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20 de fevereiro de 2018

Estudo e Pesquisa: livros ou Internet? Quando usar um ou outro?

Recorrer ao universo on-line para coletar informações, materiais impressos, dados etc., pode, muitas vezes, ser uma ótima opção.  Entretanto, livros existem há séculos e contém uma vasta quantidade de conhecimento e sabedoria organizados.  Estudantes e pesquisadores, hoje em dia, têm duas principais opções de referência: livros ou Internet.  Quando usar um ou outro?

Caminhos (organizados ou não) de busca

WWW representada como uma rede complexa. Cada página web é representada por um nó, e os links nas páginas são indicados por conexões dirigidas (setas). Surfar no WWW pode frequentemente ser entendido como uma caminhada aleagória, no sentido de poder tomar caminhos diferentes, ao longo da rede complexa (créditos: Henrique Ferraz de Arruda e Luciano da F. Costa)

Suponha que você precise redigir um trabalho de computação. Ao digitar essa frase no Google, você irá se deparar com milhões de resultados, e escolherá acessar páginas que lhe pareçam mais interessantes ou confiáveis.  Cada pessoa seguirá um caminho diferente no mundo virtual, definido por seus gostos e interesses.  Interessantemente, se duas buscas forem realizadas pela mesma pessoa em dias ou mesmo horários ou lugares diferentes, sequências distintas de tópicos serão, muito provavelmente, obtidas.  De fato, existe um elemento estatístico por trás das nossas escolhas na WWW, levando a sequências de visitas que podem ser entendidas como uma caminhada aleatória.  É importante observar aqui que, por aleatório, queremos dizer que os resultados não possuem uma ordem fixa, e não que a busca seja feita de forma desordenada.

No caso da busca para o exemplo mencionado acima (trabalho de computação), muitos dos tópicos sugeridos pelos buscadores também trarão informações sobre Turing, Ada Lovelace, computadores antigos e modernos, tecnologia, teoria, anúncios de computadores, filmes envolvendo computadores (por exemplo, “2001: Uma Odisseia no Espaço”), dentre muitas outras possibilidades.  Esse turbilhão de informações fornecido por milhares de páginas indexadas nos buscadores com certeza trará informações muito completas e valiosas sobre o tema pesquisado, mas, ao mesmo tempo, pode também desviar o foco da busca original.

Não seria de todo improvável que alguém, tendo iniciado sua busca no tema “computação” procedesse para a vida de Turing, se interessasse pelo trabalho deste cientista, seguisse para Bletcheley Park (onde Turing trabalhou durante a Segunda Guerra), e acabasse fazendo um tour virtual desta vila inglesa.   Ou então se interessasse pelos aspectos de inteligência artificial do futurístico filme “2001: Uma Odisseia no Espaço”, e acabasse por assistir ao mesmo.  Embora isto não seja um problema em si, podendo até ser entendido como uma divagação prazerosa, tais desvios de caminho podem enviesar a pesquisa sobre o tema inicial de interesse. “As buscas que fazemos na Internet quase sempre têm um propósito, mas elas possuem, ao mesmo tempo, componente aleatório, no sentido de poder seguir caminhos diferentes. Isso, porque ao digitarmos ‘computação’ num buscador, por exemplo, sempre serão mostradas diversas páginas de naturezas diferentes que, nem sempre, trarão as informações de forma organizada para o nosso propósito específico”, observa Luciano da Fontoura Costa, docente do Grupo de Computação Interdisciplinar do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP).

É justamente por causa dessa diversidade, em até certo ponto aleatória, de exibição de páginas na Internet que, muitas vezes, acabamos seguindo para algum assunto específico, desviando de outros tópicos também importantes no contexto da pesquisa inicial. “O caminho particular que percorremos na rede pode ser incompleto, tendo em vista a vastidão de informações fornecidas e o nosso tempo limitado”, comenta Luciano.

Abordagem por Redes Complexas

Para entender melhor o exposto, transforme essa situação em uma rede complexa, na qual cada nó representa um tópico relacionado ao conceito computação (que é o nó inicial), enquanto cada possível sequência entre esses tópicos são representadas por ligações dirigidas entre nós.  Dificilmente, através de buscas na Internet, será possível conhecer a topologia completa da rede.  No caso do exemplo citado, será muito difícil, através de um buscador, encontrar os mais importantes tópicos relacionados.  Isso exigiria um tempo muito grande, do qual não dispomos.

A representação por redes complexas, um dos principais tópicos da pesquisa de Luciano, permite uma melhor compreensão da dinâmica das caminhadas nas buscas na WWW.  Tais dinâmicas dependerão da topologia de interconexão de tópicos na Internet. Interessantemente, tópicos tendem a formar comunidades na WWW, no sentido de temas relacionados possuírem mais conexões entre si do que com outros tópicos.  Sabe-se, da pesquisa de redes complexas, que as caminhadas aleatórias em redes com estas comunidades tendem a ficar restritas por longo tempo dentro de uma mesma comunidade, limitando assim o acesso a outros assuntos relacionados tão ou mais interessantes e importantes.

Entram em cena os livros

Possível organização hierárquica e sistemática do conteúdo relacionado ao tema “computação”. Esta organização é bastante simplificada e reduzida e possui apenas intenção didática. Tais tipos de organizações são tipicamente adotadas em livros, conforme diretamente refletido nos respectivos sumários (créditos: Henrique Ferraz de Arruda e Luciano da F. Costa)

Contrastemos agora este tipo de estudo/pesquisa com o que é normalmente realizado utilizando-se livros.   “O livro, em geral, tem uma estrutura hierárquica, formada por capítulos, subcapítulos, seções etc., o que define um tipo de árvore. Assim, a informação já fica organizada sistematicamente em largura e profundidade, permitindo um mapa com as informações mais importantes que se referem ao assunto escolhido”, comenta Luciano.

Ao se observar o sumário de um livro, teremos uma visão panorâmica da maioria dos tópicos relacionados, organizados de maneira sistemática e, muito provavelmente, por progressivo nível de complexidade.  Isto permite uma escolha mais efetiva dos assuntos a serem estudados em maior profundidade, e sempre podemos retornar a este mapa para revisão do que ainda pode ser estudado.  De certa forma, é como se estivéssemos descobrindo um novo território e pudéssemos escolher entre fazer isto através de trilhas ao acaso, ou dispor de um mapa de satélite da região.

Nada em excesso

Isto quer dizer que devamos utilizar apenas livros para estudo e pesquisa? Não, com certeza.

Embora os livros e apostilas normalmente cubram sistematicamente os principais tópicos de um assunto específico, a Internet tem uma infinidade de informações que muitos livros podem não ter.  Portanto, respondendo à pergunta no início desta matéria, o ideal pode ser consultar livros e também a Internet. “Se você quer conhecer um assunto de forma abrangente, recomendo que se parta de um documento sistematizado, que pode ser um livro, apostila, notas de aula etc. E isso pode, inclusive, estar na própria Internet. O ideal é ter uma visão geral do assunto primeiro, e depois ir escolhendo os tópicos mais específicos a serem complementados”, recomenda o docente. “É bom ter uma ideia do caminho antes de iniciar a caminhada. O texto sistematizado pode funcionar como um mapa e, a partir dele, você identifica pontos de exploração e complementação na Internet”, sugere.

De acordo com Luciano, já existem estudos que têm como foco a geração de estruturas sistematizadas percorrendo a Internet, mas “a sistematização automática plena permanece um grande desafio. Isso, porque a solução adequada para isso exige um nível de inteligência comparável à humana”, complementa o docente.

Existe ainda outro importante ponto a ser considerado: o tipo de busca e escolha entre livros ou Internet também deve levar em conta o objetivo da busca.  O que se sugere nesta matéria são levantamentos relacionados a tópicos sobre os quais desejamos aprender ou acumular informações.   Entretanto, muitas vezes desejamos apenas “surfar” livremente pelas ondas da informação.   Neste caso, a Internet é, sem dúvida, um recurso muito atraente, contribuindo, inclusive, para a descoberta de novos fatos e interesses.

Podemos lembrar o antigo ditado grego que sugeria “nada em excesso”, no sentido de que é pertinente realizarmos tanto buscas objetivas quanto explorações livres, assim como utilizarmos, às vezes livros, às vezes a Internet, unindo o útil ao agradável, enquanto complementamos e enriquecemos o nosso conhecimento.

Assessoria de Comunicação – IFSC/USP

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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