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15 de janeiro de 2016

Mil vezes mais potente que a bomba de Hiroshima-Nagasaki

A construção da primeira bomba de hidrogênio, ou bomba H, no mundo foi feita durante os primeiros anos da Guerra Fria, há mais de 60 anos. No entanto, foi no começo deste ano que o uso da bomba H foi colocado novamente em evidência, por ter sido testada na Coreia do Norte, país regido pelo socialismo e embargado economicamente pela grande maioria dos países do globo, justamente por sua insistência na realização de testes nucleares.

Chico-_Bomba_HNão é de se espantar que o mundo tenha reagido fortemente aos testes que a Coreia do Norte diz ter feito com bomba H, já que sua capacidade de destruição [da bomba H] é maior do que todas as bombas detonadas durante a II Guerra Mundial juntas.

As bombas nucleares*, em geral, como o próprio nome sugere, são construídas tendo como método a manipulação do núcleo dos átomos dos elementos químicos que as compõem, seja por seu rompimento (fissão nuclear), seja por sua junção (fusão nuclear).

O Sol e todas as estrelas podem ser considerados uma bomba de hidrogênio natural, já que são majoritariamente formados por esse elemento (hidrogênio), e neles (Sol e outras estrelas) ocorrem diversas reações nucleares.

Devido à enorme pressão na parte mais interna do Sol, ou seja, em seu núcleo, os íons de hidrogênio se fundem, gerando um novo núcleo, mais pesado: o núcleo de hélio (He). “São essas reações nucleares que liberam muita energia, e que mantêm o Sol aceso”, explica o docente do Grupo de Óptica do Instituto de Física de São Carlos (GO-IFSC/USP), Francisco Eduardo Gontijo Guimarães. “Essa reação é tipicamente de fusão nuclear, já que ela libera grande quantidade de energia ao juntar dois núcleos de hidrogênio. Outra reação nuclear que libera um quantidade de energia muito grande é feita através da quebra do núcleo, ou fissão nuclear, dos isótopos de elementos pesados enriquecidos, como o Urânio-235 e o Plutônio-239”, elucida Francisco.

Da dinamite à bomba H

A potência de uma bomba qualquer é medida pelo chamado “equivalente TNT”, sendo que 2,8 megajoules é a quantidade de energia necessária para detonação de uma um quilo de TNT. Para acender uma bisnaga de 1 quilo de dinamite, basta acender o pavio, muito mais simples do que dividir núcleos de urânio, procedimento que é usado para detonar uma bomba H.

A bomba H tem consequências muito mais devastadoras do que uma bomba nuclear de fissão, que tem uma potência mil vezes menor.

As bombas atômicas geram três tipos de efeitos: ondas de choque (deslocamentos de ar muito intensos, gerando ventos muito fortes), ondas de calor (gerando um aquecimento muito forte, causando aumento de temperatura e queimaduras) e radioatividade , que tem um potencial destrutivo sem mensuração, já que sua força e dispersão são muito maiores do que a dos outros dois tipos de ondas geradas.

No caso da bomba atômica jogada sobre Hiroshima e Nagasaki, as ondas de calor e de choque tiveram força suficiente para alcançar mais de 10 quilômetros, enquanto sua onda radioativa foi muito mais longe do que isso. “Não é possível medir quantos quilômetros a onda de radiação pode alcançar, já que ela é composta por raios gama, raios de luz e partículas subatômicas provenientes do núcleo de urânio, que não podem ser vistos nem medidos”, explica o docente.

Por ser invisível, a onda radioativa não pode ser capturada. Pior do que isso: ela ultrapassa diversas barreiras físicas, como, por exemplo, o corpo humano, e, ao passar por ele, causa a destruição do DNA e o aparecimento de células tumorais, entre outras coisas. “O concreto é um material que traz uma grande proteção contra essas radiações. Mas, se uma pessoa estiver ao ar livre, ela será inevitavelmente atingida. É claro que, quanto mais distante dessa radiação ela estiver, menores serão as consequências”, afirma Francisco.

A bomba H, no entanto, possui uma capacidade destrutiva maior do que qualquer outro tipo de bomba. A destruição que ela pode causar é dez vezes maior do que todo arsenal de bombas despejado durante os seis anos da II Guerra Mundial (veja na tabela), e sua potência é mil vezes maior do que a bomba jogada sobre o Japão no final da mesma guerra.

Chico-_Bomba_H-_tabela

Outra comparação que pode trazer uma boa noção do poder destrutivo da bomba H é pensar-se no potencial destrutivo de algumas “bombas atômicas naturais”, como um furacão, por exemplo. O Katrina, que atingiu o sul da Flórida em 2005, com ventos que chegaram a 280 quilômetros por hora, liberava, em um minuto, uma energia de oito megatons. Ou seja: uma bomba atômica libera em menos de um segundo ondas de choque e calor 20 vezes maiores do que um furacão libera num tempo 60 vezes maior. “Uma bomba H é como um furacão Katrina que libera toda sua energia de forma instantânea.”, compara Francisco.

Blefe da Coreia do Norte?

Se você teve paciência de ler esse texto até aqui, certamente já está ciente dos efeitos devastadores de uma bomba H. A Coreia do Norte, que diz ter explodido uma bomba H no último dia 6 de janeiro, não foi a primeira a testar a bomba que, no passado, já foi detonada por outros países da Europa e da América do Norte. “No final dos anos 60, durante a Guerra Fria, a França explodiu várias dessas bombas no Oceano Pacífico. Esses testes foram proibidos após um acordo estabelecido com a ONU”, recorda Francisco.

Os norte-coreanos afirmam que o teste com a bomba H foi feito num local subterrâneo, o que minimiza efeitos de ondas de choque e calor e blinda a radiação . No entanto, a onda de choque não é barrada completamente, e provoca um tremor ao na crosta terrestre, ou terremoto. Na Coreia, mediu-se um tremor da ordem de 5,1 pontos na escala Richter, e uma liberação de energia equivalente a a um explosão entre 6 a 9 quilotons, números muito menores do que o esperado para uma bomba H, mesmo que explodida debaixo da terra. “Especialistas que analisaram o tremor de terra na Coreia do Norte no dia em que a bomba H teria sido testada acreditam que o país não tenha realizado o teste com bomba H, pois o tremor de terra medido foi muito menor do que aquele esperado “, compara Francisco.

Depois de tantos comentários negativos e devastadores sobre a bomba H, seria injusto não mencionar os benefícios que a tecnologia utilizada para construí-la pode trazer se empregada para outros fins. Hoje, a energia nuclear de fissão é utilizada em reatores atômicos, usados para ferver água, e cujo vapor pode acionar turbinas geradoras de eletricidade. Energia nuclear de fusão também já é estudada para geração de energia tendo como base lasers ultrapotentes capazes de receber os núcleos de hidrogênio e produzir uma quantidade infinita de energia de uma maneira muito mais limpa e sustentável.

Rússia, Estados Unidos, França e outros países já possuem ogivas nucleares com bombas de hidrogênio prontas para serem disparadas, caso seja necessário, além de arsenais em estoque, que teriam potência suficiente para destruir todo planeta Terra. Espera-se dos governantes destes e de outros países que a bomba H seja utilizada para motivos mais nobres, benéficos e, consequentemente, não destrutivos.

*Embora o termo “bomba atômica” seja usado frequentemente, a definição correta seria “bomba nuclear”, já que é o efeito nuclear é que causa a explosão e a destruição

Assessoria de Comunicação- IFSC/USP

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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