-nos como público alvo. Eu estava no primeiro ano do Ensino Médio e nunca tinha ouvido falar sobre o programa, então pesquisei um pouco mais. Infelizmente, eu não tinha o ano de voluntariado completo e por isso não poderia participar”. A mineira aguardou o ano seguinte para se aplicar no projeto, que infelizmente foi seguido por uma negativa: não seria Jovem Embaixadora em 2016, mas ainda tinha uma última tentativa, em 2017. “Na minha última tentativa, muito auxiliada por amigos que chegaram a ser semifinalistas, eu consegui ser selecionada”, comenta, animada pela lembrança.

Casa Ruby

Segundo a estudante, o processo de aplicação era repleto de etapas – sete etapas distintas: a pré-inscrição, o formulário de inscrição, a análise da documentação, exame escrito, exame oral e a visita a residência do candidato, a seleção nacional e, por fim, o anúncio dos resultados – nem sempre fáceis. “O envio de documentos, por exemplo, é necessário para comprovar que você tem todos os pré-requisitos do programa, no caso, que você seja um jovem, cursando o ensino médio numa escola pública e que você seja da camada menos favorecida da população. Assim, você deve enviar tanto os seus documentos quanto o de seus pais ou responsáveis, o que para mim não era nada fácil”, explica, Mariana. “Minha mãe faleceu quando eu era pequena e não conheci meu pai, então a minha tia materna foi quem teve minha guarda até os 18 anos. Era muito difícil comprovar a minha situação financeira, porque recebia pensão alimentícia do governo e este é um documento que não entra no programa, então eu precisei levantar os documentos de todos que moravam comigo – minha tia, meu tio, minha prima – declarar se trabalhavam e no quê, fornecer informações e documentos”, relembra a estudante. “Acho que nessa fase a maior parte desiste, porque dá muito trabalho”.

Ainda sobre o longo processo de seleção, Mariana explica o funcionamento do exame escrito. “Muitas pessoas que vão fazer a prova me encontram nas redes sociais e logo me perguntam o que precisam estudar para a prova, como devem se preparar. A questão é que este não é o tipo de prova para a qual se estuda: é puramente conhecimentos gerais e autoconhecimento. Você deve saber qual é o perfil esperado pelo programa e se esse perfil corresponde ao seu”, reponde aos curiosos. “Uma das perguntas por exemplo: se você pudesse conversar com uma pessoa famosa ou não, viva ou morta, com quem você conversaria e porquê? A minha resposta foi a Grace Hopper. Ela foi a primeira mulher – e pessoa – que criou um compilador da história da computação. Acho ela incrível, porque ela fazia parte do exército americano, já aposentada, e quando eles precisaram de algo que fizesse contas com maior velocidade ela se disponibilizou a fazer isso. Depois da aprovação no exame escrito, vieram o exame oral e a visita em casa”.

Memorial a Abraham Lincoln

Em relação à fase seguinte, Mariana relata o exame oral com muita tranquilidade. A entrevista era realizada pela pessoa que mediava o programa Jovens Embaixadores da região e tinha como intuito avaliar o nível de inglês do candidato, se este sabia se comunicar, informações pessoais, motivações para participar do programa e intenções. “Nessa fase restam poucos candidatos e é quando são iniciadas as visitas à casa dos participantes”, relembra Mariana segundo a própria experiência. “Na época, eu morava afastada da cidade e os avaliadores foram até minha casa conversar com os meus tios e minha prima. Para a visita é obrigatória a presença de todos os moradores da casa, porque eles avaliam a sua relação com a sociedade no geral. São muito bem avaliados, inclusive, os candidatos que recebem o apoio dos pais ou responsáveis. Os avaliadores perguntam para a família se o candidato tem apoio para ir e quando perguntaram para a minha tia, ela começou a chorar!”, resgata Mariana a memória. “Claro que depois que ela parou de chorar, afirmou que sim: eu tinha o apoio deles”.

Museu de História Natural

Para Mariana, ser apenas semifinalista do Programa já era um grande passo: os não selecionados para ir aos Estados Unidos, realizariam uma semana de English Imersion (imersão na língua inglesa) na capital nacional, Brasília. O contentamento da mineira, entretanto, foi ainda maior: Mariana iria compor o grupo de 50 alunos selecionados como Jovens Embaixadores de 2017. Assim, em janeiro de 2018, partiu acompanhada de seus colegas para Brasília. “Nós precisamos fazer uma preparação antes de embarcar para Washington, então passamos três dias na Casa Thomas Jefferson, em Brasília. Visitamos pontos turísticos da capital, a embaixada… Tudo para não sentir um choque tão grande. Quando chegamos em Washington, a primeira coisa que senti foi frio; depois, comecei a reparar em coisas pequenas, como o quanto a cidade é limpa e como algumas tecnologias simples são inseridas no dia-a-dia deles e não no nosso, aqui no Brasil. A segunda coisa foi quanto ao espaço pessoal: nós, brasileiros, somos muito calorosos, diferentemente dos americanos”, relata. “Na primeira semana, o foco é abordar o que você viveu até aquele momento, para saber o que é possível levar dos EUA. Essa semana passamos todos os 50 em Washington e visitamos projetos sociais, como a Casa Ruby – fundada para o acolhimento de LGBT. Nós também representamos o Museu Smithsonian na passeata em homenagem ao Martin Luther King. Coincidiu com o massacre de negros em uma comunidade próxima e quando surgiu o Black Lives Matter. Foi muito interessante, porque cerca de 75% dos integrantes do projeto são negros, então passamos por vários bairros com realidades socioeconômicas diversas, gritando Black Lives Matter. Foi uma experiência muito impactante”, relembra. “Na semana seguinte, fomos divididos em quatro grupos: o meu foi para Pensacola, na Flórida; e os outros três foram para Oklahoma, Nevada e Kentucky”.

Em Pensacola, Mariana e os outros intercambistas ficaram designados a duas semanas de rotina, conhecendo a área e seus projetos sociais, além de muita interação com a família que os hospedaram. “Logo cedo, todos se deslocavam até a prefeitura da cidade onde fazíamos atividades, conversávamos sobre a imersão cultural e visitávamos locais específicos da cidade. Pensacola é conhecida como cidade das cinco bandeiras, porque como é litorânea e como fica em um ponto estratégico dos EUA – ali quando houve a Guerra Civil foi basicamente colonizado por cinco países diferentes – e por ter uma história muito antiga por trás, tem marcos históricos. Atualmente, Pensacola tem um museu de aviação, do exército, da marinha e aeronáutica que ficam em uma área reservada e super burocrática para entrar – com toda a história de Pensacola”, explica. “Outra grande parte desses quinze dias foi construir laços com a família que nos acolheu, saber mais sobre o dia-a-dia do americano. Eu e outra menina, de Curitiba, ficamos muito tempo com a Janine – quem nos hospedou – conhecendo o ambiente dela, e depois retornamos para Washington”.

No Departamento de Estado

Um dos objetivos do programa é trazer para o país de origem, no caso, o Brasil, um projeto de voluntariado, ao menos idealizado. É em Washington que os participantes se reuniram para trocar as experiências pessoais de seus respectivos destinos das semanas anteriores. “Essa parte é mais para compartilhar as nossas experiências com os integrantes dos quatro grupos e conhecer os pontos turísticos e históricos de Washington. Conhecemos o museu do Holocausto, o Smithsonian e visitamos a Casa Branca”, menciona. “Conhecemos também a Word Learning. O programa não é único do Brasil – outros países participam também – e a Word Learning é que faz o programa acontecer. Inclusive, as equipes que nos acompanham são todas voluntárias também. É muito legal a forma como eles fazem o programa acontecer. Nós conhecemos a sede, os projetos que eles são responsáveis que não são vinculados a embaixada”, comenta a mineira sobre o grupo de voluntários para voluntários. “Além disso, conhecemos o Departamento de Estado Americano – são eles os responsáveis por toda a burocracia e que pagam os custos da nossa viagem. Fomos num dos últimos dias para falar sobre como foram as experiências e uma pessoa de cada grupo fez um pequeno resumo sobre a experiência”, relata, lembrando-se ainda do acesso restrito ao local. “Foi como nos filmes: não podemos ir ao banheiro sozinhos, tirar fotos lá dentro. Tem uma política muito restrita. Ao final, realizamos o discurso ‘I’ve a dream’, considerando quais eram nossos sonhos na volta para o Brasil”, que no caso de Mariana eram três: uma sociedade mais justa, um ambiente mais limpo e sustentável, e mais empatia pelo outro.

Jovens Embaixadores – Brasília

Quanto à sua própria forma de mudar o mundo, Mariana participava no Brasil do projeto voluntário Robô Serrado, que trazia para os estudantes de escolas públicas de Patrocínio a chance de aprender robótica. “Quando voltei para o Brasil, no começo de fevereiro, não tinha certeza do que faria em 2018. Eu estava aguardando o resultado dos vestibulares e assim que soubesse o meu destino definiria o meu projeto de voluntariado. Até então, a minha ideia seria expandir o Robô Serrado”, comenta a estudante. “Em 2018, entretanto, não consegui passar no vestibular. Mesmo assim, vim para São Carlos – onde eu queria fazer universidade – e comecei a trabalhar. É por esse motivo que o meu apelido é Rochelle – porque eu tinha três empregos”, ri, com a referência ao seriado de TV, “Todo Mundo Odeia o Chris”, embora afirme que uma de suas ocupações não é apropriadamente um emprego. “Ano passado eu ingressei em uma start-up do ONOVOLAB chamada Grokout. Ela é voltada para o ensino e começamos montando escape rooms – salas de escape – para serem introduzidas em testes de seleção profissional. O diferencial da nossa é ela ser totalmente física e para isso alugamos um container”, explica. “O interessante desses jogos de escape room – especialmente quando se sai do virtual para o real – é que o ‘jogador’ não consegue fingir que ele é alguém que não é. Nós começamos a aplicar esses testes de forma gratuita e depois fomos contratados pela Trilha – que faz os processos seletivos de contratação para o ONOVOLAB”.

Dentro do projeto Grokout, ainda surgiram diversas ideias, segundo Mariana, que para isso explicou o termo “grok” como um aprender tão intenso que o observador faz parte do observado e o observado, parte do observador. “Nós fomos convidados para montar a feira de ciências da escola Tic Tac Toe e utilizamos exatamente este conceito – que é o conceito do grupo. Montei um projeto da Usina de Itaipu desmontado e o objetivo das crianças era comprar – com o dinheiro que eu dava a cada grupo – peças da usina que juntas formariam o caminho da água ao motor e, assim, produzir energia”, conta sobre a experiência. “Eu acredito que esse ‘gameficar’ o aprendizado da criança, especialmente no início da educação, faz com que ela tenha além de uma motivação, um aprendizado mais rápido. Você aprende não pela teoria, mas pela prática. Isso foi um salto tanto para o meu processo de aprendizado, quanto para me dar a ideia do que eu quero fazer mais para a frente. É isso que eu pretendo continuar, de alguma forma; levar isso para a minha vida, para pessoas que precisam”, conclui Mariana, não sobre um projeto de voluntariado, mas de vida e carreira.

As pré-incrições para o Programa Jovens Embaixadores já estão abertas e estendem-se até 11 de agosto de 2019. Para mais informações sobre o Programa ou para realizar a pré-inscrição, CLIQUE AQUI.

(Reportagem: Carolina Falvo / Sup. Rui Sintra)

Assessoria de Comunicação – IFSC/USP

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