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23 de agosto de 2019

Combatendo infecções na garganta com terapia fotodinâmica

Jennifer e o pôster de seu trabalho

Jennifer Machado Soares é mais uma aluna de mestrado formada recentemente pelo Instituto de Física de São Carlos – IFSC/USP neste ano de 2019. Em sua tese, defendeu o tema: “Estudos de parâmetros microbianos em múltiplas sessões de terapia fotodinâmica”.

Jennifer afirma que seu trabalho surgiu a partir de um projeto maior, que já está em andamento, que é o tratamento de infecções microbianas na garganta. “Como este estudo já está em fase clínica, verificou-se que era preciso executar alguns estudos adicionais que, com o andamento do trabalho, foram colocando várias questões.  Foi a partir daí que a tese de meu mestrado ficou definida para voltar ao laboratório e assim estudar novos parâmetros microbianos que possam ser influenciados quando se aplica a terapia fotodinâmica, múltiplas vezes”, pontua Jennifer, acrescentando que já havia trabalhado com terapia fotodinâmica em sua graduação, mas, na ocasião, trabalhou com descontaminação de sangue.

A terapia fotodinâmica para tratamento das infecções na garganta é um tratamento alternativo ao antibiótico que vem apresentando resultados promissores através de tratamentos curtos, especifica a jovem pesquisadora, acrescentando: “Esse tratamento já tinha estudos preliminares clínicos realizados, mas agora já tem complementação na Santa Casa da Misericórdia de São Carlos; então, os pacientes que passam pela triagem com os médicos e que são diagnosticados com infecção de garganta – faringotonsilites – são direcionados para o tratamento de terapia fotodinâmica, um procedimento que é realizado em conjunto com o antibiótico, quando prescrito”.

Para entender um pouco mais sobre seu trabalho, Jennifer explica que a terapia fotodinâmica é uma técnica que vem sendo estudada há alguns anos, sendo utilizada uma molécula fotossensibilizadora que tem a capacidade de absorver uma determinada faixa de luz. Quando essa luz é absorvida pela citada molécula, em determinada região, ela pode promover a morte da célula doente, ou outros estímulos celulares, ao interagir com o oxigênio presente no ambiente. A esse processo dá-se o nome de terapia fotodinâmica. As luzes utilizadas neste processo podem ser tanto de laser como led, sendo que o importante é fazer a combinação correta desta molécula fotossensibilizadora com  a luz. “Por exemplo, no meu tratamento utilizo a curcumina, que está associada à luz azul; então, é necessário fazer esta combinação”, elucida Jennifer.

A curcumina é um fotossensibilizador que é extraído da raiz de uma planta, muito utilizada na culinária. Trata-se do açafrão, não aquele que é comercializado no mercado, mas um componente purificado, mais específico. Segundo nossa entrevistada, uma das grandes vantagens da terapia fotodinâmica, em relação ao antibiótico, por exemplo, é que ela tem a capacidade de não selecionar bactérias que sejam resistentes ao mecanismo. “Atualmente, temos um grande problema na nossa sociedade, que é a resistência bacteriana. A previsão até 2050  é que haja mais mortes causadas por resistência bacteriana, independente de ser uma infecção de garganta, pneumonia, ou qualquer doença desse tipo, sendo que esse índice de óbitos esta será superior ao da morte por câncer. Estima-se que até essa data possam ocorrer dez milhões de mortes por resistência bacteriana contra oito milhões de mortes por câncer”, sublinha Jennifer.

A causa do problema da resistência das bactérias aos antibióticos acontece em virtude do uso indiscriminado dos mesmos, tanto na pecuária – para auxiliar o crescimento animal, que, como consequência, seleciona bactérias resistentes, mas também no uso doméstico, seja pela utilização incorreta dos antibióticos por parte dos pacientes –  horários errados, interrupção do tratamento, ou ainda nos casos de prescrição médica inadequada, como acontece nos casos de faringotonsilites virais, no qual o tratamento não deve ser feito com esses tipos de medicamentos. No caso viral, o tratamento consiste em hidratação e medicamentos para aliviar sintomas, como a dor, tosse, etc.

Natural de Sorocaba ela relembra que sua chegada em São Carlos foi bastante impactante, já que sempre esteve ligada a seus pais. “Foi uma mudança muito brusca, pois eu nunca tinha dormido fora de casa, nem para ficar na casa dos amigos. De repente, me mudei para outra cidade. Essa questão de vir para um lugar onde não se conhece quase ninguém e passar a morar sozinha, traz necessidades de habituação nem sempre fáceis: uma nova cidade, uma nova vida”, recorda a estudante. “Já virei uma são-carlense”, brinca. Apesar de todas as dificuldades, ela está decidida a continuar morar no município para trabalhar em seu doutorado. “Pretendo seguir no doutorado, meu projeto será um pouquinho diferente do mestrado, mas ele acaba derivando de resultados que obtive nesta primeira etapa”, nos garante.

Trabalhar pensando nas pessoas que mais necessitam

Quanto ao seu amor pela Física, Jennifer confidencia: “Na escola eu sempre gostei de todas as disciplinas, principalmente as de exatas, só que ao mesmo tempo sempre gostei muito de pesquisa laboratorial, sempre com a firme intenção de que meu trabalho não fosse algo que contribuísse para uma empresa específica, mas que ele revertesse em algo benéfico para a sociedade. Então, tentando conciliar um curso que fosse de exatas com algo que fosse aplicado em biologia, para desenvolver novos tratamentos, eu encontrei no Curso de Ciências Físicas e Biomoleculares, aqui no IFSC/USP o curso ideal”.

Exemplo do tratamento

Como mensagem para quem ainda esteja na dúvida de escolher um futuro na área científica, Jennifer opina: “A ciência é uma carreira muito bonita, mas também tem muitas dificuldades, ainda mais no Brasil. Eu sou uma estudante de mestrado, trabalho na universidade, tenho uma bolsa que vem de um órgão público e a universidade aqui é pública: só que as pessoas nos olham apenas como estudantes, só que estamos aqui trabalhando, sendo que não temos esse reconhecimento de ser um trabalhador, um cientista. Contudo, os resultados que nós obtemos são muito bonitos. É uma paixão, mesmo – a gente sofre, mas a gente ama. Para os futuros físicos, tenham em mente que é uma carreira que você vai ter dificuldades – ainda mais com o futuro incerto que vemos na educação – mas é um esforço que vale a pena, os resultados trazem grande contentamento. Por exemplo, eu estou neste projeto e, apesar de estar trabalhando dentro de um laboratório, sei que meu resultado está contribuindo para o tratamento que está sendo feito na Santa Casa da Misericórdia de São Carlos, e sei que isso irá auxiliar – muito – uma pessoa que chegou com uma enfermidade e que irá sair curada, pronta para prosseguir a vida. Tem coisa melhor que isso???”, finaliza a jovem aluna.

(Entrevista: Lilian Tarin / Texto e edição: Rui Sintra / Fotoslide: GettyImages))

Assessoria de Comunicação – IFSC/USP

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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