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29 de novembro de 2016

As redes do IFSC contra o zika vírus

Em 11 de novembro de 2015, o Ministério da Saúde brasileiro decretou emergência em saúde pública no país. A razão? Um surto de microcefalia causado por um vírus recém-descoberto em território nacional: o zika vírus. Embora ainda não se tenha certeza absoluta da relação entre zika vírus e o surto mencionado, diversos estudos realizados desde então associam os dois fatos.

Zika_virus_2016Alarmados, diversos órgãos federais e estaduais, inclusive agências de fomento, têm investido pesado em pesquisas que possam não somente comprovar a associação entre zika vírus e microcefalia, mas também incentivar pesquisadores brasileiros a encontrar soluções para exterminar o vírus do território brasileiro, bem como encontrar formas de diagnóstico e tratamento às infecções causadas por ele.

Esse foi o caso do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) que, em parceria com o Departamento de Ciência e Tecnologia (Decit/SCTIE/MS), lançaram uma chamada em junho de 2016 para “selecionar propostas para apoio financeiro a projetos que visem contribuir significativamente para o desenvolvimento científico, tecnológico e de inovação no País, com foco especial na prevenção, diagnóstico e tratamento da infecção pelo zika vírus e doenças correlacionadas”. O investimento da chamada soma R$65 milhões, que serão distribuídos entre as instituições e centros de pesquisa que tiverem propostas aprovadas.

Aberta a pesquisadores de todo o Brasil, no total, 32 propostas foram selecionadas, sendo duas delas de autoria dos docentes do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP) Valtencir Zucolotto (Grupo de Nanomedicina e Nanotoxicologia) e Vanderlei Salvador Bagnato (Grupo de Óptica).

Embora sejam oriundas da mesma instituição de pesquisa, as propostas têm focos diferentes: enquanto a rede que será coordenada por Zucolotto irá mirar uma maneira rápida (e barata) na detecção da infecção, Bagnato voltará seus esforços para o extermínio das larvas do Aedes aegypt* de maneira eficiente e ecologicamente correta.

Diagnóstico rápido e barato

A proposta de Zucolotto consiste no desenvolvimento de dispositivos para detecção rápida de zika vírus e dengue, e a separação entre eles. “Tendo como base amostras de pacientes, estes dispositivos tem a presença de nanotecnologia. A base para a diferenciação dos dois tipos de vírus [zika e dengue] será dada através da detecção genética, ou seja, nós conseguiremos fazer a diferenciação entre zika e dengue analisando o DNA de cada um deles”, explica Zucolotto.

Zika-_ZucolottoOs testes disponíveis para fazer esse tipo de detecção são hoje demorados e de alto custo, além de não serem capazes de diferenciar os dois vírus. Porém, através da “assinatura genética” de ambos, essa diferenciação se torna possível. “Algumas partes da sequência de DNA de zika e dengue são muito parecidas, mas outras são totalmente diferentes. É por esse caminho que tentaremos fazer a separação e diferenciação entre eles”, conta o docente.

Zucolotto, que será coordenador da rede em questão, contará com a colaboração de outras instituições de pesquisa, somando quase 50 participantes no total, entre docentes, alunos e pesquisadores em geral. Sua proposta, que se encaixa na linha temática “Desenvolvimento de novas tecnologias diagnósticas”, contará também com pesquisadores da EMBRAPA, FioCruz e UFG**. Além disso, possíveis parcerias com instituições do exterior também são visadas no projeto. “Pesquisadores da Argentina e da Alemanha já demonstraram interesse em trabalhar conosco em outros projetos similares, mas que não foram aprovados na ocasião. Agora existe grande chance de que essa parceira se concretize”, diz Zucolotto.

Extermínio amistoso ao meio ambiente

Moléstias, como o zika vírus, para serem combatidas, passam por três etapas distintas: o combate ao vetor, que é quem carrega e transmite o vírus, o combate ao microvetor, que está contido no vetor e, finalmente, o combate à doença transmitida.

Zika-_BagnatoA proposta de Bagnato, que se encaixa na linha temática “Desenvolvimento e avaliação das estratégias para controle de vetores em seus vários estágios de desenvolvimento”, mira no combate ao vetor do zika vírus, ou seja, no combate à larva do Aedes aegypti. E a maneira que isso será feito chama a atenção, justamente por ter como base uma das moléculas da curcumina, um dos componentes do açafrão, tempero comumente utilizado na culinária brasileira. “Colocaremos na água onde as larvas se desenvolvem uma molécula que é extraída da curcumina. Ao dissolvermos a curcumina na água, as larvas a absorvem. E, com a presença de luz do sol, ocorre uma fotorreação. A luz, em conjunto com essa molécula, mata as larvas”, explica Bagnato.

De acordo com o docente, a prova de conceito já foi realizada, isto é, já foi comprovado que a soma curcumina e luz do sol é capaz de matar as larvas do Aedes aegypti (clique aqui para mais detalhes). O próximo passo será a prova de campo, etapa durante a qual diversos testes serão feitos. “O interessante de nossa proposta é que as moléculas são biocompatíveis, não agredindo o meio ambiente e nem seres humanos. Se, porventura, uma pessoa ingerir curcumina, nada acontecerá, diferente dos inseticidas comuns utilizados para eliminar os mosquitos”.

Assim como na rede coordenada por Zucolotto, Vanderlei também conta com instituições parceiras para concretização do projeto, entre elas a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e a empresa PDT Pharma.

No próximo dia 30 de novembro, ocorrerá o seminário Marco Zero, durante o qual todos os coordenadores dos grupos de trabalho da Rede Zika estarão reunidos em Brasília para discutir, entre outras coisas, os ajustes metodológicos e outros aspectos relacionados à execução dos projetos aprovados. Que o zero também chegue ao número de vítimas brasileiras do zika.

*Vetor do zika vírus, dengue e chikungunya

**Empresa Brasileira de Agropecuária, Fundação Oswaldo Cruz e Universidade Federal de Goiás

Assessoria de comunicação- IFSC/USP

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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