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12 de julho de 2019

Cursinho Popular da Licenciatura em Ciências Exatas (CPCEx)

Companheirismo, empenho e paixão por ensinar. Palavras que sintetizam bem a trajetória do Cursinho Popular da Licenciatura em Ciências Exatas (CPCEx) da Universidade de São Paulo, Campus São Carlos, que progride mais e mais nas mãos de jovens graduandos do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP), apaixonados por ensinar. No corrente ano não é diferente: coordenado pelo segundo ano consecutivo pelos alunos da Licenciatura em Ciências Exatas, João Gabriel Barbosa da Silva e Felipe Cesar Bevilaqua, o CPCEx muda de espaço e procura atender mais jovens em busca da tão sonhada vaga na universidade.

O Cursinho, fundado pela Secretaria Acadêmica da Licenciatura em Ciências Exatas (SACEx), em 2007, desde o início mantinha suas atividades na Sala 14, do IFSC/USP, e atendia, até então, cerca de 25 alunos anualmente. Assumida a coordenação do CPCEx – já independente da SACEx – em 2018, João e Felipe observaram a necessidade de ampliação e fortalecimento do projeto. “Nós assumimos a coordenação do Cursinho e buscamos, primeiramente, solucionar as altas taxas de evasão. Nos anos anteriores, já nessa época do ano, cerca de 80% dos alunos teriam evadido, coisa que conseguimos diminuir drasticamente em 2018 – o qual finalizamos com 16 alunos”, narram os coordenadores. “Durante o primeiro ano de gestão, observamos também falhas na estrutura do Cursinho, que nos chamaram a atenção para a necessidade de alterações: precisávamos de material didático, um lugar maior e mais apoio do IFSC/USP, e para isso, bolar um projeto e estatuto”, completam.

No final de 2018, com a eleição do Prof. Dr. Vanderlei Salvador Bagnato para o cargo de diretor do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP), João e Felipe submeteram o projeto de reestruturação do cursinho, que foi muito bem recebido. “O Prof. Vanderlei foi muito solícito e abraçou o projeto sob a condição de levarmos mensalmente um docente do IFSC/USP ao cursinho, para uma aula, e assim passar aos alunos um gostinho do que é o ambiente universitário”, explica Felipe, que completa: “os alunos estão aproveitando muito da experiência”.

Felipe Cesar Bevilaqua

Das propostas aprovadas pelo diretor, em 2019, a mudança do local é uma das mais significativas. Antes localizado na Sala 14 do IFSC/USP, o CPCEx ocorre agora em uma das salas de aula do Centro de Divulgação Científica e Cultural da USP (CDCC/USP) e comporta os 40 alunos previstos no novo projeto. “O maior articulador da parceria CPCEx-CDCC foi o Prof. Vanderlei Bagnato. O CDCC muito prontamente abriu espaço para darmos continuidade ao projeto, que ocorre no período vespertino, no horário de funcionamento do CDCC”, comenta João. “A Profª Salete [Linhares Queiroz] – diretora do CDCC – nos recebeu muito bem! Além disso, temos o amparo de todo o pessoal, que está sempre a disposição”, apresenta Felipe, que ainda ressalta a qualidade do espaço e as intenções de utilizarem-se mais do que é oferecido pelo Centro. “A sala é excelente: espaçosa, com ar condicionado, lousa e projetor. Ainda não tivemos a oportunidade explorar mais da estrutura oferecida pelo CDCC, como trazer algum experimento prático para a sala de aula, mas futuramente eu gostaria de interagir com os alunos de forma a explorar o ensino investigativo também, reconstruir o conhecimento”.

Outra proposta dos estudantes foi o desenvolvimento de material didático próprio para o cursinho pelos próprios alunos da Licenciatura. A ideia surgiu da necessidade: a ausência de material como base para as aulas ministradas flexibilizava em excesso o conteúdo programático dos professores voluntários. “Eu e o João conversamos e concluímos que precisávamos arranjar um material didático, o que foi muito difícil – mandamos e-mails para algumas editoras, mas infelizmente nenhuma se dispôs a fornecer o material gratuitamente. Foi quando concluímos que seria interessante fazer diferente”, relata Felipe. Formular o próprio material porém, não é tarefa fácil; demanda tempo, disposição, e como diz o próprio João “fazer ‘de graça’ é loucura!”. Neste contexto, a direção disponibilizou dez bolsas para os alunos-professores que se dispusessem a colaborar com a elaboração do material. “O material será concluído ano que vem. Enquanto isso, nos viramos com o Hexag Solidário, – material pré-vestibular gratuito disponível online – xerox de exercícios e slides para direcionarmos nossas aulas”, diz Felipe.

João Gabriel Barbosa da Silva

Sobre os colegas professores e colaboradores do cursinho popular, os coordenadores destacam a qualidade do corpo docente voluntário. “Algo que também mudou na nossa gestão foi dar prioridade aos alunos do Curso da Licenciatura, visto que estes serão futuros professores. Hoje, salvo os professores de história, geografia, biologia, literatura e redação – os dois últimos convidados do departamento de Letras da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) – são todos essencialmente alunos da Licenciatura em Ciências Exatas do IFSC/USP, inclusive eu, que dou duas frentes de Matemática, e o Felipe, responsável por uma das frentes de Química”, menciona João, que acrescenta os reflexos positivos da medida. “Parece que as matérias pedagógicas dos cursos de Licenciatura não fazem tanto a diferença, mas fazem. Sempre que aplicamos a avaliação de professores no cursinho, os que são alunos da Licenciatura têm algo a mais”. Mesmo assim, João e Felipe afirmam haver um corpo docente forte e muito distinto. “Inclusive, temos metodologias de ensino diferentes, o que é ótimo para os alunos: existem estudos que comprovam que os alunos aprendem quando se altera o modo de ensinar. A grande mudança que possibilita o sucesso do cursinho nesses dois últimos anos é a mudança do corpo docente”, complementam.

Em relação à dinâmica com os alunos, Felipe destaca a realização de projetos psicopedagógicos como ótimos direcionamentos do cursinho. “A ideia de montar um projeto de tutoria e orientação profissional dentro do cursinho partiu do João. Ele montou uma ficha com perguntas pessoais sobre os alunos e a partir disso direcionou os tutorandos aos seus respectivos tutores. O legal da ficha é que você consegue ver no que o aluno tem dificuldade, se ele tem uma boa concentração, ou não, e isso chega ao tutor, responsável por elaborar um plano de estudos”, comenta Felipe sobre a iniciativa. “Por exemplo, eu tenho 3 alunos na minha tutoria e depois de todo simulado eu refaço o plano de estudos deles. Uma coisa que exigimos bastante é a sinceridade, porque não estamos lá para dar puxão de orelha, mas para ajudar”, completa.

João e Ricardo Maldonado

Segundo os estudantes do IFSC/USP, os benefícios pessoais e profissionais que a experiência agregou foram múltiplos e, possivelmente, uma das melhores oportunidades àqueles que pretendem seguir como professores. “Algo muito interessante sobre dar aula é que você só sabe se quer ser professor quando se arrisca. Existem algumas possibilidades de colocar isso em prática dentro da USP e acredito que o cursinho tornou-se uma das melhores”, comenta João. “Nessa época do ano, com o final do semestre e os alunos do cursinho já cansados, o que eu faço é ceder a outros alunos da Licenciatura algumas das minhas aulas. É uma oportunidade dos graduandos se arriscarem em sala de aula, assim como dos alunos do cursinho de consolidarem em determinadas disciplinas”. Já Felipe destaca a oportunidade da construção de um perfil como professor e a inevitável valorização do currículo profissional “Eu já estou no segundo ano dando aula, e você cria um repertório: de aulas, de piadas… O seu perfil como professor. Dessa forma, você já adquire uma experiência profissonal prévia e não chega ‘cru’ no mercado de trabalho. Isso conta muito”, diz, ressaltando ainda o efeito das relações interpessoais. “Acredito que você fique mais sensível às relações humanas quando se tem um contato tão próximo. Muitas vezes, o aluno vem falar coisas pessoais para você, sobre os problemas que ele tem em casa. É uma experiência ímpar e você deve saber lidar com isso também”, revela.

Quanto às novas reformas, os coordenadores não pretendem ‘estacionar’. João e Felipe evidenciam sempre uma grande vontade em deixar um legado para futuros estudantes e coordenadores. “Esse sempre foi um ponto muito discutido entre eu e o João. Nós queremos deixar um legado para o cursinho, transformá-lo no melhor dos – ou um dos melhores – cursinhos populares da região, porque sabemos, como futuros professores, a melhor forma de disseminar conhecimento”, confessa Felipe, que já prepare um meio para orientar as gerações futuras. “Agora temos um e-mail institucional – cursinho@ifsc.usp.br – em que há uma pasta do Drive contendo todas as informações sobre os anos que estamos na coordenação do cursinho – 2018 e 2019. Assim, caso chegue uma nova gestão que não teve contato conosco, os novos coordenadores conseguirão ter acesso ali de como foi a gestão anterior, quem são os alunos, as provas e inclusive orientações para que não precisem começar do zero”, finaliza.

Relato de quem viu: por dois anos aluno do CPCEx

E quem melhor que um aluno para opinar? Ricardo Maldonado tem 18 anos, e está à dois no CPCEx. Venezuelano de nascimento, Ricardo chegou ao Brasil sem falar, ou entender a língua portuguesa – coisa que para o tutor do garoto, João Barbosa, foi a única razão para não ser aprovado em 2018 – e soube do cursinho através de amigos. “Eu deveria ter uns sete meses no Brasil, mais ou menos, e o cursinho foi fundamental para mim. No meu primeiro ano, aprendi muito, – além de outra cultura, outra língua – porque a educação que eu tive aqui é a melhor que eu já tive em toda a minha vida. Achei o cursinho incrível e uma ferramenta de qualidade para ajudar a atingir meus objetivos. A estrutura é muito boa, mas este ano está bem melhor que ano passado: está mais organizado”, diz Ricardo.

O jovem, que decidiu recentemente cursar Ciências Exatas, menciona a importância do interesse dos coordenadores em expandir o projeto na reestruturação do cursinho, que trouxe boas mudanças. “Acho que no ano passado o esforço foi muito grande, mas o trabalho que eles estavam realizando não foi tão valorizado. Este ano eles tiveram a oportunidade de expandir o projeto, e acredito que eles souberam utilizá-la bem. Esse suporte contribuiu na reforma do cursinho para algo positivo”, avalia Ricardo.

Sobre as dificuldades de se introduzir em um país com cultura e língua diferentes, Ricardo relata a importância do cursinho no processo de adaptação. “Eu tive muita dificuldade e cheguei a pensar em desistir, porque achei muito complicado: chegar e conhecer outra cultura, outra língua, outra história, outra visão da vida – que a gente ignorava lá, pelo menos. Foi muito difícil para mim, sabe? Eu sabia que queria chegar em algum lugar, então eu pensei que tinha que aguentar o que viesse para alcançar os meus objetivos. No meu primeiro ano de cursinho, eu ia para a aula e não entendia a maior parte daquilo que os professores falavam – eu tinha que fazer o dobro do esforço dos demais para acompanhar a aula” relata. “Acho que o mais importante foi a resiliência comigo, porque eles não se renderam em me ajudar. Acredito ser esse o motivo pelo qual progredi tão rápido”, completa Ricardo, até então apenas observado pelo tutor e coordenador, João Barbosa. “E hoje em dia ele usa a palavra ‘resiliência’!”, brinca João com o aluno e amigo, que acha graça e aproveita para agradecer: “Eu estou muito agradecido com essa oportunidade, realmente agradecido”, finaliza Ricardo.

(Reportagem Carolina Falvo / Superv. Rui Sintra)

Assessoria de Comunicação – IFSC/USP

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