Prof. Vanderlei Salvador Bagnato, diretor do IFSC no período de 20/02/2018 a 19/02/2022, fala sobre a excelência do IFSC

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Prof. Eric Andrade, docente do IFSC no período de 18/01/2016 a 21/07/2022, fala sobre o ambiente de pesquisa no IFSC

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Estudante Laureana Fontolan fala sobre sua pesquisa no IFSC

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Total de defesas: 2028 (100%)
Mestrado: 1143 (56.36%)
Doutorado: 885 (43.64%)

Silverio Crestana

Graduação: IFQSC – Bacharelado em Física
Mestrado e Doutorado: IFQSC – Programa de Pós-Graduação em Ciências / Área: Física Aplicada
Atividade profissional atual: Sócio-Gerente e Diretor da MR-Results

Silverio Crestana é casado, natural de São Carlos e sócio da MR – Results, empresa sediada em São Paulo e dedicada à gestão empresarial, consultoria em inovação, empreendedorismo e políticas públicas. Com 56 anos, Silvério confessa que a “paixão” pelas ciências exatas começou quando iniciou o antigo ginásio e colegial, com interesse muito grande por matemática e física. Esse interesse também desabrochou graças a um grupo de professores que muito o estimularam e que ainda hoje ele os elege como “memoráveis”. Tanto no Grupo Escolar Eugênio Franco, com a Profª Maria Terezinha Venusso de Toledo, quanto no Instituto Álvaro Guião, com os professores de matemática e física, Orlando Perez, Iria Müller Guerrini e Ana May Brasil, entre outros. O amor pelas ciências exatas foi também repartido pelo entusiasmo que Silvério Crestana começou a ter pelo seu País, estimulado pelas aulas de geografia, história e conhecimentos gerais de sua saudosa professora, Maria Aparecida Morais, num período marcado pela efervescência científica mundial, com a viagem do homem à Lua. Para Crestana, esses acontecimentos marcaram as crianças e jovens daquela época, com a abertura de muitas portas que deram a conhecer imensos e inovadores cenários relacionados com as novas tecnologias, novas fontes de energia e novos materiais; enfim, com as novas possibilidades que, a partir daí, começaram a ser exploradas.

Quando falamos do ensino médio a Silvério Crestana, a primeira imagem que aparece na sua memória é a do Instituto de Educação Álvaro Guião, de São Carlos, uma instituição que sempre teve tradição e era considerada uma das melhores escolas do Estado de São Paulo, primando pelo excelente grupo de professores: “Era uma escola fantástica, com laboratórios e uma boa biblioteca. Fazíamos grupos de estudo, participávamos de feiras de ciência. Uma vez o Vanderlei Bagnato (atualmente, renomado docente e pesquisador do IFSC-USP), colega de classe no Álvaro Guião e depois no IFSC-USP, foi convidado a apresentar um trabalho na Bienal de Ciência, em São Paulo. Ele nos incentivou e criamos um grupo constituído por ele, eu e o Ricardo Toledo, onde apresentamos experiências com pilhas elétricas, lâmpadas a gás, galvanoplastia e outras invenções que o Bagnato fazia no porão da casa dele. Foi a primeira vez que fui a São Paulo. Fomos num ônibus da Viação Cometa, ficamos no alojamento dos atletas do Pacaembu e de lá íamos para a Bienal, no Ibirapuera. No colegial já sabíamos se teríamos capacidade de entrar em uma boa universidade ou não. De minha classe de quarenta alunos, dezesseis entraram na USP, UNESP ou Unicamp. Alto índice tratando-se de uma escola pública”, recorda Crestana, esboçando um sorriso de saudade.

Contudo, nem sempre a vida foi fácil para este ex-aluno do IFSC-USP, principalmente pelas dificuldades enfrentadas para a subsistência de sua família. Morando na zona rural, a 25 km de São Carlos, Crestana é um dos nove filhos de um casal de lavradores que trabalhava de sol-a-sol, com a ajuda dos filhos. Todos eles estudaram, mas todo o santo dia partiam para a escola a bordo de uma Kombi bem velhinha: “Trabalhávamos das 6 às 11 horas da manhã no mangueiro, ou no cafezal, e depois meu pai nos levava para a escola. No final do dia, voltávamos para o sítio. Naquela época, não havia eletricidade em casa e estudávamos com luz de vela e lampião a querosene”, salienta Crestana. As dificuldades eram superadas pela vontade da família querer sair daquela situação sofrida, subdesenvolvida. Havia um esforço coletivo, todos se ajudavam e se apoiavam mutuamente: “Minha mãe, que nos alfabetizou na escola rural, sempre nos estimulou a ler, fazer as tarefas e trabalhos escolares. Lembro-me que, para cada filho, ela recomendava uma leitura. Li o “O Homem que Calculava”, de Malba Tahan, e depois revivíamos os capítulos brincando com os números nas caminhadas de final do dia. Meu pai contava as histórias que ele viveu na Segunda Guerra Mundial, onde serviu como pracinha brasileiro. Ele gostava de ler e tinha uma boa cultura; gostava de clássicos e muitas vezes citava Dostoiévski – ‘A vida é vida em qualquer lugar, a vida está em nós mesmos e não fora de nós’. Dizia que o nosso sucesso estava na nossa capacidade de estudar e fazer uma faculdade. Os irmãos mais velhos serviam como exemplo para os mais novos, tanto nos estudos como nos afazeres domésticos”, enfatiza nosso entrevistado. Além de seus pais, Silvério e seus irmãos também recebiam apoio e incentivo de tios e primos, para que todos eles estudassem, presenteando-os de quando em vez e sem distinção, com livros, enciclopédias, jogos e brinquedos educativos.

A decisão de cursar Física e de entrar para a universidade foi, de certa forma, uma espécie de “contaminação” do irmão mais velho de Silvério – Sílvio. Ainda no colegial, nosso entrevistado pensava em fazer matemática, mas depois conheceu a Física e decidiu-se definitivamente por ela. Sílvio fazia física e Silvério gostava daquele ambiente acadêmico que seu irmão frequentava com seus colegas, sempre estudando, preocupados com provas e listas de exercícios, mas ao mesmo tempo felizes com o que faziam, e também discutirem questões filosóficas, políticas e de fronteira do conhecimento. Não havia barreira intelectual com nenhuma outra área de conhecimento, já que, segundo Silvério “eles pareciam estar acima de qualquer contradição com as demais profissões”. Os professores e técnicos da Física eram muito próximos dos alunos, estando sempre juntos na cidade ou nas repúblicas, quer no cinema, quer também nos laboratórios: “Alguns professores faziam, inclusive, caminhadas e passavam por nosso sítio, lá no Alto da Serra de Analândia. Eram muito alegres, interessados em nossas vidas, e aquele jeito liberal e familiar desses cientistas também era muito estimulante. Minha decisão por fazer física foi, assim, muito natural”, pontua Silvério.

Nos primeiros anos de universidade, é natural o aluno passar por uma série de conflitos e dúvidas. Contrapondo os prazeres pelo conhecimento e pela ciência, estes ficavam diminuídos por aquilo que Silvério considera de “algumas aulas chatas, com provas e listas de exercícios burocráticos e cansativos”, embora sempre prevalecesse a ideia de que sem dificuldade não haveria sucesso. Alguns professores não se incomodavam com o desmotivação dos alunos, tratando essa situação como se isso fosse um processo seletivo natural, onde os melhores sobreviveriam. Silvério ressalta, todavia, que tirando essas raras exceções, sobressaía um número de excelentes professores, mas nem sempre eram eles que prevaleciam nas decisões sobre os cursos: “Neste parâmetro, presto minha homenagem aos caros Professores Almir Massambani, Renê Ayres, Dietrich Schiel e Robert Lee Zimmermann, já falecidos. Minha turma começou com vinte alunos e desses se formaram apenas meia dúzia, contando-se, entre eles, duas personalidades geniais – Vanderlei Bagnato e o José Nelson Onuchic, além dos demais, todos especiais -, mas as dificuldades não aconteciam apenas com os alunos de física. A crise política também estava presente em nosso dia-a-dia. Durante a graduação, envolvi-me bastante com o movimento estudantil: era uma época de regime militar e lutamos pela anistia, pela redemocratização, pelo ensino público e gratuito, por eleições diretas, e outras bandeiras. Nos últimos anos de graduação eu já tinha o perfil de quem não iria seguir a carreira acadêmica. Eu representava os estudantes na Congregação do Instituto e já rejeitava aquele ambiente competitivo entre professores, cientistas, recursos para pesquisa, número de publicações, cargos administrativos e conflitos gerados por vaidades pessoais, etc.”, recorda Silvério Crestana.

No último ano de física, Silvério pensou seriamente em desistir e só não levou por diante essa intenção graças ao Prof. Sérgio Mascarenhas que, segundo nosso entrevistado, sempre foi extraordinário, criativo e motivador, onde, ao mesmo tempo em que ele reconhecia a competência do aluno e o elogiava, simultaneamente propunha para ele um determinado desafio. ”Ele é um verdadeiro cientista. Foi o pioneiro na criação do Instituto de Física de São Carlos (USP), na Universidade Federal de São Carlos, no Centro de Pesquisa e Instrumentação da Embrapa e em tantas outras instituições. Ele sempre considera que o principal fator de sucesso nas instituições científicas e de pesquisa é a motivação das pessoas e não apenas o volume de recursos, os laboratórios bem montados e outros itens que se consegue, desde que você tenha um bom projeto de pesquisa. Com ele fiz o mestrado em dosimetria de radiações e física médica, depois fiz o doutorado em física nuclear e vivi o melhor período na área de pesquisa. Publicamos trabalhos científicos, participei de vários cursos e congressos no exterior. A convivência com ele, com os colegas do laboratório de biofísica e com os professores que visitavam o Prof. Sérgio sempre foram muito positivas. E, a propósito, foi em um curso no ICTP- International Cen-ter for Theoretical Physics, na Itália, que conheci a Denise, que também é física, nos casamos e temos um filho, o Bruno. Durante o mestrado e doutorado, eu já trabalhava em empresas. Na SAPRA-Serviço de Proteção Radiológica e depois, na construção de equipamentos para controle de qualidade em indústria de papel. Não segui a carreira acadêmica exatamente pelas contingências e oportunidades que surgiram ao longo de meu caminho.

 

A decisão de seguir o caminho do setor produtivo

A decisão de Silvério Crestana seguir o setor produtivo foi quase que natural, já que sempre gostou de trabalhar em áreas que permitiam pesquisar, adquirir novos conhecimentos e que tivessem aplicações e impactos positivos na sociedade, colocando de lado e desde cedo a perspectiva de uma carreira acadêmica. Logo após ter concluído seu doutorado, Silvério passou um período nos EUA, visitou o MIT e Berkeley, buscando um centro para fazer pós-doutorado. Aí, percebeu que em sua turma, no MIT, a maioria das pessoas era oriunda de empresas e que existia aí um universo imenso para explorar. Desistiu de fazer o pós-doutorado e decidiu “meter as mãos na massa”: “Nessa época eu era contratado na ENGEPRON- Empresa Gerencial de Projetos Navais, ligada ao Ministério da Marinha. Para conhecer melhor a área empresarial, sempre procurei me atualizar com novos cursos. Fiz um MBA em Gestão Empresarial na FGV- Fundação Getulio Vargas, e Especialização em Políticas Públicas, no Instituto de Economia da Unicamp”, salienta Silvério. O percurso profissional do ex- aluno do IFSC-USP é vasto. Primeiro, trabalhou na Sapra, em São Carlos, seguindo-se uma rápida passagem pela CPFL, em Campinas, onde o Prof. Rogério Cerqueira Leite estava criando um grupo de pesquisa. Em seguida, trabalhou durante um ano na COPPE, na UFRJ, tendo depois ingressado no projeto nuclear da Marinha do Brasil, onde trabalhou de 1988 até 2001, no cargo de pesquisador e gerente de projetos de segurança nuclear e meio ambiente, um projeto que foi muito bem sucedido. Havia uma estratégia nacional que visava dominar o ciclo de enriquecimento de urânio, produzir combustível nuclear e construir reatores de potência para geração de eletricidade e propulsão de submarino. O Centro Experimental de Iperó – SP constrói ultra-centrífugas para enriquecimento isotópico de urânio e o Brasil é um dos poucos países do mundo a dominar essa tecnologia. Os obstáculos foram criados por governos que não deram continuidade aos investimentos e demitiram muitos cientistas e engenheiros altamente qualificados. Nos últimos anos o Programa está sendo retomado.

Em seguida, Silvério participou de um processo seletivo na Korn Ferry Internacional, que estava selecionando gerentes para o SEBRAE- Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, tendo sido contratado para a unidade de inovação e depois convidado a gerenciar a unidade de políticas públicas: “Fizemos um grande trabalho que culminou na aprovação do Estatuto Nacional das Micro e Pequenas Empresas, uma legislação semelhante ao Small Business Act, nos EUA. Também lideramos a criação de políticas públicas municipais para apoio às MPE’s, onde hoje elas são aplicadas em mais de três mil municípios brasileiros. Essa legislação trata de Acesso à Justiça, Crédito, Inovação, Compras Governamentais, Educação Empreendedora, e a Novos Mercados, além de reduzir a carga tributária por meio do Supersimples. Depois de nove anos no SEBRAE, fui consultor do BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento, em Brasília e em 2011 associei-me a dois colegas na MR Results, empresa de consultoria onde mais me dedico, atualmente. A MR Results é uma pequena empresa de consultoria em gestão empresarial, inovação, empreendedorismo e políticas públicas”. Nessa empresa, Silvério Crestana compartilha sua experiência adquirida com as de outros dois sócios ao longo de mais de trinta anos de profissão. Atualmente é consultor da Frente Parlamentar do Empreendedorismo da Assembleia Legislativa, do SESCON-SP e do Sistema Sebrae.

Da Física, Silvério traz o método de trabalho: “Num laboratório, usamos regras básicas para produzir conhecimento científico, enquanto que no gerenciamento de projetos controlamos recursos e tempos para buscar resultados de boa qualidade. Muitas competências, tais como iniciativa, criatividade, raciocínio analítico, visão estratégica, pesquisa de informações, capacidade de tomar decisão, persistência, habilidade para liderar equipes, foco em resultados que gerem impacto, são importantes, tanto na física quanto nas empresas”, explica nosso entrevistado.

Em uma empresa, o salário de um físico se equipara ao de um engenheiro, administrador, economista, desde que esses exerçam funções equivalentes. A vantagem do físico é que ele se adapta bem em múltiplas funções. Normalmente, os salários das empresas são maiores que os dos professores das boas universidades, embora, com uma certa lógica, não exista estabilidade e flexibilidade como na academia. Na área de consultoria, é necessário ter muitos anos de experiência, ou seja, não é lugar para se iniciar uma car-reira. Segundo Silvério, os valores variam de acordo com os projetos, instituições, períodos e outras variáveis. Atualmente, os consultores que prestam serviços para instituições brasileiras, como o SEBRAE, ou para agências internacionais, como o BID, órgãos do governo ou instituições empresariais e empresas médias, cobram na ordem de R$ 200,00 a hora de consultoria, (da ordem de R$ 220 mil/ano) mas essa é apenas uma referência. Em alguns casos, os valores são calculados por projetos e os valores podem ser muito superiores a esses.

Quanto às expectativas para o futuro, Silvério Crestana é enfático ao afirmar que acredita muito no Brasil, pois sente que há uma evolução muito positiva em várias áreas, tanto na indústria, comércio, serviços, agronegócios, e também na educação. Sendo o Brasil a sexta economia mundial, as empresas querem melhorar a sua competitividade, mas, segundo o nosso entrevistado, o governo não pode atrapalhar, é preciso melhorar a eficiência na gestão pública: “Meu desafio é contribuir para isso. Essa não é uma tarefa fácil e nem se realiza sozinho. Sempre associado a outras pessoas e instituições, desejo continuar contribuindo na melhoria do ambiente empreendedor brasileiro, na inovação tecnológica, nas condições sociais dos cidadãos menos favorecidos e, para isso, é necessário modernizar a administração pública, não apenas com inovação tecnológica, mas, principalmente, com pessoas capacitadas e motivadas. Minha expectativa profissional é contribuir nesse esforço nacional, que deverá ser a prioridade dos governos nos próximos anos.”

Para os alunos do IFSC-USP, ou para aqueles que desejem ingressar futuramente em nosso Instituto, Crestana deixa algumas dicas, em forma de conselho: “Sejam empreendedores. Não se limitem a assistir aulas e fazer listas de exercícios. Aproveitem os professores e colegas para discutirem todos os tipos de problemas. Participem dos grupos de pesquisa e congressos científicos, construam equipamentos, usem mais os laboratórios. Um bom físico é um bom formulador de problemas. As melhores chances de fazer descobertas científicas ocorrem antes de completar 30 anos. O IFSC-USP está na fronteira de várias áreas do conhecimento, por isso, pensem em aplicar esses novos materiais, equipamentos e métodos. Não deixem eles se desatualizarem nas prateleiras nem nos “papers”. Inventem desafios que estimulem a inteligência e a racionalidade, mas não descuidem as emoções e o lado humano. Viagem, namorem, lutem por ideias, participem do CAASO, acompanhem a política local e a nacional. Sejam criativos!”, finaliza Silvério Crestana.

Também proponho que o IFSC-USP crie uma disciplina de empreendedorismo com o objetivo de contribuir para a disseminação da cultura empreendedora, e incentivar os alunos a se inserirem no mercado de trabalho com uma atitude empreendedora ou a criarem seus próprios negócios.

João Luiz Bunoro Batista

Graduação: IFSC – Bacharelado em Física / Habilitação: Informática
Mestrado: IFSC – Programa de Pós-Graduação em Física / Área: Física Aplicada / Opção: Física Computacional
Atividade profissional atual: Coordenador de Risco de Crédito no Itaú/Unibanco

João Luiz Bunoro Batista, de 27 anos, fez sua graduação e mestrado em física computacional no Instituto de Física de São Carlos (IFSC-USP), exercendo atualmente a função de coordenador de risco de crédito, no Banco Itaú. Nascido em Cuiabá, Mato Grosso, ele veio para São Carlos exclusivamente para estudar no IFSC. Seu ensino fundamental foi realizado no CIEP e já nessa época começou a se interessar por astronomia e matemática. Porém, foi no colégio São Gonçalo que João Luiz encontrou grande apoio e incentivo de seus professores para atuar nas ciências exatas, já que, regularmente, se realizavam atividades extracurriculares que estimulavam o gosto de João pela física. No último ano do colegial, ele já tinha certeza de que cursaria física ou engenharia, tendo optado pelas melhores universidades do país. “Dei preferência às grandes universidades, como a USP, UNICAMP e UFSCar”. Ao pesquisar sobre o curso de física do IFSC, João se identificou ainda mais, não apenas com a grade curricular, quanto com a própria cidade que reunia as condições ideais, ou seja, a predominância da calma e segurança, ao contrário dos grandes centros urbanos. Assim que chegou a São Carlos e iniciou os estudos no IFSC-USP, uma das principais dificuldades de João foi se adaptar à nova vida, longe da família e dos amigos de infância, ter que sobreviver com o dinheiro – que não era muito – e se acostumar com sua nova autonomia. Quanto ao curso, ele diz que ficava quase o dia todo à disposição da física: “A minha rotina era muito baseada no curso. Começava na parte da manhã e se estendia até a noite”, explica.

Após quatro anos, João deu início ao seu mestrado que, segundo ele, ficou complicado quando conseguiu um emprego no Banco Itaú, através de um programa de atração, tendo encontrado dificuldades em conciliar essa atividade com a Universidade, motivo pelo qual a conclusão de seu mestrado demorou mais que o tempo previsto. A pretensão de nosso entrevistado atuar na área fora da Universidade se deveu à antevisão de um possível longo período que deveria dedicar à vida acadêmica e também pela perspectiva de um salário mais robusto. “Eu via as pessoas saindo da USP e tendo boas experiências no setor produtivo, então senti a necessidade de conhecer esse campo”, revela João Luiz. Hoje, como já dissemos, o ex-aluno do IFSC atua como coordenador de risco de crédito do Banco Itaú, onde supervisiona futuros analistas que avaliarão o risco de não pagamento em operações de crédito. Ou seja, quando alguma grande empresa solicita empréstimo, esses analistas estabelecem as regras para que a operação de crédito seja mais “robusta”, garantindo um retorno adequado do valor ao banco. João conta que quando entrou no Itaú, com aproximadamente 24 anos, sentiu bastante insegurança, já que não sabia quais os resultados que poderiam vir dessa função e com que tipo de pessoas iria trabalhar, mas, contrariando esse pessimismo inicial, o ex-aluno do IFSC-USP foi muito bem acolhido e recepcionado pelos colegas na empresa.

Para ele, um jovem estudante, já com mestrado e que ingresse na mesma carreira em que ele começou atuando, poderá ganhar aproximadamente R$ 6.000,00. João Luiz revela que está feliz com o seu trabalho, até porque ele traz desafios e bastante conhecimento. “Hoje, penso em investir muito na área em que estou. Minha expectativa é crescer, seja no Banco Itaú ou em outra empresa”. Além do desejo de crescer cada vez mais na empresa, João revela que ainda pretende realizar seu doutorado quando tiver mais tempo disponível para poder conciliá-lo com o trabalho. Aos novos ingressantes do IFSC-USP, o ex-aluno de nosso Instituto aconselha que eles agarrem todas as oportunidades que encontrarem dentro da própria Universidade e que aproveitem os professores e as ferramentas disponíveis no Instituto. Outra dica valiosa é que os estudantes utilizem o tempo disponível para estudarem e que não deixem o tempo da graduação simplesmente passar.

Nelson Mesquita Fernandes

Graduação: IFSC – Bacharelado em Física / Habilitação: Teórico-Experimental
Doutorado Direto – IFSC – Programa de Pós-Graduação em Física / Área: Física Básica
Atividade profissional atual: Especialista de risco no Itaú/UNIBANCO

O atual coordenador de validação de modelos de risco de mercado do Itaú-Unibanco, Nelson Mesquita Fernandes, de 32 anos, nasceu em Santos, (SP), mas mudou-se para São Carlos quando decidiu cursar Bacharelado em Física no Instituto de Física de São Carlos. Até aos 12 anos de idade, Nelson viveu em Santos, onde realizou grande parte do ensino fundamental no Colégio Santa Cecília, tendo–se mudado, ao 18 anos, para a cidade de Birigui, interior de São Paulo, onde concluiu os ensinos fundamental e médio no Instituto Noroeste de Birigui. Nessa época, Nelson já demonstrava grande interesse na área de ciências exatas, mesmo tendo facilidade com as demais disciplinas. Assim que finalizou o ensino médio, sua decisão foi ingressar na Universidade de São Paulo, tendo escolhido a USP de São Carlos, pois já tinha recebido boas indicações da cidade e do campus universitário. No princípio, Nelson queria cursar Engenharia, mas, em razão da grande concorrência, cogitou fazer matemática. “Minha amiga recomendou que prestasse vestibular para ingressar no IFSC, porque, além da matemática, eu poderia aprender física. Achei uma boa ideia e prestei o vestibular para estudar no Instituto”, conta ele. O pesquisador diz que ficou bastante surpreso, positivamente, quando ingressou no IFSC-USP, porque teve a oportunidade de aprender com excelentes docentes. Pelo fato de ter realizado sua iniciação científica logo no segundo semestre do curso, Nelson Fernandes não precisou fazer mestrado quando terminou a graduação, tendo realizado o doutorado no laboratório de neurobiofísica, sob orientação do Prof. Dr. Roland Köberle, do Grupo de Física Teórica do nosso Instituto. O ex–aluno do IFSC-USP explica que resolveu realizar o doutorado porque os físicos que possuem essa formação são mais valorizados, tanto na área acadêmica, quanto na industrial. “Tenho a impressão de que o físico, apenas com a graduação, não tem a possibilidade de seguir carreira. É difícil conhecer um físico que não tenha concluído doutorado”, afirma. Na época em que estudava no Instituto de Física de São Carlos, ele não descartava a possibilidade de atuar na academia, mas as chances de trabalhar no setor industrial foram maiores. Nelson teve dificuldades para encontrar um emprego no mercado, já que a maioria das empresas, naquela época, buscava profissionais com formação em matemática, estatística ou engenharia. Antes de finalizar seu doutorado, encontrou um anúncio de uma empresa que precisava de um físico com doutorado. “Mandei o meu currículo para esse fundo de investimento privado, em São Paulo, após uma semana, fui contratado”, revela.

O ex-aluno do nosso Instituto trabalhou durante quatro anos nessa empresa, onde teve a oportunidade de aprender muito, tendo desenvolvido modelos de investimentos. Posteriormente, ingressou no Itaú-Unibanco, em São Paulo, onde trabalhou como especialista de validação de modelos de risco de mercado. Após um ano na empresa foi promovido ao cargo de coordenador dessa mesma área, onde atualmente supervisiona uma equipe de quatro colaboradores. Seu próximo passo é continuar investindo no setor de gestão, para que, no futuro, possa atingir o cargo de gerente da área de validação da companhia.

Segundo Nelson Fernandes, um físico com doutorado, em início de carreira, poderá auferir em torno de cento mil reais por ano, no setor financeiro, enquanto que um coordenador de risco, tal como ele, poderá faturar aproximadamente duzentos mil reais, anualmente. Contudo, seu conselho para aqueles que já frequentam nosso Instituto, ou que queiram ingressar, e cujo objetivo seja trabalhar no setor financeiro, é que se dediquem e aproveitem a excelente qualidade dos docentes e pesquisadores do Instituto de Física de São Carlos, pois é difícil encontrar uma instituição que se iguale a esta em termos de qualidade.

Eduardo Gomes da Silva

Graduação: EESC – Engenharia Elétrica
Mestrado: IFSC – Programa de Pós-Graduação em Física / Área: Física Aplicada
Atividade Profissional atual: Gerente comercial na Toshiba

O engenheiro Eduardo Gomes da Silva graduou-se na Escola de Engenharia de São Carlos – USP e em seguida realizou seu mestrado, em física, no IFSC, para seguidamente se estabelecer em São Paulo, onde iniciou sua carreira profissional numa empresa de segurança, aos vinte e sete anos. Após atuar na empresa paulista, percebeu que tinha um diferencial, consubstanciado no conhecimento na área de física médica, o que o fez procurar uma colocação nas grandes empresas do setor de equipamentos de radiologia. Atuou por dois anos na área de manutenção de equipamentos de raios-X e ressonância magnética na Toshiba Medical e, posteriormente, mudou seu rumo para a área de marketing na Phillips Medical, atuando em raios-X e ultrassom, por mais dois anos. Seguidamente, Eduardo trabalhou por treze anos na empresa GE Healthcare, onde atuou como gerente de produto de ressonância magnética, gerente comercial regional e, finalmente, ao longo de cinco anos, ocupou o cargo de diretor comercial responsável pela América Latina em ressonância magnética, onde foi responsável pelo faturamento anual de USD 120 milhões; em 2013, regressou à Toshiba, onde hoje responde pela gerência comercial no Brasil, para todas as linhas de produto.

De forma bem-humorada, o ex-aluno do IFSC não esconde a verdade quando conta o real motivo pelo qual escolheu a área técnico/comercial: “Foi por causa da maior remuneração e pelas melhores oportunidades de carreira”, comenta nosso entrevistado. Para ele, um engenheiro que está começando na área profissional para trabalhar com manutenção, por exemplo, pode auferir de quatro a cinco mil reais, enquanto que, se escolher a área comercial, além desse salário, ainda recebe uma comissão. Para Eduardo, o físico deve procurar opções fora da academia, uma vez que há diversas áreas que podem ser exploradas dentro da física. Na área da medicina, por exemplo, um especialista pode atuar no controle de qualidade de diversos equipamentos e de todos os processos inerentes a raios-X, tomografia ou medicina nuclear, PET, além da radioterapia. No sul do Brasil existe uma grande tradição na área da física médica, em clínicas radiológicas e hospitais. Nessa parte do país existem físicos que cuidam das partes relativas a imagens, para que os técnicos possam usar os equipamentos de raios-X da melhor forma, para que hajam menos prejuízos para os pacientes, para que melhorem a durabilidade dos tubos de raios-X, mantendo, também, uma melhor qualidade de imagem para o diagnóstico. Esse modelo está começando a ser adotado também em São Paulo e nos demais estados, sendo um mercado profissional em crescimento, com muitas oportunidades.

Segundo Gomes, na medida em que o físico aprofunda seus conhecimentos, começa a ser visto como alguém que entende de tecnologia e que é capaz de opinar, com segurança, na hora da aquisição desses equipamentos, com capacidade técnica para fazer comparações de performances e descobrir as melhores tecnologias para as necessidades da clínica /hospital, otimizando o investimento inicialmente programado por ela. Ainda usando o sul do país como exemplo, existem muitas empresas criadas por físicos que prestam consultorias às clínicas e hospitais, não só no momento da aquisição dos equipamentos, como também para manter/melhorar o padrão de qualidade da radiação, processamento das imagens e revelação dos filmes, motivo pelo qual a física médica já se estabeleceu fortemente. Contudo, segundo o ex-aluno do IFSC, resta ampliar essa vertente pelo Brasil todo: “É um trabalho de alto valor, reconhecido principalmente no sul do Brasil, onde os físicos têm mais tradição em atuar e são bastante reconhecidos, mas a tendência que esse trabalho cresça cada vez mais em todo o país”, diz Eduardo Gomes. Por outro lado, existem diversos produtos novos no exterior e, para aqueles que se aventurarem na carreira de física médica, existe a possibilidade de trazerem esses produtos para serem comercializados no Brasil e ganhar dinheiro, sendo, por isso, um mercado totalmente aberto.

Atualmente, Eduardo pensa em ter uma vida mais tranquila, mudar-se para o interior do estado de São Paulo, fazer um doutorado e até se dedicar a algum serviço próprio, como montar uma empresa: “Eu não sei se esse sonho vai ser realizado brevemente, ou não. Neste momento, estou ajudando a Toshiba com a experiência que possuo, meu plano mais imediato é trazer um bom resultado para a Toshiba nos próximos vinte e quatro meses e depois disso logo verei o que vou fazer”, revela o nosso entrevistado. Para ter sucesso na vida profissional, Eduardo afirma que dominar o idioma inglês foi fundamental para sua carreira: “Fez toda a diferença. Se eu não soubesse inglês, não teria conseguido os meus primeiros empregos na área comercial, por exemplo. Então, isso básico. Se foi fundamental para mim, há dezesseis anos, hoje é ainda muito mais importante, com a abertura do mercado globalizado”, enfatiza Eduardo.

Algo que contribuiu e que também fez muita diferença em sua carreira foi o fato de Eduardo ter sido voluntário do Centro de Valorização da Vida (CVV), serviço onde os colaboradores conversam com pessoas que passam por momentos difíceis, como fases de depressão. “Durante um ano eu fui voluntário do CVV, em São Carlos. Isso me deu uma vantagem profissional na área comercial, porque um bom profissional da área de vendas tem que ser capaz de escutar muito bem o cliente e entender como ele se sente na hora de fazer uma compra, como ele pensa, o que valoriza; saber escutar bem e conseguir colocar-se no lugar do cliente (empatia) é um grande diferencial”, explica Eduardo Gomes.

Para os alunos do IFSC, Eduardo adverte que todos têm que aproveitar ao máximo o aprendizado, olhando sempre para onde o mercado exterior se move, além de terem a necessidade de conquistar uma habilidade prática: “Isso dará a eles um diferencial muito grande, porque os alunos terão um conhecimento profundo de um tema importante que pouca gente domina. Foi isso o que aconteceu comigo: eu tinha conhecimento profundo em ressonância, área que estava começando a despontar no Brasil e que ninguém sabia o que era. Além disso, eu tinha habilidade comercial e muito boa capacidade de escutar o cliente e entendê-lo. Isso fez de mim uma pessoa muito diferenciada no mercado de trabalho e hoje sou muito reconhecido por isso”, finaliza.

Tiago Almeida Ortega

Graduação: IFSC – Bacharelado em Física / Habilitação: Óptica e Fotônica
Mestrado e Doutorado (em andamento): IFSC – Programa de Pós-Graduação em Física / Área: Física Aplicada
Atividade profissional atual: Pesquisador de equipamentos agropecuários na start-up Agrios

Para o piracicabano Tiago Almeida Ortega, que cursou Física com ênfase em Óptica e Fotônica, no nosso Instituto, a paixão pelas ciências exatas germinou no final de seu ensino fundamental, em uma escola Salesiana. Quando terminou o fundamental, Tiago mudou-se para o colégio CLQ Objetivo, onde, se defrontou com um conjunto de professores de matemática, biologia, física e química que eram excelentes e muito bem formados, com a particularidade de sempre incentivarem os alunos a atingir novos objetivos. Tiago, que sempre teve o apoio dos pais e de seus professores para seguir uma carreira relacionada com ciências exatas, diz que resolveu estudar em nosso Instituto imediatamente após ter pesquisado o conteúdo das disciplinas do curso, tais como Mecânica Quântica e Física Moderna, áreas que atraíram fortemente o jovem pesquisador. Quando ingressou no IFSC-USP, Tiago, assim como a maioria dos estudantes, não sabia qual área profissional que iria seguir: “Eu ainda não tinha certeza se queria ser professor ou pesquisador, já que naquela época não era capaz de enxergar grandes expectativas para os físicos trabalharem fora da academia no Brasil”, conta o nosso entrevistado.

No começo do segundo semestre, Tiago foi monitor em uma das edições da Escola de Física Contemporânea (EFC) e, na ocasião, acompanhou atentamente uma palestra do Prof. Dr. Jarbas Caiado de Castro Neto, docente de nosso Instituto, cujo foco era a criação de empresas voltadas para a área da óptica. Após assistir ao seminário, Tiago ficou encantado com a possibilidade de, ao contrário do que pensava até aí, poder atuar como físico na indústria. Foi como se uma porta se tivesse aberto. Assim que se formou, Tiago iniciou um estágio na empresa são-carlense Opto, que, posteriormente, o efetivou. Aí, ele realizou pesquisas e desenvolveu lasers de estado sólido para cirurgias e sistemas ópticos para oftalmologia. O jovem pesquisador fez seu mestrado dentro da empresa, orientado pelo Prof. Jarbas, e mais tarde optou por regressar ao IFSC para trabalhar com o Prof. Dr. Vanderlei Bagnato, no desenvolvimento de um sistema de Raio-X digital para a área odontológica. Seis meses depois, a convite de Jarbas Neto, Tiago voltou para a Opto, como gerente de linha de montagem, mas sem abandonar a sua intenção de continuar os estudos: “Nesse semestre, volto ao IFSC para trabalhar com o Jarbas e o Vanderlei em um novo projeto de meu doutorado”, sublinha o ex-aluno do IFSC.

No começo de 2013, Tiago e mais três sócios – dois engenheiros eletrônicos e um mecânico – decidem aventurar-se na criação de uma startup – a empresa AgriOS – Agricultural Optronics Systems -, voltada ao desenvolvimento de equipamentos para instrumentação agropecuária, tendo estabelecido uma parceria forte com o laboratório da Profa. Débora Milori (Embrapa) que, segundo Tiago, possui uma sólida linha de pesquisa nas técnicas ópticas e fotônicas para identificação de doenças de plantas e sistemas biológicos, e verificação de streses, entre outros: “A Embrapa estava em busca de um parceiro para viabilizar esta tecnologia, em forma de produto comercial, e foi com esse objetivo que firmamos a parceria. Foi um desafio, pois tínhamos bastante conhecimento na área de tecnologia, mas muito pouco na de aplicação. Porém, devido a importância do Agronegócio para nosso país e a carência de tecnologias no setor, não tivemos dúvida quanto a viabilidade do empreendimento.” De acordo com o ex-aluno do IFSC-USP, o difícil não é abrir uma empresa, e sim, mantê-la ativa, salientando que o que viabilizou o futuro próximo da empresa foi o indispensável apoio da FAPESP, numa modalidade destinada exclusivamente para pequenas empresas, no valor aproximado de R$ 500.000,00, que se estenderá até o final de 2015. O equipamento (portátil) que está sendo desenvolvido pela AgriOS proporciona um diagnóstico rápido de doenças em laranjas, devendo começar a ser comercializado até o final de 2015. Quanto aos planos futuros, Tiago diz que pretende finalizar seu doutorado, continuar investindo no crescimento de sua empresa e voltar à Universidade como colaborador: “Essa minha intenção tem a finalidade de ajudar a transmitir aos alunos que eles podem gerar sua própria riqueza e emprego. Esse foi o caminho que as grandes nações seguiram”. Segundo ele, a graduação é uma época muito rica e os alunos devem aproveitar essa fase para construir amizades, adquirir novos conhecimentos e aproveitar os ensinamentos que os professores transmitem. Tiago afirma que os estudantes devem absorver o máximo de conhecimento, porque eles serão cobrados por isso, no futuro. Tiago ainda sugere que os alunos deixem suas próprias marcas na Universidade e ajudem a construir um país melhor. Sobre o empreendedorismo, nosso entrevistado afirma que é algo que se aprende, se ensina e se doutrina a realizar: “Eu acho que falta muito disso na nossa realidade cotidiana”, conclui.

Ivan Silvestre Paganini Marin

Graduação: IFSC – Bacharelado em Física / Habilitação: Informática
Mestrado: IFSC – Programa de Pós-Graduação em Física / Área: Física Aplicada / Opção: Física Computacional
Atividade profissional atual: Data Scientist na CATHO

Mais do que paixão pela ciência, o que Ivan Marin sempre teve foi curiosidade por aquilo que o rodeava, como tudo funcionava, o que podia acontecer quando algo era desmontando e montado, se podia – ou não – derreter coisas, como bolinhas de gude (o que apavorava seus pais!) e de que forma podia medir e inferir esses fenômenos que, na época, eram muito interessantes. Mas, para este menino, hoje com 32 anos e natural de São Paulo, cidade onde desenvolve a sua profissão de cientista de dados/especialista em inovação na empresa Catho, sua curiosidade era não apenas por coisas físicas, mas por lugares também, como, por exemplo, saber como as pessoas viviam em um deserto (“é tudo seco lá! Não chove!”), até como seria viver no espaço. O designado “pulo do gato” veio com ficção científica, quando, certa vez, seus pais o deixaram assistir a alguns filmes, como “Jornada nas Estrelas – O Filme” e “Guerra nas Estrelas”. “O espaço e astronáutica não pararam mais de me fascinar. E para chegar lá? Ciência!”, afirma Ivan ao recordar o início do seu ensino fundamental em São Paulo, capital, com mudança de toda a família para a cidade de Araraquara onde estudou na escola Diálogo, tendo mudado posteriormente para o Colégio Progresso, até à quarta série, e depois para outras duas escolas distintas na rede pública – Léa de Freitas Monteiro e Dorival Alves.

A educação dada pelos pais de Ivan Marin foi pautada pela liberdade do jovem poder seguir sua curiosidade, sempre facultando a ele livros, enciclopédias e, mais tarde, o acesso à Internet. Contudo, houve alguém que o marcou muito nos primeiros anos de seu aprendizado. “Uma professora do fundamental – Sandra – foi muito importante em direcionar essa curiosidade para alguns objetivos mais científicos, com foco em experimentos. Ela foi a primeira a me indicar que, para se descobrir alguma coisa, tinha que se experimentar e não acreditar apenas nos livros e em pessoas. Ela também ajudou bastante em me mostrar como o meio ambiente é importante”, ressalta Ivan Marin. Embora aplicado nos seus estudos, o jovem estudante debateu-se com algumas dificuldades. Apesar de ter estudado em escolas particulares e públicas e embora o conteúdo das disciplinas nunca tivesse sido um problema, Ivan lutava, de alguma forma, com dificuldades relacionadas com o foro pessoal, que só depois de muito tempo foi relacionado com dislexia. “Esse estado não interferiu muito no meu desenvolvimento, com exceção de que, na leitura, eu demorava sempre duas vezes mais tempo para entender – eu lia muito rápido para terminar logo, mas não entendia nada! – e ninguém conseguia ler o que eu escrevia, nem eu mesmo. Mas só fui ter esse diagnóstico de dislexia anos depois, já adulto, e aí já era tarde”, pontua nosso entrevistado.

Avançando nas recordações até à data do seu ensino médio, Ivan comenta que esse período foi igual ao de todo o mundo, ou seja, estranho e interessante ao mesmo tempo! “Tive várias experiências legais com ciência, como um laboratório de biologia, instituído pela escola onde fiz o colegial. Eu não precisava ir, não era obrigatório, mas a chance de estudar e aprender em um ambiente de laboratório era uma chance que eu não podia perder. Abracei e comecei a ir ao laboratório fora dos horários letivos, com o incentivo do professor da disciplina. Fiz várias experiências lá, tive a chance de ir até o laboratório de anatomia da UNESP, de Araraquara, que foi uma visita muito bacana, pois como éramos uma turma bem pequena, nos deixaram ficar bastante tempo e até manipular as peças, com a supervisão de professores da universidade”, recorda Ivan. Outra experiência muito interessante, relatada pelo ex-aluno do IFSC, foi com um professor de História, que o incentivou a estudar keynesianismo e welfare state, também fora do período normal, por forma a que entendesse melhor as perguntas que surgiam em sala, tendo-se formado um grupo de estudo muito próximo à imagem tradicional de uma iniciação científica, no terceiro colegial. “Ainda lembro a decepção deste professor quando falei que ia fazer física… Ele tinha certeza que eu ia fazer História!”, complementa Ivan.

Antevendo sua entrada para a universidade, a escolha de Ivan pela física foi uma decisão tomada tendo em vistas vários fatores, sendo que alguns deles só surgiram quando o jovem estava preenchendo a ficha de inscrição da universidade. Sabia que ia fazer pesquisa, sabia que seu sonho era querer ser algo parecido com um cientista… Mas, física? Ele gostava (e ainda gosta) de vários assuntos, não somente de física, como, por exemplo, de computação, tendo, inclusive, desenvolvido alguns pequenos trabalhos no colegial, mas física surgiu pela influência de dois eventos: o primeiro, através de um professor no colegial (Adriano), que mostrou ao jovem que, pensar com calma nos problemas de física ajudaria em quase qualquer outro problema e como modelar matematicamente as questões ajudaria a entender tudo ao seu redor. O segundo veio na decorrência de uma ideia fixa do jovem, que seu caminho acadêmico seria fazer filosofia. “Fui em uma palestra na UNESP, de Araraquara, que abordou o tema “profissões”, em especial a de filosofia. A professora da palestra me perguntou qual o motivo pelo qual eu gostaria de fazer filosofia e se eu tinha algumas dúvidas. Depois de explicar que sim, que tinha dúvidas e que tinha cogitado também seguir as áreas de medicina, engenharia da computação e física, principalmente, ela me disse: “É mais fácil um físico virar filósofo do que um filósofo virar físico”. Aquilo ficou gravado no meu subconsciente e acabei decidindo por física, mesmo, e a escolha pelo IFSC-USP, em particular, foi porque o campus de São Carlos era mais perto da casa dos meus pais, em Araraquara, e porque a física, na UFSCar, não me atraiu muito…”, afirma nosso entrevistado.

Quanto aos medos e apreensões sentidos no ambiente universitário, Ivan confirma que os anos de graduação são pautados por muitas mudanças, principalmente quando chega a hora de escolher o mestrado e o doutorado, que, no caso dele não foi na física, mas em engenharia hidráulica. No decurso de seu percurso acadêmico, Ivan trabalhou entre o mestrado e o doutorado, fazendo projetos de tecnologia, como consultor, e ainda em supercomputação, tudo isso misturado com diversas questões importantes, como, por exemplo, se ia conseguir entender as disciplinas, se o seu caminho era realmente o de um cientista, se iria ser de fato um físico, ou o que iria fazer depois. Com dois pós-doutorados feitos – um no Brasil e outro no Canadá -, nosso entrevistado conseguiu resistir às ofertas de emprego por forma a continuar na academia, no sentido de conseguir uma vaga como pesquisador ou professor. “Trabalhei como pesquisador em grupos de pesquisa no IFSC-USP até conseguir o primeiro pós-doutorado e a partir daí fiquei atrás de concursos e provas. Mas, ou não abriam vagas que me aceitassem – bacharel em física e doutor em engenharia, o que nem a engenharia nem a física costumam aceitar, apesar de todo o discurso de “multidisciplinariedade” -, ou simplesmente não havia vagas. No Canadá, preferi não ficar por motivos pessoais. Tive propostas para trabalhar nos EUA, mas nenhuma se concretizou, graças a mudanças políticas. Ou seja, depois de muito insistir e insistir nessa área acadêmica precisei escolher minhas prioridades de vida e profissionais, tendo surgido uma oportunidade de colocação no setor privado, que aceitei, e estou até hoje. Mas, o mais interessante de tudo isso é que trabalho como cientista na área privada.” No seu percurso fora da academia e desde o final de sua graduação, nosso entrevistado concretizou diversos projetos de forma independente e muitas vezes sem remuneração, apenas pelo simples fato de poder aplicar os conhecimentos aprendidos e ganhar experiência. Dessa forma, trabalhou com montagem de clusters de computadores, como programador científico em projetos de equipamentos oftálmicos, como consultor em internet, como administrador de sistemas em supercomputadores e até como escritor, para uma consultoria de ciência para jogos. “Sempre estive envolvido em alguma iniciativa para diversificar as atividades. No final, por causa dos contatos e amizades com pessoas da física, surgiu uma oportunidade de trabalho fixo em uma empresa de tecnologia, na qual me mantenho, atualmente”, pontua Ivan.

Por vezes, muitos alunos acabam por se arrepender do caminho que escolheram, o que não foi o caso de Ivan Marin, quando pesou os prós e contras de ir para o setor produtivo, ou seja, trabalhar fora da academia. Segundo o ex-aluno do IFSC-USP, o ambiente fora da academia diferente, muito mais moderno e, dependendo da área, mais tranquilo do que na academia, já que existem métricas de produtividade e uma cobrança com relação a ela, mas isso não é novidade na academia e na academia, muitas vezes, essas métricas são injustas. Todavia, Ivan afirma que, de forma geral, as relações entre as pessoas são mais formais fora da academia. “Eu tive sorte, pois fui trabalhar em uma equipe de inovação, onde quase todo mundo teve uma forte experiência acadêmica, até porque a média de idades é muito baixa, ou seja, é gente muito nova, então o ambiente é excelente, descontraído, produtivo, com muitas discussões tanto técnicas quando de processo”, sublinha Ivan, acrescentando que “processo de trabalho é algo que não se ensina na academia e é fundamental, até para se ter algum controle sobre o que se está produzindo, por exemplo”. Na opinião de nosso entrevistado, a física mostrou-lhe o caminho de como se tornar um cientista, apesar de muitas vezes ter atrapalhado, ao invés de ajudar. Sólidos conhecimentos de matemática e algumas disciplinas da física, como estatística, termodinâmica e eletromagnetismo, foram fundamentais, na opinião de Ivan, que enfatiza a área da computação, classificando-a como determinante. “Sou bacharel em física, com ênfase em computação, diferente do atual curso de física computacional. Saíamos com a formação de físico completo, acrescida de metade de um curso de computação voltada a aspectos práticos da área e isso sempre foi um fator fortemente determinante na minha progressão. Saber alinhar computação com pensamento analítico e ferramentas da física sempre foram um diferencial”, pontua.

Em termos da faixa salarial praticada na sua área de especialização, Ivan comenta que depende muito de onde esse profissional vai ser colocado, qual a sua posição e o que irá fazer. Na opinião do ex-aluno do IFSC-USP, um graduado, habilitado com o curso atual de física, praticamente não tem colocação no mercado, a não ser que ele faça uma ênfase em computação, que saiba programar bem e tenha conceitos sólidos em algumas áreas da física e da computação, e, mesmo assim, irá concorrer diretamente com outras carreiras, como cientista da computação. “Ele vai precisar estar pronto para demonstrar que tem algo a mais além da física e além da computação, mostrar que não fica preso a nenhuma das duas. O que mais escutei sempre foi ‘Quem contrata físico?’ Essa pergunta é errada. Não é quem contrata físico, mas onde o físico quer trabalhar, já que ele tem que desbravar a área onde quer trabalhar e se esforçar para conseguir ser competitivo. Não há um limite superior no que ele pode alcançar, sendo que o caminho depende muito da experiência, das oportunidades”, explica Ivan.

Em termos de expectativas no futuro, Ivan Marin afirma que tem muitos planos, alguns deles envolvendo especializações em algumas áreas de pesquisa consideradas úteis no mercado, e ampliar a faixa de áreas em que pode trabalhar. “Coloquei como objetivo não seguir mais o ritmo alucinado que se espera de um pós-doc ou de um professor recém-contratado, que é estar ligado 24h na pesquisa e na universidade. Existem muitas outras coisas boas que devem ser aproveitadas fora desse ciclo e é possível ser altamente competente e ter sucesso sem precisar comprometer a vida”, afirma o ex-aluno. Por último, para os alunos de graduação do Instituto de Física de São Carlos, ou para os candidatos a ingressar na instituição, Ivan deixa alguns conselhos, como, por exemplo, a necessidade de estudarem de forma inteligente. “Saber resolver o Jackson inteiro não é sinal de que você é um bom físico, apenas serve para provar que você sabe resolver o Jackson. Um bom físico aquele que tem a capacidade de olhar para um problema e ir aprender o que for preciso para resolver esse mesmo problema, seja em outra área da física, seja biologia, seja história! Não se restrinjam a somente o que é dado. Tenham uma base sólida, claro, mas vão atrás de problemas interessantes”, complementa Ivan. Para os novos ingressantes, Ivan Marin aconselha calma e coragem, já que os sustos podem ser grandes, mas, com paciência e perseverança, a física vai fazendo sentido. “Estudem de forma inteligente e a física se torna algo muito mais fantástico!”, finaliza o ex-aluno do IFSC-USP.

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